O primeiro estabelecimento comercial de impressão de fotografias
A história do negativo mais antigo que existe e o ‘momento perfeito’ que ele registra
William Henry Fox Talbot fundou junto com holandês Nicholaas Henneman o primeiro estabelecimento comercial de impressão de fotografias
William Henry Fox Talbot preservou para sempre a imagem da janela de sua residência, a Abadia de Lacock, em Wiltshire, na Inglaterra, no mais antigo negativo fotográfico de que se tem notícia, criado em 1835.
A abadia era o lar de sua família desde 1574, herdado de pai a filho, século após século.
William Henry Fox Talbot nasceu em 1800 numa família aristocrática. Diz-se que quando o rei Carlos II voltou à Inglaterra para a restauração da monarquia, seu antepassado John Talbot foi a primeira pessoa que o recebeu.
Porém, antes de nascer, o pai de Fox Talbot acumulara uma enorme dívida, o equivalente hoje a cerca de US$4 milhões (R$12,4 milhões). Além disso, Talbot perdeu o pai quando tinha apenas 5 meses.
Sua mãe, Lady Elisabeth, viúva aos 27 anos, tinha apenas uma opção diante da pressão dos credores: alugar a casa e ir embora. Ela e seu filho passaram os 25 anos seguintes mudando-se de casa em casa, vivendo em mansões de amigos e familiares.
A importância do duradouro
A ameaça que pairava sobre sua própria casa, que poderia ser perdida a qualquer momento, impactou fortemente Fox Talbot.
O jovem certamente tinha interesse na permanência. Quando começou a escrever cartas no internato de Harrow, aos 8 anos, expressou um desejo muito específico: “Diga a mamãe e a todos que guardem as cartas, não as queimem”.
O inglês guardava tudo: ainda se conservam seus cadernos, cartas e anotações. Graças a isso que sabemos que, aos 11 anos, ele já escrevia a sua mãe em francês, salpicado de latim e grego.
E também era curioso. Durante seus anos no internato, ele convenceu um ferreiro da cidade de Harrow a deixá-lo fazer experiências químicas em sua oficina.
Na Universidade de Cambridge, continuou desenvolvendo seu interesse por diferentes áreas. Ganhou uma medalha em estudos clássicos e um prêmio por seus versos gregos, enquanto se dedicava a aprender matemática e ciência.
Quando se graduou, a Abadia de Lacock continuava alugada. E Talbot foi viajar.
Em 1828, a família recuperou a casa. Dois anos depois, Fox Talbot se casou com uma mulher chamada Constance; e em mais dois anos, eles tiveram sua primeira filha, Ela, em memória à condessa que fundou a Abadia de Lacock, em 1232.
Quando sua vida tinha finalmente endereço fixo, Fox Talbot começou a pesquisar como tornar a luz efêmera em imagem permanente.
Não era a única pessoa em busca desse feito. Na Europa e nos Estado Unidos, vários se esforçavam em encontrar uma mistura química apropriada que reagiria com a luz para capturar imagens e firmá-las em papel ou vidro.
Sabia-se que a luz produzia um efeito em certas tintas e produtos químicos – as cores do papel de parede perdiam sua intensidade nos lugares expostos à luz, um contraste que se notava ao mover um móvel de lugar.
Só que era preciso um pigmento que reagisse de forma muito precisa e que deixasse de reagir quando necessário.
Experimentos químicos
Fox Talbot fez experimentos com a câmera escura, um equipamento que refletia uma imagem do mundo real num papel branco.
Mas essas imagens não eram fixas, mudavam constantemente, tanto que ele as chamou de: “imagens de fadas, criações de um momento destinadas a desaparecer com a mesma rapidez”.
Fox Talbot, que foi a criança que não queria que suas cartas fossem queimadas, que recuperou a casa da família e que finalmente alcançou estabilidade, tratou de usar os produtos químicos para fazer com a imagem o mesmo que com sua vida: fixá-la.
Por experiências passadas, ele sabia que o nitrato de prata era “uma substância peculiarmente sensível à ação da luz”, de modo que ele cobriu um papel com o produto e o expôs à luz do sol. Não funcionou.
Ele tentou com cloreto de prata; com uma solução salina; mudou as proporções; usou tudo numa ordem diferente… Notou que as bordas do papel escureciam mais rapidamente.
“Suponho que as bordas absorvam uma quantidade menor de sal, e por alguma razão isto as fez mais sensíveis à luz”.
Ele tinha razão: o sal evitava que o papel escurecesse, assim, o usou como fixador. Banhou o papel sensível à luz em água salgada para evitar que a imagem escurecesse mais do que o desejado.
Fixação da imagem em negativo
O problema com um papel que escurece quando recebe luz é que as partes mais brilhantes do mundo real são negras no papel, e vice-versa. Fox Talbot chamou esta imagem ao contrário de “negativo”.
E chegou a uma solução engenhosa: “se o papel é transparente, o primeiro desenho serve para produzir um segundo desenho em que as luzes e sombras estarão ao contrário”.
Talbot percebeu que a luz atravessava o “negativo” e se fixava num papel sensível à luz, formando a imagem com luzes e sombras no lugar correto.
Além disso, os negativos podiam ser usados mais de uma vez para criar cópias do mesmo momento.
Com mais cópias, mais difícil seria destruir no futuro o momento captado do passado – um conceito poderoso para alguém que havia crescido com o temor de perder o lar que há séculos pertenceu a sua família.
Então, em 1835, Talbot chegou ao que hoje é o mais antigo negativo do mundo: uma fotografia de uma das janelas da Abadia de Lacock numa tarde de verão, que poderia ser replicada para sempre.
O desejo de Talbot de se agarrar ao passado não era incomum. A rápida reprodução de fotografias foi um êxito instantâneo.
E 175 anos depois que Fox Talbot inventou o processo negativo/positivo, continuamos obcecados com a capacidade de registrar, reproduzir e difundir fotografias.
(Fonte: Diversão Terra – NOTÍCIAS – BRASIL – Arte e Cultura – 10 Fev 2017)
Este artigo é uma adaptação de um episódio da série BBC Histórias da Ciência.