“O mundo não precisa de mais propaganda, precisa é de mais propósito.”
Bruno Brux, diretor executivo de criação da Grey Brasil
Publicitários, como Bruno Brux, diretor executivo de criação da Grey Brasil, mostram como a propaganda mudou nos últimos anos e apontam as inovações que fazem sucesso
“A propaganda como a gente conhecia morreu”. Pode ser uma surpresa ouvir essas palavras da boca de um publicitário, mas Bruno Brux, diretor executivo de criação da Grey Brasil, vai além: “E pior que morrer é se tornar irrelevante, desnecessário”. Para ele, em um momento em que a publicidade passou a atrapalhar e a incomodar o consumidor, é preciso buscar alternativas. “O mundo não precisa de mais propaganda, precisa de mais de pontos de vista e de propósito”, diz.
Exemplo disso, afirma ele, é uma campanha da Reclame Aqui, feita pela Grey Brasil, e que ganhou o Grand Prix em Cannes em 2018. A propaganda soube inovar de forma a criar um serviço para a população: um aplicativo que usasse reconhecimento facial para detectar rostos de políticos — ao vivo, em fotos ou em imagens na internet. O programa informa ao usuário se aquele político é investigado em algum caso de corrupção. “Criar um serviço dá muito trabalho, mas é uma forma de se tornar relevante na vida das pessoas. O que o Detector de Corrupção faz é uma ponte entre a informação que já existe na Justiça e as pessoas”, diz Brux.
Em São Paulo, Bruno Brux e outros publicitários se reuniram no evento Knock Out, do grupo Os Cabeças, para discutir as mudanças pelas quais passou o Festival de Cannes nos últimos anos e para compartilhar as inovações trazidas no evento. Se a publicidade tem se transformado muito rapidamente, as mudanças começam a aparecer também em um dos maiores eventos para o setor. Para Mario D’Andrea, CEO da Dentsu Creative Group e presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP), as mudanças chamaram atenção. “São menos inscrições, menos dias. Abriram mão do dinheiro para manter a qualidade”, afirmou, citando as críticas recebidas pelo evento nos últimos anos.
Segundo ele, as marcas hoje precisam ser mais transparentes ao abraçar uma causa. “Precisamos ter um papo mais profundo. Quando a minha geração tinha entre 30 e 35 anos, um filme bonitinho nos emocionava e a gente amava a marca. Isso não funciona mais”, afirma D’Andrea. Exemplo disso é uma campanha da empresa britânica de mídia LADbible contra a poluição de plástico nos oceanos. A companhia fez uma campanha para que um grande acúmulo de lixo se tornasse um país, a Trash Isles.
Bruno Brux mostrou outro caso de como usar a tecnologia de forma criativa: o Volvo Live Reviews. “Todo mundo sabe que as propagandas de carro são bonitinhas e que as pessoas estão maquiadas e sabem exatamente o que precisam falar”, diz. Mas como essa fórmula não funciona mais, o jeito foi filmar o comercial sem que os motoristas fazendo test drive soubessem que estavam sendo filmados, e transmitir suas reações ao vivo. Além da campanha online, os comentários se tornavam anúncios nos relógios de São Paulo, minutos depois de serem feitos.
E caso fique a dúvida de se é possível inovar mesmo sendo uma grande marca, Bruno Brux dá outro exemplo: a campanha do sabão em pó Tide, da P&G, durante o Super Bowl nos Estados Unidos. A ideia foi mostrar que, se o que as campanhas de sabão em pó têm a mostrar são roupas limpas, qualquer propaganda pode ser um comercial de sabão em pó. Os vídeos começavam como se fossem campanhas de carro ou cosméticos, por exemplo, até que o personagem questionava qual era o produto anunciado — e descobria, no fim, que era um anúncio do Tide.
(Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Marketing/noticia/2018/07 – MARKETING / NOTÍCIA / POR DANIELA FRABASILE – 19/07/2018)