Prefeito da cidade, ele também construiu avenidas famosas na capital
Francisco Prestes Maia (Amparo, 19 de março de 1896 – São Paulo, 26 de abril de 1965), engenheiro civil formado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que foi prefeito de São Paulo por duas vezes, de 1938 a 1945 e de 1961 a 1965.
Prefeito de 1938 a 1945, nomeado pela ditadura Vargas, o engenheiro Francisco Prestes Maia construiu as avenidas Duque de Caxias, Nove de Julho, Ipiranga, São Luís e a Ponte das Bandeiras.
Prestes Maia ganhou a eleição para prefeito em 1961, com o apoio do governador Carlos Alberto de Carvalho Pinto. Jamais se vangloriou disso. Nunca mostrou presunção. O seu mandato foi num tempo difícil. As finanças estavam mal.
Prestes Maia não possuía nem a natureza nem a vocação do político-padrão. Formado engenheiro pela Politécnica, com especialização em arquitetura (na época não existiam as faculdades de arquitetura), seguiu as carreiras paralelas de professor da Politécnica e funcionário da Secretaria Municipal de Viação e Obras Públicas. Aprofundou-se no estudo do urbanismo. E encontrou na cidade de São Paulo o campo por excelência para direcionar suas pesquisas e aplicar seus conhecimentos. Foi prefeito em dois períodos — de 1938 a 1945, nomeado pelo Estado Novo getulista, e de 1961 a 1965, eleito. Para o bem ou para o mal, muito da cara de São Paulo, até hoje, se deve ao que ele pensou e pôde realizar nesses dois períodos.
Com seu prestígio e denodo, convenceu as autoridades federais e estaduais a transformar o Imposto de Vendas e Consignações (IVC) no atual ICMS, com repasses de verbas aos municípios. Foi o que salvou São Paulo e vários municípios do Brasil.
As dificuldades políticas não diminuíram o seu talento e muito menos a sua extraordinária compreensão do que é uma cidade-metrópole, parece-me justo relembrar a bela obra de Prestes Maia e o seu estilo sóbrio e sereno de governar.
Ele não nasceu nesta cidade. Mas poucos amaram tanto São Paulo como o engenheiro Francisco Prestes Maia. Nunca foi prefeito de sua terra natal -Amparo. Mas governou duas vezes a capital do Estado: de 1938 a 1945 e de 1961 a 1965.
Em 1930, Prestes Maia lançou uma de suas principais obras, a primeira amostra de sua genialidade no “Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo”, com mais de 300 plantas desenhadas de próprio punho, com imenso carinho, minúcia e zelo. Em 1942, publicou “São Paulo, Metrópole do Século 20”, outra obra magistral. Em 1945, incansável, entregou ao público “Os Melhoramentos de São Paulo”, contendo mais de 400 estudos.
Para se conhecer a revolução urbanística realizada por Prestes Maia na cidade de São Paulo, basta folhear essas obras e encontrar, dentre outros, projetos de várias avenidas, o estádio do Pacaembu, a ponte das Bandeiras, a galeria (hoje chamada Prestes Maia), dezenas de viadutos, a retificação do rio Tietê, o aproveitamento das laterais para a construção de avenidas marginais.
É claro que a população da cidade explodiu e os projetos de Prestes Maia foram se apequenando. Mas, no mundo da arquitetura, ninguém duvida de que ele tenha sido um dos maiores entendedores dos problemas urbanos de sua época. Prova disso está em “Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo”, de Benedito Lima Toledo, publicada em 1996.
Prestes Maia amadureceu ao longo dos anos 1920, em estudos realizados como funcionário da prefeitura, as ideias que iriam desaguar em suas principais intervenções na cidade. Seu legado principal é o sistema de circulação que combina anéis em torno do centro (“anéis de irradiação”) com avenidas que unem as extremidades da urbe (“avenidas radiais”). O primeiro anel, formado de vias novas ou do alargamento de antigas, constitui-se na sequência das avenidas Ipiranga e São Luís, viadutos Nove de Julho, Jacareí e Dona Paulina, praças João Mendes e Clóvis Bevilácqua, contorno do Parque Dom Pedro, Avenida Senador Queirós e daí de volta à Ipiranga. O objetivo era, e continua sendo, desafogar o núcleo central e facilitar a distribuição da circulação. Um segundo anel compreendeu, entre outras, a Avenida Duque de Caxias e a Rua Amaral Gurgel. E um terceiro, imaginado por Prestes Maia mas realizado pelos sucessores, formou-se com as marginais dos rios Tietê e Pinheiros.
