Primeira musa pop brasileira

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Primeira musa pop brasileira

Celly Campello (1942-2003), foi a primeira musa pop brasileira e abriu caminho para o sucesso de Rita Lee. Celly começou na Rádio Nacional paulista aos 15 anos.
Em 1963, a batida sincopada do violão de João Gilberto foi o divisor de águas da MPB. Até que a paulista Celly Campello fez história paralela como símbolo pioneiro do pop rock brasileiro. No mesmo ano em que João estourou com “Chega de Saudade” (1959), a cantora atingia o estrelato com 16 anos ao lançar “Estúpido Cupido”, versão de um sucesso do americano Neil Sedaka. Até um dos papas da bossa nova se rendeu a seus encantos. “É uma moça que sabe usar com grande tarimba seu afiado aparelho vocal”, disse Tom Jobim.
Naquele tempo as gravadoras americanas não tinham representação no Brasil. Sem possibilidade de lançar os originais no país, a indústria investia nos cantores locais para gravar os sucessos estrangeiros. Em 1955, a matriarca da dor-de-cotovelo, Nora Ney, com a versão de “Rock Around the Clock”, foi a primeira intérprete brasileira a gravar uma música do gênero. Celly foi o primeiro ídolo nascido e mantido exclusivamente no ritmo que vinha dos Estados Unidos e da Inglaterra. Virou mania nacional. Foi eleita a Rainha do Rock em 1960 pela Revista do Rock. Antecedeu em quase uma década a explosão de Rita Lee. A autora de “Mania de Você” nunca escondeu sua admiração por Celly – a ponto de regravar o sucesso “Banho de Lua”.
Celly fez a alegria do público infanto-juvenil cantando ingenuidades como “Túnel do Amor”, “Lacinhos Cor-de-Rosa” e “Broto Legal”, na contramão da rebeldia do rock masculino. Era tão popular que inspirou uma fábrica de brinquedos a criar uma boneca com seu nome e uma de chocolates a lançar o bom-bom Cupido. Ela ainda comandou o programa Crush em Hi-Fi, o primeiro da TV brasileira dedicado ao rock. Foi uma espécie de Xuxa e Sandy de seu tempo – sem o tino comercial da primeira, mas com a vantagem de saber cantar da segunda. Até a gravadora concorrente da Odeon lançou Elis Regina, então com 16 anos, como seu clone no malsucedido LP Viva a Brotolândia.
Celly saiu de cena em 1962 para se casar com o contador José Eduardo Chacon, seu namorado desde os 14 anos. Estava no auge e a aposentadoria precoce foi o equivalente a Rita Lee largar a carreira no apogeu de “Lança Perfume” dizendo que sempre quisera ser dona-de-casa. Encantada com a vida pacata do interior, Celly referia-se aos anos de fama sem arrependimento. Ocupava-se com pinturas, colaborando com obras assistenciais, cuidando dos dois filhos e dos dois netos ao lado do marido, com quem viveu até o fim. O irmão Tony Campello, que a introduziu no mundo artístico, achava que a cantora deveria ter continuado a gravar, mas respeitou sua decisão. “Ela viveu em paz, encontrou a felicidade pessoal dessa maneira”, diz.
Em 1968, Celly foi sondada para apresentar o programa Jovem Guarda, com Roberto e Erasmo Carlos. Declinou do convite e abriu brecha para o estrelato de Wanderléa. A última volta de Celly aos palcos foi breve, em 1976, quando a Rede Globo levou ao ar a novela Estúpido Cúpido. Morreu em Campinas, cidade paulista onde morava, no dia 4 de março de 2003, vítima de câncer. Em 1996, detectara um nódulo na mama direita. Anos de tratamento reduziram o avanço da doença, mas não impediram a metástase óssea que terminaria por lhe tirar a vida.

(Fonte: Época, 10 de março, 2003 – N°251 – Memória/Por Lauro Lisboa Garcia – Pág; 55)

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