Pierre Ambroise François Choderlos de Laclos (Amiens, 18 de outubro de 1741 – Taranto, 5 de setembro de 1803), passou para a história da literatura universal como o autor da obra As Ligações Perigosas. Ele nasceu em 1741 e morreu em 1803. Soldado do exército francês, Choderlos de Laclos veio a obter reconhecimento como escritor com o romance, uma das obras-primas do realismo. Aos 18 anos, Laclos optou pela carreira militar, entrando na escola de artilharia. O tédio e a solidão nas guarnições em cidades do interior, porém, acabaram levando- o para a literatura.
Apesar do sucesso com As Ligações Perigosas, obra publicada em 1782, Laclos também brilhou como militar. Ele foi nomeado general por Napoleão Bonaparte (1769-1821), em 1800, e participou ativamente de algumas campanhas bem-sucedidas do imperador.
Libertinagem
O principal objetivo de Laclos com As Ligações Perigosas foi mostrar a libertinagem da decadente aristocracia francesa no final do século XVIII: o jogo da sedução era a maneira com que os nobres se divertiam e tentavam escapar do tédio nos últimos anos antes da Revolução Francesa. Este despropósito moral é, de certa forma, atenuado pelo brilhantismo com que a obra é redigida. Ao invés de se horrorizar com a depravação dos personagens principais, Valmont e a marquesa de Merteuil, o leitor acaba ficando fascinado pela precisão matemática que marca cada etapa da intriga.
Laclos utiliza no livro o recurso das cartas, solução tornada famosa por Samuel Richardson, e seu brilhantismo verbal transforma cada epístola numa perfeita transcrição do caráter de quem a escreveu. Tão insidiosa é essa habilidade que Cécile de Volanges permanece inexoravelmente como um personagem estúpido, por quem é difícil se ter qualquer preocupação de caráter emocional. Até mesmo madame de Tourvel, embora represente o papel de “mulher natural” ideal do autor, parece viciada por um sentimento rousseauniano tão inteiramente a caráter que ela se transforma numa vítima predestinada. A derrota por meio das próprias emoções, que acaba sobrepujando os sedutores, não desfaz a ambiguidade da trama.
Além de escrever As Ligações Perigosas, Laclos produziu também outras obras. Uma delas, Uma Carta à Academia Francesa Sobre o Senhor Marechal de Vauban(1786), lhe causou tantos problemas que ele acabou sendo expulso do exército. Um ano depois da revolução, em 1790, ele aceitou servir sob as ordens do duque de Orléans e tornou-se militante do Partido dos Jacobinos. Preso em 1793, durante o período conhecido como Terror, Laclos foi solto e detido novamente e só voltou à liberdade um ano depois. Em seguida à reabilitação e à promoção concedida por Napoleão, em 1800, Laclos serviu nas campanhas do Reno e da Itália. Morreu em Taranto, em 1803.
Obra epistolar
A grande obra da vida de Laclos é composta por 175 cartas. Ex-amantes, os protagonistas destas cartas, a marquesa de Merteuil e o visconde de Valmont, são hábeis simuladores e manipuladores. Em meio ao luxo e à devassidão, extraem prazer da simulação e da manipulação, organizam um plano de sedução e vingança para provar que não manipuláveis como os outros. Esse plano, com requintes de perversão e crueldade, é revelado nas cartas nas quais não ocultam seus pensamentos mais sórdidos.
Os dois aristocratas representavam o que havia de podre no reino da França de então, já balançando pouco antes da Revolução de 1789. Nobres, ociosos e depravados, só tinham como ocupação levar a desgraça aos outros. Os relatos das cartas eram tão criteriosos que houve quem pensasse na época que se tratava de relatos verdadeiros, escritos por personagens reais. E, por isso, o livro acabou sendo considerado calunioso à nobreza, até então tratada com reverência e bajulação por autores que talvez por isso mesmo não deixaram sua marca na história da literatura. As Ligações Perigosas marcou época porque “pegou” dois personagens que realmente pareciam pertencer à sua época. A obra foi direto ao ponto, mostrando a decadência de uma elite em vias de extinção. Por isso, o romance passou a ser considerado uma obra-prima. Ela mostra todo o perfil dos personagens, sua forma de pensar, seus temores, malícias e desejos. No livro, Laclos consegue dar vida aos seus personagens principais, primeiro por meio do recurso que empregou, a linguagem usada nas cartas, e depois pelas próprias atitudes contraditórias e surpreendentes de Merteuil e Valmont.
Cinema
A obra foi adaptada para o cinema em mais de uma ocasião. A primeira e mais conhecida das onze versões do livro teve como autor o cineasta francês Roger Vadim (1928-2000). Sua adaptação, em 1959, possuía um elenco de estrelas: Jeanne Moreau (Juliette de Merteuil), Gerard Philipe (visconde de Valmont), Anette Vadim (Marianne Tourvel), Jean-Louis Trintignant (Danceny) e Simone Renant (madame Volanges).
A versão mais recente da obra de Laclos teve outro nome: Segundas Intenções, na tradução adaptada de Cruel Intentions. A direção foi do roteirista, que estreava na nova profissão, Roger Kumble. No elenco, Sarah Michelle Gellar (marquesa de Merteuil) e Ryan Phillippe (Valmont). A ação passou para a Nova York do final do século XX. Ele modernizou o texto, apimentando-o com cenas sexuais, inclusive homossexualidade masculina e feminina.
Houve versões de diretores mais conhecidos como Stephen Frears e Milos Forman, no final dos anos 1980. A versão de Frears, que tinha como personagens principais Glenn Close e John Malkovich, ganhou três Oscars (roteiro adaptado, direção de arte e figurinos) e teve como inspiração a peça de Christopher Hampton. A obra de Laclos, na adaptação de Forman, recebeu o título de Valmont. E seus personagens principais foram representados por Colin Firth e Annette Bening. Ela é considerada a mais apimentada de todas por ter um elenco mais jovem.
(Fonte: http://literatura.uol.com.br/literatura/figuras-linguagem/23/artigo134390- REVISTA LITERATURA)