Paulo Freire, renomado educador brasileiro. Ilustre personalidade da esquerda brasileira. Teve glória intelectual e pedagogia vencida. Freire educador pernambucano tornou-se conhecido por causa de seu método de alfabetização de adultos, peça de resistência do livro Pedagogia do Oprimido, lançado em 1970. O método Paulo Freire, como é conhecido entre os pedagogos, foi aplicado pela primeira vez em 1963, na cidade de Angicos, no interior do Rio Grande do Norte. Alfabetizou 300 trabalhadores rurais em 45 dias. Apesar dos limites reduzidos da experiência, o trabalho serviu de trampolim para o educador. Na prática, o método é simples. Os alunos aprendem a ler e a escrever a partir de palavras-chave extraídas de sua própria realidade. Na teoria, um romance inacabado: ao utilizar elementos de seu cotidiano no processo de alfabetização, eles passariam a pensar de forma crítica e, assim, tentariam transformar o mundo.
No governo João Goulart, Freire assumiu a direção do Plano Nacional de Educação. Seu projeto era alfabetizar 16 milhões de adultos em quatro anos. Com o golpe militar, em 1964, foi preso e mandado para o exílio. Os críticos de sua obra afirmam que o golpe salvou o educador de um fracasso retumbante e o alçou ao panteão da glória intelectual. No exterior, Freire lecionou em universidades de prestígio, como Harvard, nos Estados Unidos, e Genebra, na Suíça. Suas dezenas de livros foram traduzidas para vinte idiomas.
Ele permaneceu quinze anos fora do Brasil, até ser anistiado, em 1979. De volta ao país, ajudou a fundar o PT. De 1989 a 1991, Freire foi secretário da Educação de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina. A atuação do homem com jeito de santo de cordel não deixou boas lembranças. Para desespero de seus assessores, o educador almoçava todos os dias em casa e chegou a suspender uma reunião importante para ir ao cinema com a mulher.
Em certa ocasião, deixou 5 000 professores plantados no Estádio do Pacaembu porque não estava com vontade de falar.
O método Paulo Freire mantém-se como referência bibliográfica nos cursos de pedagogia, mas seus pressupostos ideológicos envelheceram. Em nenhuma latitude ele alfabetizou adultos em massa, despertando-os para a consciência de classe. Também não há escola que reze exclusivamente pela cartilha de Freire. Os professores costumam utilizar apenas alguns princípios do método, misturando-os a outras concepções pedagógicas. Nos anos 60, a educação era tida como mágica, tudo podia. Nos anos 70 e 80, era tida como negativa, nada podia. Agora, talvez estejamos chegando a uma condição de humildade, aceitando que a educação não é a chave de transformação da sociedade, disse ele a Veja. Sábia conclusão. Paulo Freire morreu no dia 2 de maio de 1997, aos 75 anos, vítima de infarto.
(Fonte: Veja, 14 de maio de 1997 – Edição 1495 Memória/ Mario Sabino – Datas Pág; 127)