Otto Lara Resende (1922-1992), o mestre da arte de conversar. Imortal, banqueiro, professor de ginásio (francês, português e história), profesor universitário (comunicação), servidor público (procurador da Prefeitura do Rio de Janeiro).
“o genial frasista de São João”, como o chamou o cronista Sérgio Porto, foi até o fim um homem alegre e mestre da quase perdida arte de conversar, persuadir, ironizar e esculpir palavras.
Pérolas da “loja de frases”
Otto Lara Resende passou a vida repetindo que inventou apenas uma frase (“O mineiro só é solidário no câncer”), pois todas as outras ele “achou por aí”.
Algumas delas:
“Minas está onde sempre esteve, com seu passado, seu presente e seu futuro”.
“O homem é um animal gratuito”.
“Leio muito. Não sou inteiramente uma besta porque sempre tive insônia”.
“A grande contribuição de Minas Gerais para a cultura universal é a tocaia. A tocaia é uma homenagem à vítima. Morre sem aviso prévio, delicadamente, se possível desconhecendo o autor da cilada”.
“O analista é uma comadre bem paga”.
“Chega de intermediários: Lincoln Gordon para presidente (sobre o embaixador americano no Brasil em 1964)”.
“De que nos serve a posteridade, se não seremos contemporâneos dela?”
“Paisagem é verba (diante da mansão de um milionário, construída num lugar cercado de pobreza)”.
“Consegui ser avô de minha filha e pai de minha neta, eliminando a mediação antipática do genro (sobre Helena, filha temporã)”.
“Não sou homem de ter uma opinião no bolso e outra na lepela”.
“Devo ter sido o único mineiro que deixou de ser banqueiro”.
“O sujeito humilde cuja sogra tem reumatismo deformante vê logo que eu sou o confidente ideal, me envolve, me mobiliza”.
“Política é emboscada. Esperar o cavalo passar arreado na ponta, como dizia o Getúlio, grande político”.
“Sou autor de muitos originais e nenhuma originalidade”.
“Sou feito à imagem e semelhança da mulher de trottoir: eu paro com um assobio!
“O homem é dramático porque morre”.
“A morte é o clube mais aberto do mundo”.
“Para mim é absolutamente fundamental que o espetáculo não termine aqui embaixo, na Terra”.
(Fonte: Veja, 6 de janeiro, 1993 Edição n.° 1269 MEMÓRIA/ Por Geraldo Mayrink – Pág; 72/73)