A funda??o da Casa da Sabedoria
Sentindo a necessidade de enriquecer o Isl? com a sabedoria de outras culturas, especialmente a persa e a grega, os califas de Bagd? transformaram a cidade num extraordin?rio centro cultural, numa verdadeira luz do Oriente. Em 832, Al-Mamum criou a Bayt al-Hikma, a Casa da Sabedoria, que, segundo nossos registros, deve ter sido uma das Primeiras institui??es especializadas em tradu??es. Foram convidados para tal of?cio s?bios de f? diversa da mu?ulmana, tal como o crist?o-?rabe Hunayn Ibn Ish?q, que formou uma verdadeira dinastia de tradutores, vertendo obras do grego para o sir?aco e para o ?rabe. Foi assim que preservaram-se os trabalhos de Arist?teles, de Plat?o, de Galeno, de Hip?crates, de Euclides ou ainda do alexandrino Ptolomeu. Enquanto a cultura grega era anatematizada pelos padres da Igreja crist? medieval, era honrada e cultivada pelos homens s?bios de Bagd?.
Bagd?, centro de saber
Em pouco tempo a cidade tornou-se centro de uma intermin?vel peregrina??o de estudantes que vinham de todas as partes do Isl? para sentar-se pr?ximos aos faylasuf, os fil?sofos, para beber-lhes a ci?ncia. O saber deles era enciclop?dico: homens como Al-Kindi (796-899) e Al-Farabi (870-950) podem ser considerados como os fundadores de um conhecimento verdadeiramente universal, enquanto Ibn Kaldun consagrou-se na hist?ria e Al-Khwarizmi (introduziu o conceito de ?lgebra na matem?tica). Apesar dos s?bios de Bagd? forjarem toda a terminologia t?cnica da Kalam, a teologia isl?mica, sofreram acirrada oposi??o de fundamentalistas como Ibn Hanbal, um reacion?rio que rejeitava todas as descobertas da ci?ncia exata e da especula??o filos?fica por consider?-las her?ticas e pr?ximas do ate?smo. Mas os trabalhos da Casa da Sabedoria continuaram e servirade base para que, em 1066, o vizir persa Nizam al-Mulk fundasse a primeira universidade ?rabe, que recebeu o nome de Nizamya. A proje??o de C?rdoba
Desejoso de tornar seu califado de C?rdoba, na Espanha, cada vez mais aut?nomo, o governante om?ada Abdur-Raman II determinou que se adquirisse em Bagd? tudo que fosse referente ? ci?ncia grega e ?rabe. Pouco tempo depois, em 1085, quando da reconquista de Toledo pelos crist?os, ali tamb?m foi institu?da uma oficina de tradutores que passaram a verter os textos ?rabes para o latim, redescobrindo os s?bios gregos para a Europa. Outra porta para a cultura greco-?rabe abriu-se pela iniciativa o Imperador do Sacro Imp?rio, Frederico II, que fundou a Universidade de N?poles em 1224, estimulando todo o tipo de tradu??o para o latim. O mais belo fruto da academia napolitana foi S?o Tom?s de Aquino, que l? estudou at? 1243 e que n?o s? lutou para que Arist?teles fosse aceito nos c?rculos universit?rios e teol?gicos europeus, como realizou a mais poderosa constru??o intelectual do Ocidente medieval: a Summa Theologica, de n?tida inspira??o ?rabe.
Incompreens?o
Dessa forma, a sabedoria e ci?ncia ?rabes – que dinamizaram a cultura ocidental nos tempos obscuros da escol?stica crist?, quando a Europa vivia num vale de sombras -, foram as respons?veis indiretas pelas descobertas de Cop?rnico, de Kepler e de Galileu, os pioneiros da moderna ci?ncia. Por?m o ?dio teol?gico que tem separado crist?os e mu?ulmanos durante esses ?ltimos s?culos terminou por impedir que o Ocidente reconhe?a os m?ritos da civiliza??o maometana. As pa?ses isl?micos n?o s? foram colonizados pela pot?ncias coloniais europ?ias como seus anseios de independ?ncia e autonomia, que se tornaram cada vez mais crescentes depois de 1918, foram interpretados como equ?vocos conduzidos por radicais e fan?ticos.