Origem de ondas gravitacionais é observada pela primeira vez
Especialistas comprovaram a existência de kilonova, fusão de duas estrelas de nêutrons. Acontecimento inaugura “nova era” de observação e pode aproximar cientistas da origem do universo.
Uma equipe internacional de astrônomos anunciou nesta segunda-feira (16/10) que conseguiu observar, pela primeira vez, a origem de ondas gravitacionais, inaugurando o que os especialistas chamaram de “o início de uma nova era” na observação do universo.
No último dia 17 de agosto, os cientistas testemunharam simultaneamente a luz e as ondas gravitacionais produzidas pela fusão de duas estrelas de nêutrons a 130 milhões de anos-luz da Terra, podendo observar as consequências do fenômeno em vários telescópios.
As observações sugerem que os sinais captados pelos cientistas são resultado de uma fusão chamada de kilonova, cuja existência se postulava há 30 anos, mas que nunca tinha sido provada. Esta é a primeira observação confirmada do fenômeno.
Observação revolucionária
“É realmente emocionante viver um acontecimento assim, que muda a nossa compreensão de como funciona o universo”, disse France Córdova, diretora da Fundação Nacional de Ciências (NSF) dos Estados Unidos.
Durante cerca de dois minutos, os detectores dos observatórios Ligo (Laser Interferometer Gravitational Wave Observatory), nos Estados Unidos, e Virgo, na Itália, registraram pequenas ondas – como se fosse uma oscilação – no espaço-tempo, uma nova dimensão que resulta da fusão entre espaço e tempo, segundo a Teoria Geral da Relatividade do físico alemão Albert Einstein.
Quase ao mesmo tempo, se produziu uma explosão de raios gama, detectada por um satélite da Nasa, que enviou um alerta para a Terra. Os astrônomos da equipe internacional do Ligo e do Virgo calcularam rapidamente o local de origem das ondas gravitacionais, encontrando um novo ponto claro na galáxia NGC4993.
Após as primeiras análises, os especialistas chegaram rapidamente à conclusão de que se tratava de uma kilonova.
“Versão light” do buraco negro
As estrelas de nêutrons podem ser comparadas a uma versão “light” dos chamados buracos negros, que surgem após o colapso de estrelas maciças, definiu reportagem do jornal alemão Süddeutsche Zeitung. As estrelas de nêutrons são sobras de estrelas menores. Quando acaba o combustível dessas estrelas, elas se desmantelam, causando uma pressão inimaginável que derrete prótons e elétrons. Acontece uma violenta explosão. O que sobra é um objeto extremamente comprimido, composto quase que exclusivamente de nêutrons.
A detecção de ondas gravitacionais já havia sido observada – o prêmio Nobel de Física deste ano foi concedido aos americanos Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne pela comprovação da existência de ondas gravitacionais previstas por Albert Einstein há mais de cem anos. Porém, nas quatro ocasiões em que se detectaram essas oscilações que distorcem o espaço-tempo e se propagam com a velocidade da luz, a causa havia sido a fusão de buracos negros.
As ondas gravitacionais são resultado de leves perturbações do espaço-tempo sob efeito do deslocamento de um objeto maciço. Frequentemente, essas oscilações são ilustradas com a imagem de rugas que se propagam na superfície de uma lagoa depois que se joga uma pedra dentro dela. Quanto mais longe se está do local onde a pedra mergulhou, menor é a onda.
“Novos óculos”
Com os detectores Ligo e Virgo, os astrônomos agora possuem novos instrumentos para observar fenômenos violentos – como a fusão de dois buracos negros ou de duas estrelas de nêutrons – no universo e que até hoje não podiam ser observados. “É como ter novos óculos, novos olhos”, afirmou o físico Thibault Damour, do Instituto de Altos Estudos Científicos (IHES), próximo a Paris.
“Elas [as ondas gravitacionais]são produzidas permanentemente. Estamos imersos num fluxo de ondas gravitacionais, mesmo se não nos damos conta”, explica Benoît Mours, diretor de pesquisas do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) da França.
Essa nova astronomia também pode ser definida como “uma janela para o passado”, segundo considera Jon Butterworth, professor de física da UCL (University College London). “Isso não nos permitirá voltar até o Big Bang, mas poderá nos aproximar muito” da origem do universo, disse o cientista.
(Fonte: http://www.dw.com/pt-br – Deutsche Welle – NOTÍCIA – CIÊNCIA E SAÚDE – 16.10.2017)