Paulo Alcides Andrade, engenheiro civil, foi pioneiro na área de estruturas metálicas no Brasil.

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Paulo Alcides Andrade, engenheiro civil, foi pioneiro na área de estruturas metálicas no Brasil. Formado pela Mackenzie, fundador e presidente da Andratell Construções Metálicas S/A, fundador e vice Presidente da ABCEM, fundador da ABECE. Paulo Andrade faleceu aos 88 anos.
(Fonte: Revista Construção Metálica – )

Paulo Andrade

Apaixonado pelas estruturas metálicas desde o início de sua produção no Brasil, engenheiro militou pela divulgação da tecnologia no setor da Construção brasileiro

PERFIL

Nome: Paulo Alcides Andrade
Idade: 84 anos
Graduação: Engenharia Industrial e Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, em 1948
Onde trabalhou: Anderson Clayton, União dos Construtores Metálicos, Fábrica de Estruturas Metálicas da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Andratell, Paulo Andrade Engenharia de Estruturas Metálicas
Cargos exercidos: membro do conselho deliberativo e consultivo do IE-SP (Instituto de Engenharia de São Paulo) e do conselho diretor da Abcem (Associação Brasileira da Construção Metálica), professor no Mackenzie e co-fundador da Abcem e da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural)

As estruturas metálicas quase não existiam no Brasil quando o engenheiro Paulo Andrade se apaixonou pela tecnologia. No final da década de 40, contava-se nos dedos de uma mão as empresas que trabalhavam com o sistema – e, mesmo assim, montavam apenas pequenas estruturas de obras industriais, feitas geralmente com perfis importados ou reaproveitados de antigos edifícios demolidos. Esse entusiasmo, que o fez conhecido nesse segmento da Construção, se mantém até hoje, seis décadas depois de se formar em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, em São Paulo.

Por muito tempo em sua infância e adolescência, Paulo Andrade acreditou que seguiria carreira em Medicina. “Meu pai era químico e eu vivia em um ambiente médico”, conta. Sua história começou a mudar quando foi matriculado, no fim do ginasial, no colégio Mackenzie. Influenciado pelo professor de Matemática e pelo ambiente universitário que circundava o colégio, começou a cursar Engenharia Industrial na mesma instituição. No terceiro ano de faculdade, matriculou-se também em Engenharia Civil. Formou-se nas duas especialidades em 1948.

Seu primeiro emprego foi como engenheiro de manutenção de uma empresa industrial chamada Anderson Clayton. Pouco depois de sua contratação, um amigo lhe pediu a indicação de algum engenheiro civil que conhecesse estruturas metálicas. Ele se ofereceu e foi admitido, então, na UCM (União dos Construtores Metálicos), empresa de origem belga que executava estruturas metálicas em instalações industriais. “Eu diria que minha carreira começou aí”, explica Andrade.

Aos poucos, o engenheiro foi sendo promovido – engenheiro de fábrica, engenheiro de montagem, coordenador de projetos. Em 1955, foi convidado também para lecionar na faculdade onde se formara anos antes. O curso de Engenharia Civil do Mackenzie era o único do País com a cadeira de Estruturas Metálicas. O professor catedrático responsável pela disciplina, Antonio Luis Hipólito, vendo o ex-aluno adquirindo experiência no segmento, chamou-o para ser seu assistente. Foi professor durante dez anos.

Em meados da década de 1950, a CSN realizava a primeira expansão de sua história. Começava a instalar, também, sua Fábrica de Estruturas Metálicas – passo importante na difusão da tecnologia no Brasil. Da primeira grande obra em que ela foi utilizada, com materiais e projetos completamente brasileiros, Paulo Andrade participou: o Edifício Garagem América, no Centro de São Paulo. A CSN fornecia as estruturas metálicas e a UCM as montava. O trabalho conjunto aproximou Andrade e a então estatal, que o convidou para montar um escritório técnico-comercial para a comercialização das estruturas metálicas que a empresa fabricava. “Na época, meu trabalho se chamava Engenharia de Ligação, pois eu fazia a ligação entre o cliente, o projeto e a fábrica”, explica.

