O primeiro vibrador elétrico
O vibrador
Para agilizar as sessões nos consultórios, o médico americano George Taylor patenteou, em 1869, o primeiro vibrador, a vapor, e o batizou de “The manipulator”. Embora fosse um aparelho grande e de aparência assustadora, o aparato levava as mulheres ao orgasmo mais rapidamente, permitindo aos médicos descansar as mãos e atender mais pacientes.
O vapor não durou muito. Em 1880, o médico inglês Joseph Mortimer Granville inventou o vibrador movido à manivela. Aperfeiçoada, a ideia se materializou em 1902 no primeiro vibrador elétrico, lançado pela empresa americana Hamilton Beach.
Nessa época, os vibradores deixaram de ser usados apenas nos consultórios médicos, e as mulheres passaram a tratar a histeria em casa. Ainda assim, o conceito de que aqueles sintomas caracterizassem uma doença só foi abolido pela Associação Americana de Psiquiatria em 1952.
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Nas duas primeiras décadas do século 20, uma variedade de modelos, em todas as faixas de preço e com vários tipos de energia, eram anunciados livremente em catálogos e revistas femininas. O aparelho foi comercializado principalmente para as mulheres para ajudar na saúde e a relaxar, em frases ambíguas, como “Todos os prazeres da juventude…vão pulsar dentro de você”, relata Rachel.
Os filmes pornográficos subverteram essa ideia. Neles, atores começaram a usar o acessório a fim de promover o prazer de suas parceiras. Com isso, a imagem do vibrador ganhou uma conotação negativa na sociedade. Então ele deixou de ser usado e comercializado com finalidade terapêutica. Começou-se a associar a utilização do vibrador com mulheres vulgares, justifica Rose. Logo o aparelho desapareceu das revistas e dos consultórios médicos.
Os fabricantes até tentaram formas mais discretas de divulgar o produto, anunciando seu uso em outras partes do corpo, vendendo-o disfarçado em caixas de aspiradores de pó, e até como um acessório que, uma vez conectado, poderia ser utilizado para outras finalidades, como prova o anúncio A ajuda que toda mulher necessita.
O verdadeiro atributo
Apesar do esforço publicitário, os vibradores sumiram dos impressos respeitáveis e ficaram escondidos até a década de 1960. O vibrador retornou nos anos 60, junto com o conceito de orgasmo visto como prazer, com a revolução sexual feminina da descoberta da pílula anticoncepcional, que mostrava que o sexo não era mais visto única e exclusivamente como função reprodutora, esclarece Rose.
Foi assim que o vibrador passou a ser vendido como acessório sexual, em vez de instrumento médico. Inclusive, pontua Rachel, sua eficácia na produção de orgasmo em mulheres tornou-se um argumento de venda no mercado consumidor. Melhor assim.
Vibradores eram utilizados como remédio contra a “histeria” no século 19
Em um mundo onde o desejo sexual das mulheres era tratado como doença, o vibrador foi apresentado como a cura. Parece mentira, mas não faz tanto tempo assim: o vibrador foi inventado no século 19 para ajudar no tratamento de sintomas atribuídos a uma doença conhecida como histeria. Demorou até que o orgasmo feminino fosse aceito, a psiquiatria abolisse conceitos antigos e o acessório ocupasse um espaço na gaveta de mulheres completamente saudáveis.
A histeria
Nas primeiras décadas do século 19, mulheres que apresentavam irritabilidade, insônia, ansiedade, dores de cabeça, choro e falta de apetite, entre outros sintomas, eram diagnosticadas com histeria, uma doença psíquica tida como exclusivamente feminina. O problema, acreditava-se, era causado por perturbações no útero. Na medicina hipocrática, ao contrário do Egito antigo, um ativo desejo feminino por sexo e seus sintomas – inclusive excitação, fantasias eróticas, lubrificação vaginal e comportamento em geral melancólico ou irracional – eram conhecidos como uma doença chamada histeria – literalmente, doença causada por um deslocamento do útero, esclarece o jornalista Jonathan Margolis em seu livro O: The Intimate History of the Orgasm (“A história íntima do orgasmo”, lançado no Brasil pela Ediouro).
Assim, para amainar a histeria, o tratamento recomendado era a massagem no clitóris, feita diretamente pelo médico, em consultório. Com as mãos, o médico estimulava a paciente até que ela atingisse o paroxismo histérico, conhecido hoje como orgasmo. Depois de uma sessão de gemidos e gritos, a mulher ficava mais calma, e os sintomas desapareciam – pelo menos por um tempo.
Esse mesmo tratamento já havia sido indicado muito antes, em 1653, pelo médico holandês Pieter Van Foreest, quando publicou um compêndio médico com um capítulo sobre doenças femininas. Para a histeria, Foreest aconselhava o auxílio de uma parteira para realizar a massagem na genitália, com um dedo dentro da vagina, usando óleo de lírios como lubrificante.
Essa suposta doença exibia uma sintomatologia compatível com o funcionamento normal da sexualidade feminina, e para a qual o alívio, não surpreendentemente, era obtido através do orgasmo, seja através de relações sexuais com o marido ou por meio da massagem na mesa do médico, explica Rachel P. Maines, cientista visitante na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade de Cornell e autora do livro The Technology of Orgasm: Hysteria, Vibrators and Womens Sexual Satisfaction (A tecnologia do orgasmo: histeria, vibradores e a satisfação sexual das mulheres, em tradução livre).
Nos consultórios
Com ou sem marido, as mulheres passaram a lotar os consultórios médicos em busca da cura para a histeria. E os médicos passavam horas masturbando suas pacientes, preocupados com sua saúde. Para Rose Vilella, psicóloga com formação em sexualidade humana e mestre em ciências da saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além da falta de conhecimento, o orgasmo feminino não era reconhecido devido ao machismo de não enxergar a mulher como um ser capaz de expressar seus desejos e satisfações sexuais. A sexualidade feminina sempre sofreu com a repressão, nesta época principalmente, em que o órgão sexual na mulher era puramente para procriação, ressalta.
Mas a massagem clitoriana era uma tarefa maçante, e muitas pacientes demoravam horas para atingirem o tal paroxismo histérico. Com isso, os médicos começaram a ter problemas nas mãos devido ao esforço repetitivo, e novas alternativas passaram a ser testadas. A primeira delas foi um jato de água diretamente no clitóris. Como o método não rendeu bons resultados, um acessório diferente foi inventado.
(Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia – NOTÍCIAS – EDUCAÇÃO – 20 de Junho de 2013)
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