Pioneiro no cinema, participou do primeiro filme sonoro brasileiro
Roque Ricciardi (25 de maio de 1894 – 1976), cantor e compositor, mais conhecido como Paraguassu. Vagarosos, os primeiros bondes elétricos se arrastavam pelas ruazinha iluminadas a lampião de gás. Nos cafés e restaurantes da cidade, senhores empertigados conversavam preguiçosamente depois da ópera no Teatro São José. A São Paulo da época já tinha 90 000 habitantes e as vibrações de metrópole começavam a delinear-se nas suas primeiras indústrias e ferrovias. Foi nesse tempo que nasceu o menino Roque Ricciardi, no dia 25 de maio de 1894, no bairro operário do Belém. Filho de imigrantes italianos, quando não ajudava o pai na ferraria ficava horas no fundo do quintal escutando a mãe entoar canções italianas enquanto lavava roupa. Depois que o pai morreu, os tempos ficaram difíceis. Seleiro de profissão, Roque trabalhava o dia todo. A noite, porém, já o encontrava pelos “cafés chantants” espalhados pelo bairro do Brás, acompanhando-se ao violão em troca de cerveja e sanduíches.
Em 1908 empregou-se no Café do Donato, onde cantava modinhas a 5 mil-réis por noite. Naquela época nasceu sua primeira composição. “Madalena”, feita para uma moça, em noite de serenata. Emocionado e constrangido, subiu pela primeira vez num palco num festival do Circo Spinelli. E lá, aos 14 anos, foi delirantemente aplaudido.
Em serenatas, conheceu o violonista Américo Jacomino, o “Canhoto”, que se tornaria seu maior amigo e o responsável por suas primeiras gravações. A primeira delas, em 1912, na Odeon, continha “Madalena” e “Mágoas”, também de sua autoria. Logo, outras, como “Lamentos”, “Mágoas de Um Trovador”, “Luar de Minha Terra”, o transformariam num dos mais importantes intérpretes românticos do país. Por exemplo, foi o primeiro cantor contratado pela Rádio Educadora, em 1924, a primeira de São Paulo. Pioneiro também no cinema, ele participou do primeiro filme sonoro brasileiro, Acabaram-se os Otários (1928), com suas composições Bem-te-vi e Triste Caboclo.
Chamavam-no, então, de “italianinho do Brás”. Em 1928, quando assinou seu contrato com a gravadora Continental, Roque Ricciardi mudou seu nome definitivamente para Paraguassu, que exigia fosse grafado com dois esses. Naquela etiqueta gravou mais de oitenta discos. E quando atravessava o apogeu de sua carreira, criou o conjunto “Verde Amarelo”, do qual participava o violonista Aníbal Augusto Sardinha, o “Garoto”, que tocava seu banjo de calças curtas.
O fim dos anos 30, porém, definitivamente consagraria o samba como a música popular do país – e o Rio de Janeiro como o reduto dos artistas e compositores. E Paraguassu começou a se recolher a um tranquilo ostracismo. Casado desde os 18 anos, com seis filhos, até a véspera de sua morte manteve invioláveis dois velhos costumes: aparecia no bar de Nelson Prado, seu vizinho, onde conversava longamente e ainda arriscava um aperitivo, e passava a maior parte do dia instalado numa janela de sua velha casa no Brás, saboreando as imagens daquele que é o último dos bairros tradicionais da antiga São Paulo, e que também está prestes a desaparecer. Paraguassu morreu em 5 de janeiro de 1976, aos 81 anos, em São Paulo.
(Fonte: Veja, 14 de janeiro, 1976 Edição 384 DATAS – Pág; 53)