Oliver Heaviside (1850-1925), cientista e inventor. O telégrafo, espécie de Outlook dos nossos tataravôs, deve muito de seu desenvolvimento a um homem que queria tudo menos ser incomodado por um ser da mesma espécie. Por conta disso, o recluso e esquisito Heaviside se dedicou a imaginar meios de manter vazia a sua sala de visita e, mesmo assim, divulgar suas idéias. Que foram além do telégrafo e chegaram a vários dos, hoje indispensáveis, dispositivos elétricos.
Quando tentam justificar tanto ódio no coração do inventor, os biógrafos começam a decifrar o enigma por meio da conturbada relação que ele tinha com pai, um artesão que sempre tratou o filho com agressividade. Para piorar, quando criança, o menino teve escarlatina, doença que prejudicou seu sistema auditivo – e, com o tempo, foi deixando-o surdo. Somando tudo, não é difícil entender por que Heaviside tinha tantas dificuldades em se relacionar. Isso ajudou a criar nele a aversão ao ambiente estudantil.
Ainda bem que sua repugnância se concentrava nos estudantes, e não nos estudos. Assim, aos 16 anos, apesar de suas notas excelentes, ele abandonou de vez a escola e passou a estudar por conta própria. Interessado em comunicações a longa distância e eletricidade, Heaviside foi para a Dinamarca, onde trabalhou como operador de telégrafos. Mas, em poucos anos, estava de volta à Inglaterra, provavelmente por causa do problema auditivo, que se agravara.
Ao mesmo tempo em que se isolava e se tornava hostil, ele desenvolveu suas teorias com soluções para os telégrafos e para as transmissões elétricas. Esses estudos foram fundamentais para melhora da comunicação a longa distância. Em seus trabalhos, Heaviside usou um método matemático próprio e, com ele, ajudou a criar boa parte da formulação teórica dos cabos telegráficos, da corrente e dos circuitos elétricos modernos.
Como nunca recebera educação formal, apesar de toda a sua contribuição, o inglês foi muito criticado porque seus trabalhos não apresentavam o formalismo matemático que o mundo acadêmico sempre exigiu. Mesmo sem pertencer ao meio científico,Heaviside também deixou contribuições na teoria do eletromagnetismo e previu, muito antes da comprovação experimental, a existência de uma camada refletora na atmosfera. Por causa da curvatura da Terra, ele deduziu que a camada Kennely-Heaviside, hoje conhecida como ionosfera, seria necessária para que os sinais de rádio não escapassem numa trajetória reta para o espaço, mas chegassem a distâncias intercontinentais, como já ocorria em seu tempo.
Sustentado pela família, por amigos e pelo estado britânico, amargo e agressivo, Heaviside trocava as companhias humanas pela dos passarinhos e chegava a insultar os que criticavam seus trabalhos. Cada vez mais estranho, o cientista gostava de lugares escuros e trabalhava em ambientes bem fechados, quentes e apertados. Ele chegou ao cúmulo de manter presa em casa uma pessoa da família, com quem tinha ido morar, quase como uma escrava por seis ou sete anos.
(Fonte: Galileu – Nº 210 – Janeiro de 2009 – EURECA – Grandes cientistas e suas idéias geniais – Pág; 84/85)