Em Tempo de Despertar, um relato lacrimoso sobre um médico que tentou devolver a vida a pacientes que apenas vegetavam
Oliver Sacks (Londres, 9 de julho de 1933 – Nova York, 30 de agosto de 2015), escritor, neurologista e professor do curso de medicina da Universidade de Nova York. Relato autobiográfico inspirou filme com Robin Williams indicado ao Oscar.
O neurologista e escritor best-seller britânico Oliver Sacks, que é descrito como “o aclamado poeta da medicina moderna”, foi o autor de livros de sucesso como “Tempo de Despertar” (1973), adaptado para o cinema em 1990 com Robin Williams e Robert De Niro, “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu” (1985) e “Um Antropólogo em Marte” (1995).
Sacks é autor de importantes obras literárias, entre elas Enxaqueca, O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu e Tempo de Despertar, texto que inspirou o filme homônimo estrelado por Robert De Niro e Robin Williams, indicado a três estatuetas no Oscar.
Em 1973, Oliver Sacks, um médico inglês radicado nos Estados Unidos, publicou um livro relatando o tratamento a que havia submetido um grupo de pacientes do hospital Beth Abraham, em Nova York, onde trabalhava. O livro, batizado de Awakenings (Despertares), imediatamente se destacou entre os tantos volumes do gênero, em que médicos dão subsídios a colegas a partir de suas próprias experiências.
Sacks extrapolou os limites do interesse científico ou acadêmico, e o livro chegou a ser classificado como obra-prima pela crítica americana, pela natureza do que Sacks relatava e a forma como o fazia. O livro era um relato detalhado de sua tentativa de recuperar cinquenta vítimas de sequelas da encefalite letárgica, mas que, entre 1916 e 1927, se espalhou pela Europa e pelos Estados Unidos em forma de epidemia, atingindo cerca de 5 milhões de pessoas e matando um terço delas.
A experiência de Sacks, e seus pacientes é uma montanha-russa de esperanças e decepções, de conquistas e de derrotas, uma viagem com escalas alternadas no céu e no inferno. No verão de 1969, diante do enigma científico que representavam os sintomas retardados da encefalite letárgica, Oliver Sacks arriscou uma teoria.
Analisando as características de uma nova droga que acabara de ser inventada para o tratamento do mal de Parkinson, o L-dopa, ele achou que, se administrasse doses elevadas dela a seus pacientes, poderia induzir seus organismos a sair da letargia.
O resultado da experiência foi impressionante: depois de muitos anos ausentes do mundo dos vivos, os pacientes milagrosamente despertaram de seu sono vegetativo e descobriram o prazer em atividades básicas como falar e caminhar. Muitos acordavam achando que estavam ainda no ano em que foram acometidos pela paralisia e tinham que ser informados de que décadas haviam se passado. Outros rejeitavam as novidades que viam e que não conheciam.
A alegria no hospital Beth Abraham, no entanto, durou pouco. Depois de algumas semanas, os pacientes foram tomados por tiques nervosos compulsivos e alguns deles começaram a apresentar comportamento maníaco. A maioria deles mergulhou novamente em estado de paralisia ou adormecimento. Todos morreram, à exceção de uma paciente que, aos 65 anos, toma doses regulares de L-dopa. Ela permaneceu consciente, embora suas funções motoras se deteriorem gradativamente.
Em Tempo de Despertar, Sacks, rebatizado de Malcolm Sayer, é interpretado por Robin Williams, e quem lhe faz companhia é Robert De Niro, que interpreta a figura central da história, Leonard Lowe, um dos pacientes. Segundo o relato de Sacks, o verdadeiro Leonard ficou doente na infância e era já um estudante da Universidade de Harvard quando foi tomado gradualmente pela paralisia.
Foi internado numa clínica aos 27 anos e despertado por Sacks aos 46. Durante esse período, conseguia apenas ler vagarosamente, quando tinha alguém para segurar o livro e virar suas páginas. No filme Leonard tem direito a uma vida melhor. Tão melhor que, às vezes, fica-se sem saber se Robert De Niro e Robin Williams não trocaram de papel. Na vida real, Lowe tinha períodos de obsessão sexual e tentava seduzir as enfermeiras do hospital a todo o custo.
