Peter Wright, ex-agente do serviço secreto britânico.

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Wright: revelações embaraçosas

Peter Wright (9 de agosto de 1916 – Sydney, Austrália, 27 de abril 1995), ex-agente do serviço secreto britânico que gerou uma ruidosa batalha judicial ao publicar o livro Spycatcher, em 1987.

No livro, ele afirma que o chefe do serviço secreto, Roger Hollis, seria um traidor.

A ex-primeira ministra Margaret Thatcher tentou censurar a publicação.

Nas décadas de 50 e 60, a espionagem britânica foi desmoralizada pelas sucessivas descobertas de agentes soviéticos infiltrados em seus quadros – o mais célebre deles, Kim Philby, morreu em maio de 1988, exilado na União Soviética, e foi enterrado com honras de herói.

Ao contrário dos que traíram, Peter Wright dedicou os vinte anos em que trabalhou na agência britânica de contra-espionagem , conhecida como MI5, ao esforço, na maioria das vezes inútil, de impedir que segredos de Estado resvalassem para os ouvidos de Moscou.

No entanto, também ele violou o juramento ao publicar Caçador de Espiões, livro que alcançou sucesso mundial, apesar do excesso de pormenores que o tornaram por vezes cansativo.

A obra chegou a ser proibida, em 1987, pela primeira-ministra Margaret Thatcher (1925-2013). Mas, a rigor, nada há nela que possa ser catalogado como ameaça à segurança nacional. Mas o relato de Wright é de deixar qualquer governo embaraçado. Agindo totalmente à margem da lei, o serviço secreto britânico grampeava telefones sem a menor cerimônia e espionava mesmo embaixadas de países aliados, como a da França. O resultado dessa operação podia ser decepcionante. Em 1956, durante a visita do dirigente soviético Nikita Kruchev à Inglaterra, o MI5 instalou microfones em seu quarto de hotel. O hóspede, esperto, só deixou transparecer nas conversas uma única preocupação – a queda de seus cabelos.

“O QUINTO HOMEM” – Wright terminou a carreira e o livro sem provar a hipótese que o obcecava: a de que seu próprio superior nos serviços secretos, sir Roger Hollis, o antigo diretor-geral do MI5, seria um espião. Ele seria o misterioso “quinto homem” da rede de agentes soviéticos recrutados na década de 30 quando estudavam na aristocrática Universidade de Cambridge e que incluía, além de Philby, Guy Burgess (1911-1963), Donald McLean e Anthony Blunt. Todos, com exceção de Blunt, fugiram para a União Soviética antes de serem desmascarados. Hollis, acredita Wright, teria dado o aviso.

Essa suspeita nunca poderá ser confirmada, já que todos os principais protagonistas estão mortos. Mas a insistência em levá-la adiante valeu ao autor o ostracismo entre seus colegas e, na hora de se aposentar, uma manobra burocrática que o deixou com uma humilhante pensão.

Porém, Wright não teve do que se queixar. Seu livro, traduzido em diversos países, garantiram-lhe polpudos rendimentos ao espião.

Peter Wright faleceu em 27 de abril 1995, aos 78 anos, de pneumonia, em Sydney, Austrália.

(Fonte: Veja, 7 de setembro de 1988 – Edição 1044 – LIVROS/ Por Igor Fuser – Pág; 119)
(Fonte: Veja, 3 de maio de 1995 – ANO 28 – N° 18 – Edição 1390 – DATAS – Pág; 108)

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