Chico Albuquerque (1917-2000), fotógrafo
O mercado publicitário brasileiro conheceu, em 1948, o fotógrafo Chico Albuquerque, o primeiro a fotografar modelos e produtos para uma campanha publicitária
Um pioneiro do seu tempo. Assim podemos definir o fotógrafo Francisco Albuquerque, conhecido como “Seu Chico” em sua terra natal, o Ceará, e como Albuquerque, em São Paulo, cidade onde fez carreira. Foi em São Paulo que o fotógrafo marcou o seu nome na história da fotografia publicitária brasileira. Um dos primeiros fotógrafos a trabalhar no ramo da publicidade, Chico fez escola não só na capital paulista, como também em sua terra natal para onde retornou aos 60 anos de idade. Albuquerque exerceu a profissão para a qual tinha um dom nato até os últimos dias da sua vida. Fotografou sua última campanha, em 2000, para a Del Rio, aos 83 anos. Sua relação com a fotografia começou cedo e se estendeu para mais de 60 anos.
Aos quinze anos, em Fortaleza, Albuquerque realizou seu primeiro documentário de curta-metragem e aos 17 anos já atuava como fotógrafo profissional. Aprendeu sobre composição e a divisão áurea do triângulo na prática e teve como um dos seus mestres o grande cineasta norte-americano Orson Welles. Albuquerque foi convidado em 1942 para fazer a fotografia do filme Its All True, longa inacabado de Orson Welles. It´s All True estava baseado no Brasil e tinha como história principal a saga dos jangadeiros cearenses Jacaré, Tatá, Mané Preto e Mestre Jerônimo. Em 1941, os quatro realizaram a travessia de Fortaleza ao Rio de Janeiro na jangada São Pedro. O feito tinha como intenção chamar a atenção de Getúlio Vargas, já que os jangadeiros não tinham os benefícios da legislação trabalhista. Durante a filmagem da cena da chegada da jangada no Rio de Janeiro, um acidente acabou tirando a vida de Jacaré. Abalado com o acontecido, Welles abandonou as gravações e voltou com sua equipe para os Estados Unidos. Porém, Chico Albuquerque ficou marcado para sempre pela luz e pelo cenário do litoral cearense. As imagens e a fotografia de It´s All True permaneceram intactas na mente de Albuquerque por 10 anos. Em meados da década de 50, o fotógrafo retornou a Fortaleza, onde realizou um dos seus mais reconhecidos ensaios. Albuquerque voltou suas lentes para a tradicional praia de Mucuripe. Seu olhar registrou, além da bela paisagem, também a vida dos jangadeiros, as relações de amizade e o seu cotidiano, enfatizando a luta pela sobrevivência e a importância do mar na vida daqueles homens.
Albuquerque chegou em São Paulo em 1945 para ser o grande precursor e mestre da fotografia de publicidade brasileira. Ele fotografou pela primeira vez modelo e produto para uso em uma campanha da Johnson & Johnson, da agência J.W. Thompson, em 1948. Até então as campanhas publicitárias eram concebidas apenas com o uso de ilustrações e desenhos. Também foi “Seu Chico” o responsável pela inovação técnica na fotografia de publicidade. Sempre à frente do seu tempo, o fotógrafo foi o primeiro a importar flashes eletrônicos para o Brasil, em 1958. Segundo Bob Wolfenson, Albuquerque inaugurou a profissão do fotógrafo publicitário no Brasil. “Também foi pioneiro na feitura das coisas, porque tecnicamente as condições eram muito piores que hoje”.
Depois da publicação da primeira fotografia em anúncio publicitário, Albuquerque não parou mais. A partir de então, conta o fotógrafo e cineasta Zaragoza, ele começou a fotografar todos os layouts para empresas como a Gessy Lever e Tecidos Matarazzo. “Foi aí que começou a revolução de mudar ilustrações por fotografia”, afirma Zaragoza. Todo esse material fotográfico, principalmente as imagens produzidas na década de 50, estão agora sendo apresentadas para o público na exposição Chico Albuquerque Retrospectiva no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Na capital paulista a exposição segue até 27 de novembro, depois a mostra seguirá para outras nove capitais brasileiras. A exposição tem curadoria de Patrícia Veloso e apresenta, além das fotografias publicitárias da década de 50 que você confere nessas páginas, imagens que vão desde as mais belas praias cearenses até retratos de personalidades como Juscelino Kubitschek e Burle Marx. Após a sua morte, em 2003, o Instituto Cultural Chico Albuquerque, com sede em Fortaleza, ficou responsável pela conservação e divulgação do acervo deixado pelo fotógrafo.
(Fonte: www.photomagazine.com.br – Chico Albuquerque Retrospectiva)