O primeiro autor de um romance ambientado em Belo Horizonte, A Capital

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Antonio Avelino Fóscolo (Sabará, 1864 — Belo Horizonte, 1944), anarquista e escritor brasileiro, passado à história da literatura brasileira por ter sido o primeiro autor de um romance ambientado em Belo Horizonte, A Capital, cuja ação se passa nos primórdios da construção da cidade.

Biografia

Avelino Fóscolo pertenceu à chamada estética do naturalismo tardio da literatura brasileira, isto é, na virada do século XIX para o século XX, cujos livros foram todos encenados nas Minas Gerais. Era descendente por parte de sua bisavó de Ugo Foscolo, famoso escritor italiano.

Em suas obras há a preocupação da denúncia social motivada pelas desigualdades sociais, a escravatura e ainda casos de suicídio, estupro e castração, típicos da tendência literária a que pertenceu.

Foi uma personalidade errante. Saiu de casa ainda adolescente e logo ingressou na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, onde trabalhou por alguns dias. Destacou-se também como ator de circo e percorreu alguns países da América Latina, representando espetáculos de sua autoria.

Em Sabará, Fóscolo inicia sua carreira jornalística e literária na década de 1880, envolvendo-se nas lutas abolicionista e republicana.

“Era um anarquista de carteirinha”, conta a professora Letícia Malard, autora de uma biografia do escritor mineiro. Fóscolo deixou outros seis romances, que abordavam temas como a liberdade sexual feminina no início do século e os últimos momentos da escravidão em Minas Gerais.

A partir do início do século, em Taboleiro Grande, adere ao anarquismo. Exercendo o ofício de farmacêutico, aproveita o espaço de seu estabelecimento para a difusão de suas concepções. Funda jornais, bibliotecas e grupos teatrais. Em seus escritos, lida constantemente com a figura do semeador. Em 1915, muda-se para Belo Horizonte.

Passou grande parte de sua vida na cidade mineira de Tabuleiro Grande, hoje Paraopeba, onde exerceu a profissão de farmacêutico, e onde também se casou com Maria Gonçalves Ribeiro, união que lhe deu dez filhos. Teatrólogo brilhante desde a infância, jornadeou por Minas, como comediante e fixou-se definitivamente em Belo Horizonte, onde faleceu. Dirigiu jornais e revistas, colaborando em diários no Rio de Janeiro.

Fato curioso acontecido em sua vida, quando ainda morava em Tabuleiro Grande, é o que vem sendo relatado dentro da própria família, ou entre antigos moradores de Paraopeba, a cada geração: Como era farmacêutico, e embora já casado e com vários filhos, Avelino partiu para a Alemanha para fazer cursos de especialização na Bayer, o que aliás lhe valeu, mais tarde, a criação de várias novas fórmulas de vários medicamentos. Decorrido algum tempo de sua estada na Alemanha, chegou a Taboleiro Grande a notícia de que “Seu” Avelino havia falecido na Europa. Para a numerosa família e a comunidade, foi um grande choque. Rezadas todas as missas de praxe, dona Mariquinha — como era chamada sua esposa — vestiu-se de preto e assim, também, o fez toda a família. Não tardou muito, entretanto, para que um viajante de Tabuleiro, cavalgando pelas trilhas de burro da região, vislumbrasse, ao longe, a figura de um homem que se assemelhava à de Avelino. Quando constatou que a figura era, realmente, idêntica, imediatamente deu a volta, e galopando pelas ruas empoeiradas de Tabuleiro, gritava para todos: “Eu vi a alma do Seu Avelino…., eu vi a alma do Seu Avelino”. Mas, logo em seguida Avelino entraria, vagarosa e serenamente — como lhe era peculiar — na vila de Taboleiro, cavalgando sua montaria. Segundo consta, foi uma verdadeira festa para a família e a comunidade. A notícia de sua morte foi resultado de uma mensagem truncada entregue, por erro, à sua família. No entanto, conjecturou-se que o próprio Avelino pudesse, talvez, ter enviado a mensagem com a finalidade de analisar as reações da família e da comunidade, o que lhe daria material para escrever um novo romance. A família e amigos jamais acreditaram nisso em virtude da seriedade, austeridade e respeitabilidade que sempre marcaram a vida de Avelino Fóscolo.

Escreveu diversas obras, entre as quais, A Mulher, em companhia de Luís Cassiano Martins Pereira; O Mestiço (1903), que retrata hábitos sociais de uma fazenda e a triste realidade dos escravos; A Capital (1903), o primeiro romance ambientado em Belo Horizonte, onde denuncia as falcatruas da distribuição de lotes; O Caboclo (1902) e O Jubileu (1920). Além dessas, há o drama social em três atos chamado O Semeador.

LegadoNa opinião de Agripino Grieco, foi ele o fundador do romance social na América do Sul. Augusto Franco ao analisar o romance O Caboclo, entendeu que se tratava de obra naturalista.

Frente aos conflitos sociais da época, sua obra é marcada pela imagem da revolução – como um vulcão prestes a explodir. No final de sua vida, o isolamento e o esquecimento em que Fóscolo cai é expressivo do declínio do anarquismo no Brasil, a partir do final da década de 1920.

Foi membro e fundador da Academia Mineira de Letras (ocupando a cadeira número sete), cujo patrono é Luís Cassiano. O silogeu foi fundado em Juiz de Fora, a 13 de maio de 1909 e seis anos depois transferiu-se para Belo Horizonte. Eduardo Frieiro foi seu sucessor.

Obras:

1890 A Mulher, romance, (com Luís Cassiano Martins Pereira), Typ. Moreira Maximino;
1902 O Caboclo, romance, Bello Horizonte: Imprensa Official;
1903 O Mestiço, romance, Joviani & Comp.;
1903 A Capital, romance, Typographia Universal;
1914 No Circo, romance
1920 Vulcões, romance, Porto, Casa Editora de Carlos Ventura e Comp. Ltda.
1920 O Jubileu, romance, Juiz de Fora: A Commercial João Madeira;
1921 O Semeador, drama em três atos, Bello Horizonte, Typ. Renascença;

Morro Velho (Manuscrito datilografado provavelmente por seu filho Hugo Fóscolo, em 1944, e publicado somente em 1999 pela UFMG;

Bibliografia:

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global.
DUARTE, Regina Horta. A imagem rebelde: a trajetória libertária de Avelino Fóscolo. Campinas, Pontes/Ed. da UNICAMP, 1991.

(Fonte: Veja, 10 de junho de 1970 – Edição n° 92 – LIVROS/ José Oiticica – Editora Germinal – Pág; 92/93)

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