Lula enfrenta o vácuo, aos 50 anos, 15 quilos mais magro, fora do PT, Lula quer ser o primeiro ING do Brasil.
Palestras, encontros com sindicalistas, empresários e as indefectíveis reuniões com os companheiros, nas quais o governo, o contrato coletivo de trabalho, a Previdência e os tortuosos caminhos do PT são discutidos com paixão. É assim que funciona o escritório do cidadão Luís Inácio Lula da Silva, o primeiro ING Indivíduo Não Governamental do Brasil. Apesar de continuar aos saltos de um lado para outro, em campanha permanente pelo Brasil afora, Lula baniu da cabeça o calendário eleitoral formal. Ele é candidato ponto.
Por duas vezes, considerado o presidente eleito, tal a sua popularidade. Derrotado por Collor e Fernando Henrique, enquanto o mundo mudava e o PT entrava em crise, Lula parou para balanço. Deixou a presidência do PT e tenta agora um caminho solitário. Quer liberdade política, quer mover-se sem prestar contas ao partido. Ao mesmo tempo, quer recobrar algo da sua vida pessoal.
Enquanto fica na muda, ele tem um cálculo: acredita que, se Fernando Henrique tocar o governo como vem fazendo, deve se reeleger, ou eleger seu sucessor. Como um atirador solitário, mira na disputa que se lançará daqui a oito anos. Seu desafio é portentoso: superar o vácuo, que se prenuncia longo e estável, e ver para que lado o vento político sopra, inclusive no panorama internacional. Ele não tem pressa. Se usasse um botão na lapela, os dizeres seriam Lula na dele. Se tocasse um hino, a música escolhida seria Começar de Novo, de Ivans Lins.
(Fonte: Veja, 25 de OUTUBRO, 1995 Ano28 N°43Edição 1415 BRASIL/Por Silvio Ferraz Pág; 34/35).