Primeiro clube do interior a ser campeão paulista

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Em 19 de abril de 1986, Inter de Limeira era o Leicester brasileiro

Primeiro clube do interior a ser campeão paulista, Inter conquistou o título em 1986 quando ninguém esperava e derrotou o Palmeiras no Morumbi lotado. Tragédia e medo do rebaixamento marcaram início da campanha

 O ônibus com os jogadores da Internacional de Limeira parou em um posto no meio da estrada, na madrugada de 4 de setembro de 1986. 

“Caramba, sou campeão e estou comendo coxinha!”, espantou-se o centroavante Kita. 

O primeiro título paulista de um time do interior foi tão inesperado que a diretoria do clube não se preparou para isso. Mesmo quando chegou à final contra o Palmeiras, a cartolagem se recusou a acreditar.

Primeiro clube do interior a ser campeão paulista, Inter conquistou o título em 1986 quando ninguém esperava e derrotou o Palmeiras no Morumbi lotado. Tragédia e medo do rebaixamento marcaram início da campanha (Foto: LANCE!)

Primeiro clube do interior a ser campeão paulista, Inter conquistou o título em 1986 quando ninguém esperava e derrotou o Palmeiras no Morumbi lotado. Tragédia e medo do rebaixamento marcaram início da campanha
(Foto: LANCE!)

“Não havia nada programado. Arrumaram um sítio às pressas para ter uma festa. Para todo mundo, chegar à final estava bom demais”, afirma o ex-meia Gilberto Costa. 

Para levantar a taça, a Inter teve a melhor campanha. Derrotou o Santos duas vezes nas semifinais. Na decisão, passou pelo Palmeiras, que vivia jejum de dez anos sem ser campeão de nada. Na vitória final por 2 a 1, o Morumbi recebeu 68.564 pessoas. Apenas 400 torciam pela equipe de Limeira. 

“A cidade toda se envolveu. Nós estávamos preparados para derrotar o Palmeiras. Poucos acreditavam. Mas estávamos prontos”, resume o ex-zagueiro Bolívar. 

A descrença estava presente desde o início e rondava a cadeira da Presidência. Victório Marchesini disse a Pepe, escolhido para comandar o elenco, que temia a queda para a Segunda Divisão. 

“Ele falou a mesma coisa para mim. Estava com medo de cair”, concorda Gilberto Costa. 

Por um dos caprichos do futebol, 1986 não era para ser o ano da Internacional. Este deveria ter sido 1985. Com apoio da Prefeitura e de citricultores locais, o clube investiu em reforços. Chegou a contratar Éder Aleixo, titular da Seleção Brasileira na Copa de 1982. Deu errado e o dinheiro acabou. 

Precisando fazer caixa, a pré-temporada antes do Paulista de 86 foi feita com amistosos na África. Para chamar a atenção, a delegação contou com a presença de Jairzinho, o Furacão da Copa de 70. 

O desânimo foi às alturas quando, dias antes da estreia, o zagueiro Figueroa sofreu ataque cardíaco durante o treino e morreu. O carro com a família do defensor capotou no caminho para o velório, matando todos os passageiros. 

“Entre eles, morreu a mulher do Figueroa. Acho que os jogadores se uniram após isso. Quiseram jogar pelo Figueroa”, analisa o jornalista de Limeira, Edmar Costa, autor de livro sobre a conquista. Ele é filho de Edmundo Silva, narrador de rádio que foi a voz do título da Inter.

A estreia foi com derrota. Ironicamente, contra o Palmeiras. Aos poucos, o time se acertou. Teve o artilheiro do Estadual (Kita, 24 gols) e a melhor defesa (33 sofridos).

“Quando começou o segundo turno, era possível notar que havia algo diferente. Lógico que ninguém falava em título. Mas tinha algo especial ali”, afirma Pepe, que assumiu uma base montada pelo treinador anterior, José Carlos Fescina.

Se a campanha do Leicester na Inglaterra hoje desenterra a lembrança de 1986, na época a comparação era outra. A Inter era a “Dinamarca caipira”, referência à seleção que brilhou no Mundial do México.

Por causa da renda, a Federação Paulista marcou os dois jogos da final para o Morumbi. A festa estava montada para o Palmeiras ser campeão pela primeira vez desde 1976.

O primeiro jogo terminou em 0 a 0. Preso no trânsito, o ônibus da equipe chegou ao estádio 20 minutos antes do apito inicial.

A delegação estava em um hotel no Morumbi. Na manhã da segunda final, o prefeito de Limeira à época, Jurandir da Paixão de Campos Freire, disse a vários jogadores que chegar a final “já estava bom demais”.

Não estava, não.

“Tinha gente que não acreditava muito. Mas a gente, sim. Era o bastante”, conclui Gilberto Costa.

O PÓS-TÍTULO 

Após o título, parte do time campeão debandou. Quem mais tirou proveito foi justamente o Palmeiras derrotado na final. O atacante Tato (autor do segundo gol na final), o zagueiro Juarez e o lateral João Luís (este se transferiu em 1992) passaram pelo Palestra Itália.

A queda era inevitável. A Inter jogou na Primeira Divisão do Brasileiro, mas foi vítima dos mesmos problemas de outros clubes do interior. Padeceu com a dificuldade para manter jovens promessas e a proliferação dos empresários de futebol. Em 2016, disputou a Série A3 do Paulista. Escapou do rebaixamento para a 4 Divisão nas últimas rodadas.

O título de 1986 é uma lembrança que pode ser vista apenas em quadros e pinturas no Estádio Major José Levy Sobrinho.

“Como treinador, foi meu momento mais especial. Ser campeão pelo Santos, pelo São Paulo, é uma coisa. Ser campeão pela Internacional de Limeira é algo completamente diferente. São aqueles momentos em que você faz história. Tenho carinho por Limeira”, conclui Pepe, que seria também campeão brasileiro de 1986 pelo São Paulo.

(Fonte: http://esportes.terra.com.br/lance- ESPORTES – LANCE! – Alex Sabino – 19 ABR 2016)

 

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