Obras
Em “Tempo de despertar”, Sacks faz um relato autobiográfico em que conta sua experiência com pacientes que sofrem de uma condição chamada encefalite letárgica. Narra também como, a partir da administração de um remédio de uso controverso, chamado levodopa, os doentes conseguiram sair, pelo menos brevemente, de seus estados catatônicos.
A história foi adaptada em um filme homônimo em 1990, protagonizado por Robin Williams, no papel do médico, e Robert De Niro, no papel de um paciente. O longa teve três indicações ao Oscar.
Em “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, Sacks contou histórias de casos de várias condições neurológicas raras. Em outros livros explorou a surdez, o daltonismo e as alucinações.
Autobiografia
Oliver Sacks nasceu em julho de 1933, em Londres, em uma família de médicos e cientistas (a mãe era cirurgiã e o pai, clínico geral). Sacks formou-se em medicina em Oxford e depois se mudou para os Estados Unidos para fazer residência em São Francisco, na University of California (UCLA). Morava em Nova York desde 1965, onde trabalhou como neurologista.
Em abril deste ano, Sacks lançou sua autobiografia, publicada no Brasil em julho com o título “Sempre em movimento – Uma vida” (Companhia das Letras). Em suas memórias, o autor e neurocientista fala de sua carreira como médico e também sobre a homossexualidade e o vício em drogas na juventude.
“Quando eu tinha 12 anos, um professor bastante perspicaz anotou no seu relatório: ‘Sacks vai longe, se não for longe demais’, coisa que acontecia com frequência”, escreve. “Quando menino, muitas vezes eu ia longe demais nas minhas experiências químicas, enchendo a casa com gases tóxicos; por sorte, nunca incendiei o lugar.”
No trecho em que lembra quando, no final da adolescência, conversou com o pai sobre o fato de ser gay, Sacks diz que pediu pediu segredo. “Mas meu pai contou e, na manhã seguinte, ela [a mãe de Sacks]desceu de cara muito fechada, uma cara que eu nunca tinha visto antes. ‘Você é uma abominação’, disse ela. ‘Quisera que você nunca tivesse nascido.’ Então saiu e passou vários dias sem falar comigo. Quando voltou a falar, não houve nenhuma menção ao que ela dissera (e nunca mais voltou ao assunto), mas alguma coisa mudara entre nós. Minha mãe, tão aberta e que me dava tanto apoio de inúmeras maneiras, era dura e inflexível nessa área.”
Artigo no ‘New York Times’
Pouco antes de lançar “Sempre em movimento”, no artigo do “New York Times”, Sacks escreveu: “Sinto-me grato por ter tido nove anos de boa saúde e produtividade desde o diagnóstico original, mas agora estou de cara com a morte”.
“Agora depende de mim escolher como quero viver os meses que me restam. Tenho que viver da maneira mais rica, profunda e produtiva que puder.”
No ensaio, disse: “Escrevi, viajei, pensei e escrevi. Eu me vinculei com o especial mundo dos leitores e dos escritores. Tenho outros livros quase terminados”.
Sobre o tempo que lhe restava, adiantou que não veria notícias nem prestaria mais atenção nas polêmicas politícas ou no calendário climático.
“Isto não é indiferença, mas desapego. O Oriente Médio continua importando muito para mim, o aquecimento, a crescente desigualdades, mas estes já não são mais meus problemas. Pertencem ao futuro.”
Oliver Sacks morreu aos 82 anos em 30 de agosto de 2015, vítima de câncer, estava em sua casa, em Nova York.
(Fonte: Veja, 20 de março de 1991 – ANO 24 – Nº 12 – Edição 1174 – CINEMA – Pág: 78)
(Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/08 – CIÊNCIA E SAÚDE – Do G1, em São Paulo – 30/08/2015)