Patrick White (Knightsbridge, 28 de maio de 1912 – Sidney, 30 de setembro de 1990), escritor australiano ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1973 por uma narrativa épica e psicológica, que tem introduzido a literatura de um novo continente no mundo das Letras.
Poeta e dramaturgo, autor de duas dezenas de livros, sua obra se caracterizou por um intenso pessimismo tanto em sua crítica ao estilo de vida australiano quanto nas descrições das atrocidades da II Guerra Mundial. Em 1985 teve seu primeiro romance, Voss, publicado no Brasil.
Em 1973 foi galardoado pela Real Academia de Ciências da Suécia com o Prêmio Nobel de Literatura convertendo-se no primeiro australiano ao que se lhe concedia o galardão. Com o dinheiro recebido pelo Prêmio Nobel de Literatura criaram-se os Prêmios Literários Patrick White para impulsionar o desenvolvimento da literatura australiana. O comitê tem sido instruído para dar precedência a autores cuja escritura não tem recebido ainda o reconhecimento devido. Alguns dos ganhadores têm sido Christina Stead (1902-1983), Randolph Stow (1935-2010), Thea Astley (1925-2004), e Gerald Murnane.
Patrick White faleceu em 30 de setembro de 1990, aos 78 anos, de ataque cardíaco, em Sidney.
(Fonte: Veja, 10 de outubro de 1990 - ANO 23 – Nº 40 – Edição 1151 - DATAS – Pág; 112)
Escolhido: no dia 18 de outubro de 1973, em Estocolmo, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, o escritor australiano Patrick White.
(Fonte: Veja, 24 de outubro, 1973 - Edição 268 - DATAS – Pág; 14)
Para a Austrália
Mais uma vez a Europa se curvou diante de um continente. Depois dos Estados Unidos (Ernest Hemingway) da América Latina (o guatemalteco Miguel Ángel Asturias) e da Ásia (o japonês Yasunari Kawabata), e diante de um Velho Mundo onde parecem escassear os pretendentes ao Prêmio Nobel de Literatura, a Academia Sueca descobriu a Austrália. Sob o choque da surpresa, os editores brasileiros correrão para saber se Patrick White, 61 anos, o vencedor, não é o nome de um promontório perto de Sydney. E encarregarão tradutores famintos e heróicos de passar, para um português apressado, um vocabulário às vezes hermeticamente regional (“grey dunny”, por exemplo, qyer dizer “privada no quintal”, a “casinha” do interior brasileiro).
O impacto maior, entretanto, deve ter atingido os próprios australianos. Pois Patrick White é, acima de tudo, um escritor que contesta o “australian way of living”. Como em “Voss” e “The Burnt Ones”, ele escreve romances e contos complexos, pessimistas, difíceis e profundos, que negam o “otimismo democrático, o machismo ostensivo” que caracterizam o seu país – “Down Under”.
Condição humana – Seria White mais um Faulkner transplantado para a região de New South Wales, onde, quando jovem, criava ovelhas e “escrevia péssimas novelas”? Ou mais um Joyce ao sul do Equador, com seus indecifráveis monólogos do inconsciente? White tem, de fato, com ambos os romancistas, elementos de afinidade: de Joyce, a visão individualizada da epopeia humana em “Ulisses”; e de Faulkner de “Absalom! Absalom!”, a captação macabra da desintegração moral de uma sociedade.
Ele não é um “engagé”, porém. Não é uma estrutura política que ele condena. Mas a própria condição humana que ilumina e deplora, apelando para simbolismos do hinduísmo quando quer mostrar uma possível saída: a interpretação mística de “The Solid Mandala” com seus marghinalizados hermafroditas, e sua solidão descrita como um desafio comparável ao de se montar um quebra-cabeças cuja imagem original se perdeu.
Ambiguidades – “Como juntar o homem a seu próximo, o homem à mulher?”, indagava o romancista a seus conterrâneos no vasto continente povoado por imigrantes, o último “bastoão branco” da Inglaterra vitoriana entre as nações de cor do Extremo Oriente. E, realmente, o mesmo isolamento que a Austrália mantém, geograficamente, dos outros povos, reflete-se na separação e no isolamento dos personagens de White, presos por tabus, convenções e silêncio.
Sua vitória Sua vitória provocou um abalo que já se fez sentir antipodamente na sua Inglaterra natal e na sua Austrália de adoção. Em Londres, os book-makers que apostavam no francês André Malraux como vencedor dos 52 000 dólares do prêmio, constataram que o Nobel de Literatura continua o mesmo desenterrando talentos absolutamente fora de páreo. E os australianos terão que se reexaminar no espelho apavorante que Patrick White ergue diante de seus olhos. Como já vaticinara um crítico de Melbourne: “Nunca ninguém antes convidou-os a vislumbrar tão vastas ambiguidades em seu país e em suas almas”.
(Fonte: Veja, 24 de outubro, 1973 - Edição 268 - LITERATURA/ Por Leo Gilson Ribeiro – Pág; 123)