O primeiro bebê nascido de transplante de útero com doadora falecida

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Nasce no Brasil 1º bebê em útero transplantado de doadora morta

Transplante envolveu a ligação de veias do útero da doadora a veias da receptora, além de artérias, ligamentos e canais vaginais

 

Caso do primeiro bebê nascido de transplante de útero com doadora falecida é publicado em revista

 

Funcionários do Hospital das Clínicas observam a bebê que nasceu de um útero doado de uma brasileira falecida (Foto: Hospital das Clínicas da FMUSP)

 

Detalhes do procedimento, realizado inteiramente no Hospital das Clínicas da USP, foram divulgados em (4/12) na revista médica The Lancet.

 

 

 

Uma brasileira que recebeu um transplante de útero de uma doadora morta deu à luz a uma menina, no primeiro caso bem-sucedido desse tipo.

 

O caso, relatado na revista médica The Lancet, envolveu a ligação de veias do útero da doadora a veias da receptora, além de artérias, ligamentos e canais vaginais.

 

Dez casos anteriores de transplante de útero de uma doadora morta nos Estados Unidos, na República Tcheca e na Turquia não resultaram no parto de um bebê vivo. O primeiro caso de transplante de doadora viva aconteceu em 2014, na Suécia. Até hoje, cientistas relataram um total de 39 procedimentos do tipo, que resultaram em 11 partos de bebês vivos.

A menina brasileira nasceu via cesariana, com 35 semanas e três dias de vida, pesando 2,550 quilos, segundo o estudo de caso.

 

 

Dani Ejzenberg, médico do hospital da USP (Universidade de São Paulo ) que liderou a pesquisa, disse que o transplante — realizado em setembro de 2016 quando a receptora tinha 32 anos — mostra que a técnica é viável e que pode dar às mulheres que sofrem de infertilidade uterina acesso a um banco maior de doadoras em potencial.

 

 

A norma atual para o recebimento de um transplante de útero é que o órgão venha de uma parente viva disposta a doá-lo.

“O número de pessoas dispostas e comprometidas a doar órgãos após a morte é muito maior do que o de doadores vivos, o que cria o potencial de uma população de doadores muito mais ampla”, escreveu Ejzenberg em comunicado sobre os resultados.

 

 

Ele acrescentou, entretanto, que os resultados e efeitos de doações de útero de doadoras vivas e mortas ainda têm que ser comparados, e disse que a técnica ainda pode ser refinada e otimizada.

 

 

Especialistas estimam que a infertilidade atinge de 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva em todo o mundo. Deste grupo, cerca de uma a cada 500 mulheres tem problemas uterinos.

 

 

Antes de os transplantes de útero se tornarem possíveis, as únicas opções para estas mulheres eram a adoção ou o uso de barrigas de aluguel.

 

No caso brasileiro, a receptora nasceu sem útero devido a uma doença conhecida como síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser. A doadora tinha 45 anos e morreu devido a um derrame.

(Fonte: https://noticias.r7.com/saude – SAÚDE / por Reuters – 05/12/2018)

“É uma das principais revistas médicas do mundo, então o estudo adquire uma chancela de qualidade”, avalia Dani Ejzenberg, um dos médicos líderes do estudo e supervisor do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas.

Toda a equipe que participou do procedimento é brasileira e está ligada ao Hospital das Clínicas.

“Ficou confirmado como o primeiro caso do mundo, e, até onde sabemos, o único. As melhores equipes, os melhores hospitais do mundo tentaram. E foi aqui que conseguiu. É uma notícia muito positiva não só para a medicina, mas para o país como um todo, que tem tido uma agenda muito negativa nos últimos tempos”, diz Ejzenberg.

Transplante de útero

Tudo começou em 2016, quando uma mulher de 32 anos, que tinha nascido sem útero por causa de uma síndrome (Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser), recebeu o órgão de uma doadora já falecida.

Outros transplantes de útero com doadoras falecidas já tinham sido realizados no mundo, mas nenhum bebê tinha nascido depois desse procedimento — até o caso brasileiro.

“É um feito histórico — o primeiro caso sempre marca”, diz Wellington Andraus, também primeiro autor do estudo e coordenador do serviço de transplante de fígado do Hospital das Clínicas. Ele foi um dos médicos que realizou o transplante.

Pioneirismo

Para os cientistas, o caso vem marcar, mais uma vez, o pioneirismo brasileiro em transplantes. O Brasil fez o primeiro transplante de fígado entre pessoas vivas e um dos primeiros transplantes de coração do mundo. Já o transplante do útero em 2016 foi o primeiro na América Latina. Para os médicos, ele tem três novidades na forma que foi feito:

  • O tempo de isquemia — período em que o órgão fica sem oxigenação —, que foi o maior já registrado: 7 horas e 50 minutos.

 

 

  • A quantidade de ligações de vasos que foram feitas. Andraus ligou duas artérias e quatro veias. Em procedimentos anteriores, eram ligadas duas artérias e duas veias.

 

 

  • Um tempo menor até a transferência do embrião para dentro do útero. Antes, os médicos esperavam cerca de um ano, depois do transplante, para transferir o embrião. No caso brasileiro, foram 7 meses do transplante até a transferência.

A diminuição nesse tempo faz com que a paciente tenha que ficar menos tempo tomando medicações imunossupressoras — que “restringem” o sistema imunológico — o que reduz os custos e também os riscos de algum efeito colateral. Segundo Andraus, o único que a paciente sofreu foi uma infecção urinária — mas que costuma ser comum em mulheres grávidas.

