Primeiro nadador brasileiro a quebrar dois recordes mundiais da natação
Em 20s91, Cielo vira imortal
Campeão olímpico e mundial quebra recorde dos 50 m livre, em casa, e se torna o homem mais rápido das piscinas
Cesar Cielo promoveu despedida de gala para a era dos maiôs tecnológicos no Brasil ao quebrar o recorde mundial dos 50 metros livre com a marca de 20s91, (18/12), na final do Torneio Open de Natação, no Clube Pinheiros, em São Paulo. Com o resultado, encerra um ano perfeito, consolida posição entre os melhores velocistas da natação de todos os tempos e confirma o justo rótulo de principal nome do esporte brasileiro na atualidade. “A concorrência que fique com medo porque depois dessa até eu estou com medo de mim”, brincou.
Eufórico, elegeu o recorde dos 50 metros como uma das maiores conquistas de sua carreira. “Comemoro como se fosse uma medalha de ouro olímpica, porque estou terminando o ano como recordista mundial dos 50 (metros livre), recordista mundial dos 100 (metros livre) e campeão mundial das duas provas”, avaliou. “Se puxarmos no retrospecto dos campeões velocistas do passado, posso me colocar em um patamar que pouca gente alcançou.”
O feito incrível se deu sob condições adversas. Cielo estava irritado com o desempenho no dia anterior, quando estabeleceu o tempo de 21s02, o segundo melhor da história e apenas oito centésimos atrás da marca do francês Fred Bousquet (20s94), o número 1 até ontem. Não dormiu bem à noite, acordou às 3h30, tomou um energético e se concentrou para a penúltima tentativa de ser o nadador mais rápido do mundo – ainda poderia tentar hoje (19/12), na abertura da final do revezamento 4 x 50 m.
Outro fator desfavorável para Cielo era de que, apesar de já contar com os novos blocos de partida, a piscina coberta do Pinheiros é tecnologicamente defasada em relação às mais modernas. As versões mais avançadas, como as do Cubo D”Água de Pequim, possuem projeto que diminui os efeitos da marola que se forma pelas braçadas e pernadas dos nadadores.
Como se não bastasse, compromissos fora da piscina prejudicaram a preparação após o Mundial de Roma, em que brilhou com ouro nos 50 m e 100 m, em julho e agosto. “Não foi temporada de treino ideal”, admitiu Cielo. “Fui para o Canadá carregar a tocha olímpica (dos Jogos de Inverno) e fiz uma semana de trabalho sozinho, em horários não tão bons.”
Mesmo com os fatores negativos a superar, Cielo acreditava ser capaz até de fazer tempo menor que os 20s91 de ontem. O segredo: pensar somente no desempenho. “Estou tão concentrado na prova nos dias que antecedem à competição que não consigo pensar que estou no Brasil, no Pinheiros”, comentou. “Começo a pensar na prova, mas acho que inconscientemente o fato de competir em casa, ver os amigos na arquibancada e ter o apoio da torcida acrescentam bastante.”
Como é de costume antes de competições, o nadador escreveu em um papel, na quinta-feira, o tempo que acreditava ser capaz de fazer na prova e o entregou a um de seus técnicos, Alberto Silva, o Albertinho. A marca foi revelada posteriormente: 20s86. A pergunta foi inevitável: acha ter condição de ser ainda mais rápido? “No dia que eu achar que eu não vou conseguir baixar (o tempo) vai ser a hora de eu parar de nadar. O limite está na cabeça de cada um.”
(Fonte: www.estadao.com.br Esportes/ Por Valéria Zukeran – Sábado, 19 de Dezembro de 2009)