Caso ímpar de trajetória intelectual no Brasil
Paulo Emilio Sales Gomes (São Paulo, 17 de dezembro de 1916 – São Paulo, 9 de setembro de 1977), jovem militante de esquerda, foi detido e encerrado no Presídio do Paraíso, de onde escapou para o exílio na Europa.
Na França, veio a interessar pelo cinema e tornou-se amigo de Henri Langlois (1914-1977), (fundador da Cinemateca Francesa) e de André Bazin (1918-1958), (criador dos Cahiers du Cinéma).
Paulo Emilio foi o mais internacional e o mais nacional cineasta do Brasil foi o fundador da Cinemateca Brasileira em São Paulo.
De volta ao Brasil, fundou com amigos como Antonio Candido, Ruy Coelho e Décio de Almeida Prado a revista Clima, embrião do Suplemento Literário do Estado de S. Paulo, este um marco do jornalismo cultural do País. Nessas trincheiras – em especial no Suplemento Literário – Paulo Emilio desenvolveu sua meditação profunda, constante e influente sobre o cinema.
Bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo e Doutor pela Escola de Comunicações e Artes, juntamente com os amigos Antônio Cândido, Décio de Almeida Prado, Lourival Gomes Machado e Ruy Coelho – a jovem e luminosa elite paulistana – foi um dos fundadores da famosa Revista Clima.
Considerado um subversivo pela ditadura militar, Paulo Emilio foi preso porque o destino natural de um subversivo numa ditadura é mesmo a prisão. Sim, ele foi preso mas fugiu numa fuga espetacular, por um túnel cavado nos subterrâneos do próprio presídio e que ia dar Deus sabe onde.
Tinha chegado a hora de emigrar e o país escolhido foi a França. Em Paris o nosso Paulo Emilio escreveu em francês o livro Jean Vigo (1905-1934), um cineasta romântico e polêmico.
Os mistérios da criação, mas por que um intelectual do Terceiro Mundo, por que Paulo Emílio foi desencavar lá longe esse Jean Vigo e sobre ele escrever um denso e intenso livro que teve uma excelente crítica e ainda recebeu o famoso prêmio Armand Tallier, concedido ao melhor livro de cinema publicado na Franca, em 1958.
Sim, os mistérios da criação. Ainda em Paris o nosso Paulo Emilio trabalhou na Cinemathèque Française e assim ele ficou conhecendo em profundidade a função e o destino de um museu vivo de cinema.
Estava na hora de voltar para o Brasil e aqui plantar as suas sementes, sim, estava na hora de fundar com os amigos Francisco Luis de Almeida Salles e Rudá de Andrade (entre outros) a nossa Cinemateca Brasileira.
Paulo Emílio criou clubes de cinema, participou de congressos aqui e no exterior, lecionou em universidades e principalmente – escreveu livros sobre cinema e no fim da vida lançou até um romance. Cinema e literatura, olha aí, a vocação e a paixão.
Nos livros O Cinema no Século e Três Mulheres de Três PPPês, neste é incusrsão única de Paulo Emilio na ficção (se excetuarmos o romance incloncluso Cemitério).
Escreveu François Truffaut, um dos maiores nomes da nouvelle vague do cinema: “Passou por minhas mãos o manuscrito do mais belo livro de cinema que já li”. “O brilho e a originalidade de Paulo Emilio vão, por muito tempo nos surpreender”, disse Carlos Augusto Calil.
(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral – NOTÍCIAS / GERAL / CULTURA/ Por Luiz Zanin Oricchio – O ESTADO DE S. PAULO – 17 Junho 2015)
(Fonte: http://www.cinemateca.gov.br/pauloemilio/por Lygia Fagundes Telles – Junho de 2015)