Depois do nascimento, os médicos retiraram o útero. Desde o transplante feito em 2016, eles realizaram uma nova tentativa, em fevereiro de 2017, mas o órgão teve que ser retirado por conta de uma trombose que a paciente sofreu.

Para os cientistas, o transplante simboliza mais uma possibilidade não só de tratamento de infertilidade, mas também de melhora na qualidade de vida das pacientes.

“A adoção é uma opção para ter um filho, mas não é uma opção para ter um filho biológico. E tem gente que faz questão. A barriga de aluguel não está disponível para todas as mulheres. A mulher que quer ser mãe muitas vezes quer engravidar também, porque faz parte do processo. É difícil julgarmos a opção de cada um”, opina Andraus.

Ejzenberg acredita,porém, que ainda é cedo para que o procedimento seja incorporado ao SUS, por exemplo, porque é preciso estudar melhor o processo. Ele avalia que a possibilidade de receber o órgão de uma doadora falecida pode ajudar, no entanto, a universalizar o processo, pois vários países já têm redes de captação de órgãos.

Números

  • Quantos transplantes de útero já foram feitos no mundo? 50, de acordo com o estudo publicado nesta terça (4).

 

 

  • Quantos foram feitos com doadoras falecidas? 11.

 

 

  • Quantos bebês vivos já nasceram de úteros transplantados? 12 (um deles era uma “gravidez em progresso” na publicação do estudo). O bebê brasileiro foi o décimo.

 

 

  • Qual a novidade do estudo brasileiro? Foi o primeiro bebê a nascer de um útero transplantado de uma doadora já falecida. Já houve outra gravidez desse tipo, na Turquia, mas a mulher acabou perdendo o bebê.
 (Fonte: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2018/12/05 – CIÊNCIA E SAÚDE / NOTÍCIA / Por Lara Pinheiro, G1 – 05/12/2018)
Brasil tem primeiro bebê concebido em útero transplantado de falecida
O primeiro bebê do mundo concebido a partir de um útero transplantado de uma doadora falecida nasceu no Brasil há um ano, informou nesta quarta-feira a revista científica The Lancet.
Sete meses após o nascimento, o bebê – uma menina com 7,2 quilos – e sua mãe estão bem, segundo o Hospital Universitário de São Paulo, que realizou o procedimento em 2016.
Foi a primeira vez, após uma dezena de tentativas fracassadas nos Estados Unidos, República Tcheca e Turquia, que um transplante de útero a partir de uma doadora morta permitiu um nascimento.
Também foi o primeiro nascimento mediante transplante de útero na América Latina.
Desde a primeira doação de útero a partir de uma mulher com vida, em 2013, na Suécia, foram realizados 39 transplantes, dos quais 11 permitiram dar à luz.
“O recurso à doadoras falecidas poderá ampliar consideravelmente o acesso a este tratamento” por parte das “mulheres que sofrem esterilidade de origem uterina”, declarou o doutor Dani Ejzenberg, que dirigiu o procedimento no Hospital Universitário de São Paulo.
Até o momento, “a única gravidez decorrente de um transplante de útero retirado post mortem havia ocorrido em 2011, na Turquia”, resultando em um aborto espontâneo, recordou o doutor Srdjan Saso, do departamento de obstetrícia do do Imperial College de Londres.
Esta bem sucedida experiência no Brasil apresenta “várias vantagens em relação a um útero de doadora viva: o número potencial de doadoras é maior, o custo é menor e evita riscos para a doadora viva”.
Para o professor Andrew Shennan, obstetra do Kings College de Londres, o procedimento “abre o caminho para a doação post mortem, como já é o caso para outros órgãos”, o que “permitirá às mulheres que não podem conceber (…) engravidar sem depender de doadoras vivas ou de mães de aluguel”.
Procedimento de longa duração
A operação foi realizada em setembro de 2016. A mulher que recebeu o útero tinha 32 anos e nasceu sem o órgão (síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser). Antes do transplante, se submeteu a uma fecundação in vitro (FIV).
O útero foi retirado de uma mulher de 45 anos morta por um derrame cerebral e doadora de vários outros órgãos (coração, fígado e rins), de fator Rh 0 positivo.
A operação durou dez horas e trinta minutos e foi seguida por um tratamento imunossupressor para evitar a rejeição.
Cinco meses após o transplante, a mulher teve a primeira menstruação normal e dois meses depois, com a transferência do embrião, engravidou.
A gravidez transcorreu sem dificuldades e o bebê nasceu – de cesariana – após 36 semanas de gestação, no dia 15 de dezembro de 2017, em estado ligeiramente prematuro mas considerado oportuno pelos médicos para se evitar complicações.
O bebê pesava então 2,550 quilos e estava em perfeito estado de saúde. O útero foi retirado durante a cesariana para permitir a suspensão do tratamento imunossupressor.
A criança e a mãe tiveram alta em apenas três dias.
Os autores do estudo destacam que o transplante de útero post mortem pode abrir novas possibilidades, já que em muitos países já há regulamentação sobre este tipo de doação.
(Fonte: https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/ciencia/2018/12/05 – ÚLTIMAS NOTÍCIAS / CIÊNCIA / Por AFP Em Paris – 05/12/2018)
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