Sua nova empregadora o enviou para os Estados Unidos, para estagiar por cinco meses em várias obras e conhecer a construção metálica norte-americana. Ao voltar, participou de diversas obras com a tecnologia, que engatinhava no País. Palácio do Comércio, em São Paulo; Edifício Galeria Central, Montepio dos Funcionários da Prefeitura do Rio, Edifício-garagem no Jóquei Clube, no Rio de Janeiro; Edifício Santa Cruz, em Porto Alegre. Este último, aliás, exigiu uma solução criativa para ser projetado: com seus empregados todos focados nas obras de expansão em Volta Redonda (RJ), a CSN não tinha desenhistas para produzir as mais de 500 folhas do projeto do edifício. Andrade pediu o apoio do então presidente da estatal e montou um escritório que contratava, para trabalhos free lance, alguns dos seus mais de 100 alunos do Mackenzie.

Em 1958, saiu da CSN e fundou, em sociedade com um amigo, a própria fábrica de estruturas metálicas, a Andratell. Dois anos depois, seu amigo seguiu outro rumo profissional e deixou a empresa nas mãos de Paulo Andrade. A fábrica cresceu e se mudou de um pequeno galpão alugado em Santo Amaro para um terreno de 500 m² em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Em 1974, querendo aproximar as empresas que produziam estruturas metálicas, a Andratell fundou, com outras fábricas do setor, a Abcem. Esse também foi o período áureo da Andratell, que, entre outros, forneceu perfis metálicos para as obras da Rodovia Transamazônica (“algumas peças eram lançadas de pára-quedas”, recorda-se) e, em função de uma parceria com a construtora Andrade Gutierrez, chegou a exportar peças para Bolívia, Angola e Costa do Marfim.

Depois do bom momento, porém, vieram os problemas da Andratell. No início de 1984, a empresa havia fechado quatro grandes contratos para fornecimento de estruturas metálicas. “As encomendas totalizavam 2,5 mil t. Todo mundo fez festa, menos eu”, recorda-se Andrade. “Todos estavam com a corda no pescoço, nas concorrências jogaram os preços lá em baixo. Seria necessária uma grande eficiência na produção.” O que Andrade mais temia, aconteceu: até outubro daquele ano, a empresa havia conseguido produzir apenas 50 t. A Andratell era “engolida” pela mesma onda que levou muitas empresas do setor.

Desde então, até meados da década de 1990, a construção metálica sucateou-se, na opinião de Andrade. Mas ele esteve firme ao lado “dela”, na alegria e na tristeza, e montou um escritório de projetos em estrutura metálica, que mantém até hoje em São Paulo. Nos últimos anos, Andrade acredita que o setor saiu da UTI e começa a se recuperar. No entanto, faz um alerta aos construtores: “atualmente, apenas em São Paulo, há 650 empresas atuando no setor da construção metálica. Muitas delas são pequenas e médias empresas completamente despreparadas, que cometem verdadeiras aberrações”.

Dez questões para Paulo Andrade

1) Obras marcantes das quais participou: Edifício Garagem América, Clube Atlético Paulistano, cúpulas e silos graneleiros na região Sul do País
2) Obra significativa da engenharia brasileira: viadutos da rodovia dos Imigrantes sobre a Serra do Mar
3) Realização profissional: orgulho-me de ter militado tecnicamente pelas atividades no setor das estruturas metálicas
4) Mestres: Antonio Luis Hipólito, do Mackenzie; Pierre Galler, Heitor Lopes Correia
5) Por que escolheu a engenharia: por influência de meu professor de Matemática e do ambiente no colégio Mackenzie, junto da faculdade
6) Perspectivas para seu campo de atuação: boas perspectivas em função do interesse e do apoio do setor siderúrgico
7) Conselho ao jovem profissional: aprenda, apaixone-se e milite em seu ramo de especialização
8) Um avanço tecnológico recente: o desenvolvimento da informática e sua aplicação na Engenharia Civil
9) Indicação de um livro: O Mundo é Plano: Uma História Breve do Século XXI, de Thomas L. Friedman, e A Decolagem de Um Sonho, de Ozires Silva
10) Um mal da engenharia: a falta de consciência do engenheiro sobre seu próprio valor, sobre sua importância no desenvolvimento do País, e a desvalorização da experiência dos engenheiros idosos

(Fonte: http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil – Por Renato Faria)

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