O primeiro movimento literário do Rio Grande Sul

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É atribuído a ela o primeiro movimento literário do Sul e quem primeiro utilizou dos pretos para a publicação de livro na Província do Rio Grande.

17 de junho de 1791 – Delfina Benigna da Cunha, poetisa e precursora da literatura gaúcha, nasce em São José do Norte. A poetisa morreu no Rio de Janeiro em 13 de abril de 1857.

Cega, desde bebê, recebeu instrução adequada, tornando-se escritora. Publicou poesias oferecidas às senhoras riograndenses, em 1834, sendo o 1º livro de versos impresso no RS. Com a morte dos pais, apelou à corte solicitando proteção.

Compôs versos violentos contra Bento Gonçalves durante a Revolução Farroupilha D. Pedro I lhe concedera pensão vitalícia, justificada pelos serviços prestados por seu pai (era capitão).

Desempenhou um grande papel social. Iniciava sua carreira artística apropriando-se de um limitado conjunto de recursos. No entanto, fez de sua capacidade intelectual o seu escudo para vencer as barreiras dos campos de conflitos interiores.

Delfina, que não tinha maiores pendores para as lides domésticas, alfabetizou-se na forma possível às suas contingências e com 12 anos, em 1803, declamava seus versos, demonstrando seu talento, ao invés de portar-se como uma condenada em cativeiro, sem ter cometido delito algum. Dessa forma, também contribuiu para a profissionalização da mulher, que, embora dependente, mostrava um pendor que foi desenvolvido.

Nela percebemos já uma qualificação da mulher para o trabalho, apresentando-se como pessoa capacitada, autêntica, vocacionada e redimensionada para a vida evolutiva em sociedade.
Nestes termos, Delfina Benigna da Cunha foi e será sempre um divisor de águas entre as mulheres capazes e as incapazes, as conscientes e as inconscientes, as autônomas e as dependentes, as produtivas e as consumistas de idéias, palavras e ações.

Dentre todos os escritores nacionais não foi, cronologicamente, a primeira a publicar versos, mas no Rio Grande do Sul foi a primeira mulher a publicar uma coletânea de versos, com várias dezenas de páginas, intitulada Poesias, que dedicou às senhoras rio-grandenses. Este livro, tornado público em 1834, há muito vinha sendo elaborado, tendo em vista a necessidade de revisões diferenciadas quanto à métrica, sonoridade e adequação à verdadeira inspiração da poetisa, cognominada “musa cega”.

É atribuído a ela o primeiro movimento literário do Sul e quem primeiro utilizou dos pretos para a publicação de livro na Província do Rio Grande.
A emancipação dela na literatura está circunstanciada muito antes de suas publicações, devido ao fato de ter ficado órfã de pai em 1826, e de mãe, em 1833. O senso literário da autora desde então redobrou, aliado à força da necessidade de obtenção de ganhos para o próprio sustento.

Passou a ser conhecida, não por divulgações esparsas, em jornais e folhetins, mas por uma série de livros editados.Era uma autora agradecida e generosa, pois dedicava uma poesia a cada pessoa que colabora para a realização de suas obras. Teus feitos, ó gram Rei d’eterna fama.
Dom Pedro I foi seu ídolo e grande protetor. Benigna foi não apenas um exemplo na literatura e no método de publicações, como na apresentação de prelo. Foi antes de tudo um exemplo de vida.

Momento Literário da Vida da Poetisa

Delfina Benigna dedicou-se ao lirismo como é peculiar à poesia, que origina-se dos cantos acompanhados pelo instrumento musical grego, a lira. Até a Idade Média, as poesias eram feitas para serem cantadas, pois nesse gênero literário há sempre a predominância dos sentimentos, da subjetividade. Particularmente podemos dizer que Benigna teceu elegias, onde o canto lírico, de tons tristes, sempre está a revelar sentimentos de mágoas ou mortes.

Em algumas passagens, Delfina atinge a sátira, mostrando o ridículo de certas situações, através da forma de soneto, com catorze versos, distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Sua métrica nesse tema não foge à mais usual prática dos versos decassílabos e alexandrinos, com rima.

Nossa poetisa maior apresenta justamente o pré-romantismo na literatura nacional, eis que esse período de transição atinge as quatro primeiras décadas do século XIX, para em torno de 1836, estabelecer-se delineadamente o Romantismo nacional. Sobrepõem-se os valores sentimentais às leis das convenções sociais.

Benigna Cunha viveu no momento de transição literária que também refletiu as transformações sociais que lentamente vinham ocorrendo.
A Autora viveu ao tempo do final do Período Colonial, tendo recebido em sua formação cultural a influência da literatura portuguesa, tronco de nossas letras enraizadas nos movimentos literários franceses. Destacaram-se escritores baianos, pernambucanos, mineiros e cariocas.
Demonstrou seus anseios de alma de alma perceptiva às contingências da matéria. Suas elucubrações poéticas revelam o pioneirismo intelectual da mulher.

Precursora das mulheres letradas do Rio Grande do Sul, pois aos doze anos, cega, revelou pela vez primeira o fluir de sua aptidão na rima, na improvisação, no uso do vocabulário adequado à ocasião e na beleza transcendental de seu esforço para contribuir beneficamente a um país que ainda delineava seu período de Ouro Literário, qual seja, o século XIX. Foi em 1803 que, dotada de capacidade incomum pairou pelos pagos rio-grandenses, mostrando a altivez de quem bem ao sul do país está sintonizada com nosso país e com nosso universo.

Posteriormente, D. Pedro II continuou mantendo a pensão consignada anteriormente por seu pai e Delfina pôde manter sua existência, de muitas privações mas de infinitas bênçãos literárias, quantos são seus poemas publicados: Florilégio da Infância, Selecta Brasileira, Parnaso Brasileiro, Musas Cegas.

(Fonte: www.alf-rs.org.br)
(Fonte: www.correiodopovo.com.br – ANO 116 – Nº 260 – Cronologia – 17 de junho de 2011)
(Fonte: www.mulher500.org.br)

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