Passos (Chicago, 14 de janeiro de 1896 – Baltimore, 28 de setembro de 1970), novelista e pintor americano John Roderigo Dos Passos, descendente de imigrantes portugueses, nascido em Chicago, no dia 14 de janeiro de 1896. “Cada dia que passa torno-me mais vermelho. Minha única ambição é aprender a cantar a Internacional.” John Dos Passos, 1937. “Acho que a repulsa do povo americano pelo comunismo é só superficial. Afinal, os russos estão impondo um regime que é meramente uma versão menos plausível do que já temos nos Estados Unidos. Bastaria acrescentar uma polícia secreta às já existentes AFL e CIA que ninguém iria notar a diferença. John Dos Passos, 1960.
Como os ponteiros de um relógio, as tendências políticas do novelista americano, moveram-se da esquerda para a direita, a ponto de apoiar a candidatura do senador Barry Goldwater às eleições presidenciais de 1964. O próprio romancista, autor da célebre trilogia “U.S.A.”, dizia, porém, que sempre permanecera no mesmo ponto. “Não acho que eu tenha mudado tanto assim quanto dizem”, afirmou em 1969. “Nunca me envolvi a tal ponto em ideologias políticas. Só as incluí porque faziam parte do ambiente que eu queria descrever”.
De fato, uma análise menos apaixonada das suas obras confirmará que ele denuncia, acima de tudo, a revolta do indivíduo contra imensos sistemas impessoais – da direita ou da esquerda. Descendente, do lado paterno, de um rico advogado filho de imigrantes portugueses e, do materno, de uma família aristocrática do sul dos Estados Unidos, desde criança John Dos Passos viajou vários anos a fio até formar-se pela Universidade de Harvard e servir como voluntário na Primeira Guerra Mundial, conduzindo ambulâncias do serviço médico do Exército americano nos campos de batalha da França. Do horror à guerra surgiria, deste lado da trincheira, sua novela “Three Soldiers”, que completava a mesma condenação da guerra do romancista alemão Erich Maria Remarque com “Nada de Novo na Frente Ocidental”, publicada na Alemanha derrotada. Seu nojo pela guerra e sua desmitificação da “glória bélica” que a circunda artificialmente o tornaram célebre da noite para o dia.
Correspondente na Europa, no México e durante a Guerra Civil na Espanha, Dos Passos pertenceu à “geração perdida” de Hemingway, Scott Fitzgerald e Gertrude Stein, que buscou temporariamente refúgio da América no convívio literário em Paris. Preocupado com o estilo e influenciado pelo recurso de alinhar os pensamentos de seus personagens sem seguimento lógico, à maneira do “Ulysses” de James Joyce, Dos Passos inovou a técnica literária com a inclusão de manchetes de jornais, “cortes” cinematográficos de cenas e canções populares no texto narrativo. Desiludido com o comunismo depois de observar os soviéticos que apoiavam o Exército republicano na Guerra Civil espanhola e de sua visita à Rússia, Dos Passos teve seu nome cancelado na lista dos escritores festejados pela esquerda. Defendendo o anarquismo, ele passou a proclamar que “a própria organização da sociedade é a morte”. Ùltimamente, suas críticas à sociedade dos Estados Unidos e ao “american way of living” tinham sido substituídas por um otimismo crescente e um patriotismo que proclamava o povo americano “vital e enérgico”. “Ainda não preciso emigrar para a Austrália”, costumava acrescentar.
Durante sua breve permanência no Brasil, em 1965, Dos Passos declarou-se entusiasmado com o progresso do país (“Brasília é linda como a acne de um país jovem e pujante”) e comoveu-se com os Catalinas, hidraviões que usou para percorrera Amazônia e que lhe recordavam o tempo da Segunda Guerra Mundial na Europa. Escrevendo biografias (de Jefferson) e uma história de Portugal, o autor que um enfarte fulminou depois de longa hospitalização, em Baltimore, achava que o dia de sua aposentadoria literária ainda estava longe. Há menos de seis meses declarou: “Só largarei a máquina de escrever quando o agente funerário atravessar o umbral da minha porta. Dos Passos morreu no dia 28 de setembro de 1970, aos 74 anos, em Baltimore.
(Fonte: Veja, 7 de outubro, 1970 Edição n.° 108 DATAS – Pág; 85)
John Roderigo dos Passos nasceu em 1896, em Chicago (USA). Sua primeira obra de ficção é Iniciação de um homem, de 1919. Ficou conhecido pela trilogia USA: Paralelo 42 (1930), 1919 (1932), e Dinheiro Graúdo (1936). Morreu em 1970, sendo seu último livro A História de Portugal. A crítica sempre o colocou, em termos de importância, ao lado de Hemingway, Falkner e Steinbeck. Jean-Paul Sartre o considerava o maior contista do século XX. As novas gerações de jornalistas pouco conhecem John dos Passos. Nos sebos é possível encontrar, por exemplo, 1919, editado pela Abril em 1980. Ou ainda: As aventuras de um Comunista, cujo título original é Adventures of a young man, editado em 1947 pela Editora Guaíra. E com muita sorte e atenção é possível encontrarmos dessa mesma editora: Paralelo 42, 1919, Dinheiro Graúdo e Três Soldados. O Brasil Desperta, editado pela Record, em 1963, pode ser considerado um clássico do livro-reportagem. John dos Passos esteve no Brasil em 1948, 56 e 62.
A crítica norte-americana considera a trilogia USA, de John dos Passos, publicada integramente em 1938, uma obra-prima da literatura. Ele esteve em Brasília quando da inauguração da capital. Em seu livro encontramos inúmeros perfis de políticos de época, assim como de Oscar Niemeyer e de muitos outros. Em uma nota, na abertura do livro, os editores alertam para o fato de que o livro tem algumas imprecisões, e que a decisão final foi de não tocar no texto. Este é um livro que deveria ser de leitura obrigatória nos cursos de jornalismo.
(Fonte:www.pontodevista.jor.br/escritores/dospassos)