“A glória passada do povo vencido impõe-se ao orgulho dos vencedores.”
Plutarco (Grécia, 46 – 120 d.C.), historiador grego, autor de Vidas Paralelas, acerta as contas entre Grécia e Roma, num clássico multissecular. Vidas Paralelas é comparado a prudência atribuída a Péricles – expoente do gênio político grego.
Foi um acerto de contas desse tipo que guiou a mão do historiador no primeiro século da Era Cristã, quando as cidades gregas haviam definitivamente perdido sua soberania e Roma reinava sobre o mundo ocidental.
De fato, antes de escrever Vidas Paralelas, contrapondo um personagem histórico romano a um grego do mesmo quilate, Plutarco já medira a força e a fraqueza da pax romana.
Saído de sua Grécia natal, viajara pelo Egito e Itália, onde aprendeu o latim e morou durante dez anos. Roma estava nessa época fascinada pela civilização helênica, como ilustram aina hoje as numerosas cópias de imagens e personagem gregos existentes nas mansões romanas de Pompeia, soterrada pelo Vesúvio em 79 d.C.
Certamente Plutarco beneficiou-se da “moda grega”, então em voga nas margens do Tibre, para ganhar apoio e leitores entre os romanos.
TRAÇOS DA PERSONALIDADE – Estudiosos de História Antiga ensinam que foi com o ateniense Demóstenes – defensor de Atenas e Tebas contra a ofensiva hegemônica de Filipe da Macedônia – que Plutarco mais se identificou ao redigir essa plêiade de biografia.
Embora tenha se baseado na fecunda tradição oral greco-romana e em dezenas de escritos da época. Plutarco previne: “Eu não aprendi a escrever histórias, mas somente vidas, não são sempre os mais altos e gloriosos feitos que mostram o vício e a virtude de um homem.”
Dessa forma, em vez de privilegiar a descrição elaborada dos fatos e eventos, como fizera seu ilustre predecessor, o historiador Tucídides, Plutarco deu relevo aos traços da personalidade dos grandes homens. Essa é uma das chaves do multissecular sucesso do livro.
PÉRICLES – Sumidos durante toda a Idade Média, os textos completos do livro reapareceram no Ocidente no final do século XV, nas bagagens dos monges enxotados de Bizâncio pelos turcos. Em 1559 foram traduzidos para o francês pelo humanista Jacques Amyot (1513-1593), preceptor dos filhos de Henrique II, rei da França.
Logo o livro se tornou um dos “best-sellers” da Renascença. Educadores, dramaturgos e moralistas perceberam o interesse dessas descrições enaltecendo a honra, o caráter e a glória dos indivíduos envolvidos na ação prática.
Shakespeare, Montaigne, Rousseau e Napoleão Bonaparte foram leitores assíduos e inspirados das Vidas Paralelas. Fraquezas e glórias dos estadistas gregos e romanos serão confrontados aos atos dos políticos contemporâneos.
(Fonte: Veja, 17 de julho de 1991 – Ano 24 – N° 29 – Edição 1191 – LIVROS/ Por LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO – Pág: 93)