A medicina brasileira possui recursos para operar e tratar bebês ainda no
útero materno. São as cirurgias intra-uterinas ou tratamentos que exigem um
desenvolvimento médico de alto padrão e que estão à disposição das gestantes
em todo o Brasil. Já é possível realizar implante de drenos, transfusões de
sangue e desobstruir válvula aórticas de bebês doentes ainda dentro da
barriga da mãe. Essas cirurgias e tratamentos que pertenciam às vanguardas
médicas dos países industrializados foram rapidamente assimilados pelos
especialistas brasileiros, que criaram no Brasil, uma forte escola de saúde
fetal.
Quase todas as técnicas usadas atualmente para salvar bebês em formação têm
sua raiz numa descoberta dos anos 70, o aparelho de ultra-som, que fornece
imagens do útero materno sem prejudicar o desenvolvimento do bebê. Tudo o
que se sabia antes sobre o metabolismo fetal baseava-se na observação de
crianças que nasciam mortas.
Em outubro de 1993, o professor de obstetrícia e coordenador do setor de
medicina fetal da Escola Paulista de Medicina Antonio Fernandes Moron, que
coordenou em outubro de 1993, o primeiro simpósio nacional de medicina
fetal. Aparelhos de ultra-som de última geração são os responsáveis pelas
conquistas da medicina fetal.
O médico paulista Milton Nakamura, pioneiro brasileiro dos bebês de
proveta, conclui que é possível determinar com muito maior segurança o tipo
de tratamento a que o feto precisa. Os fetos são considerados pacientes um
tanto peculiares, mas passíveis de ser tratados de suas hérnias, infecções,
obstruções arteriais, doenças graves como a hidrocefalia. Operações que se
tornaram corriqueiras nos hospitais infantis brasileiros e reflete o bom
casamento entre a especialização da ciência médica e o desenvolvimento
tecnológico.
Em Salvador, no mês de setembro de 1993, o ginecologista e obstetra baiano
Antonio Carlos Vieira Lopes combinou técnicas clássicas da medicina com a
ousadia tecnológica para salvar a vida de um bebê.
Pela primeira vez no mundo, Lopes realizou uma transfusão de sangue
diretamente para o coração de um feto. A transfusão em geral é feita via
cordão umbilical. A transfusão direta pelo coração permite que se saiba a
quantidade exata de sangue absorvido. Isso é crucial no caso. A técnica
utilizada para esse tipo de transfusão é simples, mas exige conhecimento e
muita precisão dos especialistas.
O novo método de transfusão desenvolvido pelo médico baiano foi testado no
filho de Marisa Fernandes Genipapeiro Maia, de 39 anos, na época caixa de
supermercado de Salvador. Marcio Vinicius, o filho é sadio como qualquer
criança de sua idade, estava na 31ª semana de gestação quando precisou de
transfusão. Mãe e filho tinham tipos sanguíneos incompatíveis, uma
ocorrência rara e que pode ser facilmente detectada e tratada se percebida a
tempo. Marisa tem fator sanguíneo Rh negativo e o seu filho, positivo. As
diferenças sanguíneas provocam reações do corpo da mãe, que passa a tratar o
feto como se fosse um anticorpo e acaba destruindo seus glóbulos vermelhos,
fundamentais na respiração sanguínea. Casos como o de Marisa, são rotineiros
nos centros de medicina fetal.
Mara Rosane Kihs da Silva, funcionária pública gaúcha, teve problemas
constantes durante a gestação de seus três filhos por causa da
incompatibilidade sanguínea. O parto de sua primeira filha, Rafaela, teve de
ser artificialmente antecipado para que a menina tivesse alguma chance de
sobreviver. Seu segundo filho morreu ainda dentro do útero, aos seis meses
de gravidez, vitimado pela mesma causa. Em 1988, engravidou pela terceira
vez. Na época, para surpresa de Mara, os médicos gaúchos Nilo Frantz, Renato
Frajndlich e Carlos Roberto Maia, do Instituto de Cardiologia e da clínica
particular Clinosom, haviam chegado recentemente da Inglaterra, e trouxeram
técnicas novas, sendo a primeira paciente da equipe a se submeter à
transfusão pelo cordão umbilical.
Luiz Antônio Bailão, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, juntamente
com a sua equipe do centro de medicina fetal do campus da Universidade de
São Paulo em Ribeirão Preto, desenvolvem desde 1969, métodos pioneiros numa
técnica que ainda não está totalmente dominada no mundo, a cirurgia a céu
aberto – ou seja, aquela em que o bebê é retirado do útero, operado e
devolvido ao aconchego materno. Foi um fracasso numa época em que não
existiam métodos eficazes para se examinar visualmente o bebê em formação.
Os especialistas insistem neste tipo de intervenção somente quando ele é a
única maneira de se corrigir prematuramente problemas de má-formação muito
específicos como os de diafragma. Em alguns casos, esse músculo não se forma
por completo e permite a passagem de órgãos abdominais para o tórax.
(Fonte: Revista Veja, 27 de outubro, 1993 – MEDICINA – Ano26 – Nº43 –
Edição1311 – pág; 84/85/86/87/88 e 89)
PRIMEIRO SIMPÓSIO NACIONAL DE MEDICINA FETAL
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