Osmar Rodrigues Cruz , diretor teatral, foi criador do Teatro Popular do Sesi, em SP
O encenador paulistano foi quem criou o Teatrocriador do Teatro Popular do Sesi, em SP Popular do Sesi em 1963, que até hoje vigora no edifício da Fiesp na Avenida Paulista com produções de alta qualidade oferecidas ao público gratuitamente. Cruz foi diretor do teatro até 1993.
Diretor e fundador do TPS em 1963, Cruz retirou-se da cena teatral há cinco anos, quando deixou a coordenação do TPS.
Foi uma saída “traumática”, segundo ele, “aposentado” aos poucos por causa das mudanças políticas na direção da Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. “Nunca mais voltei ao espaço que ajudei a criar”, afirmou Cruz.
No próximo dia 21 de maio, ele retornará à “casa”, o TPS, dessa vez não para encenar um espetáculo, como as 37 produções que assinou entre 1963-1992, mas para autografar “Osmar Rodrigues Cruz – Uma Vida no Teatro”, em co-autoria com a filha Eugênia.
O livro, um lançamento da editora Hucitec (cerca de 400 páginas, preço a definir), privilegia a biografia teatral. Há poucas pinceladas sobre a vida pessoal do paulistano que, em criança, aprendeu a ir ao teatro com o pai e fez suas primeiras peças na garagem de casa.
Sua trajetória começou em 1945, quando criou o grupo amador Teatro Universitário do Centro Acadêmico Horácio Berlinck, na Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo.
Naquele ano, dirigiu “Adeus Mocidade”, uma opereta italiana de Sandro Camasio e Nino Oxila, traduzida por Oduvaldo Vianna, pai. No elenco, um dos figurantes era o garoto José Alves Antunes Filho, 15, que mascava chiclete em cena e, anos mais tarde, se tornaria um dos mais respeitados encenadores do país. Como o mesmo Antunes, Cruz fez os primeiros teleteatros da extinta Tupi.
No início da década de 50, conquistou o primeiro lugar em concurso do Serviço Social da Indústria (Sesi) e foi contratado como “ensaiador” de operários em fábricas de Santo André (SP).
Em 1958, lançou quatro números da “Revista de Estudos Teatrais”, publicada pela Federação Paulista de Amadores Teatrais, da qual era diretor. São raridades, com artigos de pesquisadores como o italiano Ruggero Jacobbi e traduções das aulas do teórico russo Constantin Stanislaviski.
Um ano depois, surge o Teatro Experimental do Sesi (TES), formado por amadores, um “laboratório” para a companhia estável do Teatro Popular do Sesi, sonho que Cruz acalentava havia anos, inspirado na experiência do diretor Jean Vilar, fundador do Teatro Nacional Popular da França. O TPS veio à luz em 1963 com “Cidade Assassina”, de Antonio Callado, autor comunista que seria perseguido durante o regime militar (1964-1985).
“Os empresários tinham medo do comunismo, mas eu nunca fui censurado. Não era bobo, só montava textos que não traziam “perigo'”, afirma Cruz. E tampouco informava à diretoria sobre a militância dos dramaturgos. Há também o caso de Oduvaldo Vianna, pai, outro comunista que conseguiu encenar, em 1966, com “Manhãs de Sol”.
Plínio Marcos
Após percorrer teatros como o Maria Della Costa, Aliança Francesa, Leopoldo Fróes e o Teatro de Arte Israelita Brasileiro (Taib), esse por sete anos, o TPS ganhou sede em 1977 -avenida Paulista, 1.313, atualmente 460 lugares-, com a montagem do musical “Noel Rosa – O Poeta da Vila e Seus Amores”, de Plínio Marcos.
Para montar o repertório, parte dele em parceria com o cenógrafo Flávio Império, Cruz seguiu a receita de Vilar: casar textos clássicos com autores nacionais. Daí Molière, Marivaux, García Lorca, Martins Pena e Gonçalves Dias, entre outros, e dramaturgos contemporâneos, como Maria Adelaide Amaral e Lauro César Muniz (este, com “O Santo Milagroso”, em 1981, 717 apresentações e 603 mil espectadores, é apontado por Cruz como o maior sucesso de teatro adulto no TPS).
Na outra ponta, o fracasso artístico da companhia foi “Intriga e Amor” (1969), de Friedrich Schiller. “Não consegui fazer nada do que imaginei e errei a partir do próprio elenco”, afirma Cruz.
“O teatro popular deve evitar dois excessos opostos que são inerentes: a pedagogia moral e o diletantismo indiferente que a todo o custo quer impor-se e divertir o povo”, escreve na biografia.
Cruz lembra também do patrulhamento da classe teatral. Afirma que o diretor Augusto Boal, do Teatro do Oprimido, era um dos que o chamava de “reacionário”. Discordava, mas compreendia. “Ele tinha até um pouco de razão, a ditadura foi uma época difícil e não caía muito bem um teatro bancado por industriais.”
Casado com Nize Silva, atriz que participou de várias montagens do TPS, Osmar Rodrigues Cruz dá por cumprido o desafio que o norteou quando da criação do TPS: “Formar um público que não tem condições de pagar para ir ao teatro, por meio de espetáculos artisticamente bem feitos”, e sem maiores ambições estéticas.
Osmar Rodrigues Cruz morreu na quarta-feira à noite o diretor teatral Osmar Rodrigues Cruz, aos 83 anos. Cruz estava internado havia 11 dias no Hospital Albert Einstein e sofria da doença havia aproximadamente 10 anos.
(Fonte: http://digital.odiario.com/cultura/noticia/177687 – 08/04/2007)
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1604200113 – VALMIR SANTOS DA REPORTAGEM LOCAL – TEATRO – FOLHA DE S. PAULO – ILUSTRADA – 16 de abril de 2001)
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