As avenidas radiais que, inversamente, cortariam o centro tiveram sua expressão máxima naquilo que Prestes Maia batizou de “Sistema Y” — uma via que se iniciava no norte (Avenida Tiradentes), atravessava o centro (Vale do Anhangabaú) e, no rumo do sul, se bifurcaria nas duas pernas do “Y” (as avenidas Nove de Julho e 23 de Maio). Nas aquarelas com que, bom desenhista, ilustrava seus projetos, Prestes Maia previa cenários grandiosos para as avenidas, viadutos e pontes. A marginal do Tietê de sua imaginação seria complementada por pontes semelhantes às de Paris. Não precisava tanto. Mas lamente-se que, no riscado das marginais, como de resto na maioria das vias projetadas por ele, o cuidado com o bom gosto tenha sido abandonado. As pontes do Tietê não precisavam ser como as que cruzam o Sena, mas também não podiam acabar tão toscas como as que conferem a São Paulo a lamentável marca de cidade onde pontes são feias, e rios são feios.
Na conta do haver e dever, Prestes Maia ostenta como legado mais positivo uma visão abrangente e articulada da cidade como nenhum dos antecessores ou sucessores possuiu. O mais negativo é ter desempenhado um papel preponderante no pecado dos pecados de São Paulo, que é o atraso na construção do metrô. Não que ele fosse contra, mas dava prioridade ao transporte de superfície, e, para evitar concorrência a seu plano de avenidas, rebarbou as primeiras propostas nesse sentido.
Em 1945, terminado, no gabinete então situado na Rua Líbero Badaró, o último expediente de seu primeiro período de prefeito, Prestes Maia recusou-se a subir no carro oficial que até então o servira. “Não, obrigado”, disse ao motorista que lhe abria a porta, segundo conta o arquiteto e historiador da cidade Benedito Lima de Toledo, no livro ‘Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno em São Paulo’. Achava que, não sendo mais prefeito, não cabia mais valer-se daquele serviço. Tomou, a pé, o rumo do Viaduto do Chá, foi até a Rua da Consolação e ali apanhou o bonde para casa. Ele não possuía mesmo nem a natureza nem a vocação do político-padrão.
“Burgomestre” é pouco para Francisco Prestes Maia. Ele foi, sim, o mais perfeito burgomestre que São Paulo já teve, no sentido de que exibia o mais acabado perfil para ocupar a cadeira de prefeito — mas burgomestre é pouco no sentido de que suas preocupações com a cidade nasceram muito antes de virar prefeito e superaram em muito as que ocorrem ao comum dos titulares do cargo.
No mundo da ética, jamais foi questionada a retidão de conduta e a probidade administrativa de Prestes Maia. No mundo político, porém, ele teve suas dificuldades. Na linguagem de hoje, era um homem “sem cintura”.
Isso lhe custou desgastes pessoais e eleitorais. Em 1950, perdeu o governo do Estado de São Paulo para Lucas Nogueira Garcez (1913-1982). Em 1954, foi derrotado por Jânio Quadros para o mesmo cargo. E, em 1957, foi vencido por Adhemar de Barros na Prefeitura de São Paulo. Mas nunca perdeu sua honra.
(Fonte: Veja, 4 de maio de 1988 Edição 1026 DATAS Pág; 83)
(Fonte: https://vejasp.abril.com.br/cidades – CIDADES / Por Roberto Pompeu de Toledo – 5 dez 2016)
(Fonte: https://vejasp.abril.com.br/cidades – CIDADES / Por Maurício Xavier – 11 maio 2018)
(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao – FOLHA DE S.PAULO – OPINIÃO / Por ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES – São Paulo, 04 de março de 2001)
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