Moreira Salles cria primeiro instituto privado de apoio à pesquisa do Brasil
Instituto com sede no Rio de Janeiro vai incentivar estudos nas áreas exatas
João Moreira Salles e sua mulher criaram fundo de R$ 350 milhões para financiar doutores em Medicina, Biologia, Matemática, Química e Física
1º instituto privado de apoio à ciência
Em meio à crise brasileira, que reduziu os recursos para a ciência, foi anunciado em 22 de março de 2017, o início dos trabalhos do Instituto Serrapilheira. A instituição será financiada pelo documentarista João Moreira Salles, da família fundadora do Unibanco, e sua mulher, Branca Moreira Salles. O objetivo será apoiar pesquisadores brasileiros nas ciências naturais e exatas.
Moreira Salles e Branca doaram R$ 350 milhões a um fundo patrimonial. Seus rendimentos financiarão trabalhos de doutores em áreas como Medicina, Biologia, Matemática, Química e Física. A meta é buscar os melhores de cada área e ajudá-los a chegar a descobertas de destaque mundial. Trata-se da primeira instituição privada brasileira voltada a apoiar esses campos do conhecimento. A divulgação dos estudos será outro foco.
Até o fim do ano, devem ser anunciados os primeiros contemplados. Os recursos começarão a ser depositados em 2018. Serão selecionadas cerca de 140 pessoas, que receberão por volta de R$ 100 mil cada uma. Depois, os mais promissores poderão ganhar bolsas com valor individual de até R$ 1 milhão em três anos. Por ano, serão R$ 15 milhões.
As verbas poderão ser usadas livremente pelos pesquisadores. O destino poderá ser, por exemplo, compra de equipamentos, pagamento de salários de uma equipe ou viagens a congressos. O instituto busca tornar mais relevante a produção científica no País.
“O impacto da ciência brasileira ainda é pífio, com raríssimas exceções. Não temos nenhum Prêmio Nobel, nenhum Abel (de Matemática), só uma medalha Fields ( de Matemática, concedida a Artur Ávila). Há muitos jovens pesquisadores bons e sem nenhum tostão”, disse o engenheiro Edgar Zanotto, professor titular da Universidade Federal de São Carlos, que está à frente do Conselho Consultivo da instituição.
Este conselho, de 12 notáveis, como o matemático francês Étienne Ghys e a geneticista Mayana Zatz, fará as escolhas de cientistas e projetos. A seleção levará em conta gênero, raça e local de origem. O objetivo é que os selecionados não sejam apenas homens brancos e do Sudeste e Sul . O diretor-presidente, o geneticista francês Hugo Aguilaniu, destacou que não haverá cobrança de resultado rápido nem de publicações em revistas científicas. Será respeitado “o tempo da ciência”.
Com doação de R$ 350 milhões do cineasta João Moreira Salles e da linguista Branca Vianna Moreira Salles, Brasil ganha primeiro instituto privado de apoio à ciência. O Instituto Serrapilheira, com sede no Rio de Janeiro, vai apoiar e fomentar pesquisas nas áreas de ciências da vida, físicas, engenharias e matemática.
O nome foi inspirado na camada formada pelo acúmulo de folhas e matéria orgânica que cobre o solo das florestas. A Serrapilheira é a principal via de retorno de nutrientes ao solo. O instituto será comandado pelo geneticista francês Hugo Aguilaniu, do Laboratório de Genética do Envelhecimento da Escola Normal Superior de Lyon, na França.
Aguilaniu foi escolhido entre 138 candidatos que participaram de chamada pública para o cargo de diretor-presidente. “A ideia é ter um número reduzido de projetos, mas que sejam os melhores, de nível internacional, com potencial para serem publicados nos periódicos científicos mais importantes, como Science e Nature. Nosso desejo é incentivar os pesquisadores a fazerem as grandes perguntas de seus campos. Teremos paciência e não exigiremos resultados imediatos”, afirma Aguilaniu, fluente em português.
À frente do Conselho Científico está o pesquisador brasileiro Edgar Dutra Zanotto, do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo. A previsão é de que o primeiro edital seja divulgado no segundo semestre deste ano. “A comunidade científica brasileira tem um porte razoável; são mais de 100 mil pesquisadores com PhD no país. Acho que teremos disputas acirradíssimas por esses recursos e penso que iremos atrair grandes cientistas”, diz Zanotto.
O Instituto Serrapilheira foi criado sob a forma de uma associação civil sem fins lucrativos e vai operar a partir de recursos de fundo patrimonial constituído por doação em caráter irrevogável de Branca e João Moreira Salles no valor de R$ 350 milhões. A aplicação financeira desse recurso viabilizará o funcionamento da instituição. “Se o instituto estiver sendo útil à ciência, nossa intenção é fazer novos aportes dentro de 4 ou 5 anos”, afirma João Moreira Salles.
Em 2014, Moreira Salles e Branca decidiram criar o instituto. “Partimos da impressão de que a ciência não faz parte da imaginação do brasileiro, não ocupa uma posição central na nossa cultura, como ocorre em outros países como China, Índia e Estados Unidos, sem falar na Europa”, explica João Moreira Salles. “Me juntei ao João porque tenho essa mesma percepção de que entre nós o valor simbólico da ciência é baixo”, diz Branca.
Os dois, nos últimos três anos, visitaram agências de fomento, fundações de apoio à ciência e organizações do terceiro setor, além de se reunir com pesquisadores brasileiros para entender quais eram as necessidades do setor e como uma instituição privada poderia operar para melhor atender a comunidade científica.
Moreira Salles espera inspirar outros. “Queremos ser grandes, criar cultura de ciência no Brasil, como é nos EUA, na China.
(Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2017/03/22 – Flávia Ayer – 22/03/2017)
(Fonte: http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral – GERAL – CIÊNCIA – INSTITUTO SERRAPILHEIRA/ Por Roberta Pennafort, O Estado de S.Paulo – 22 Março 2017)