Pyotr Leonidovich Kapitsa, recebeu a Medalha de Ouro Internacional Niels Bohr, da Dinamarca, um prêmio consagrador

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Kapitsa: físico e humanista

Pyotr Leonidovich Kapitsa (Kronstadt, 9 de julho de 1894 – Moscou, 8 de abril de 1984), físico soviético que se destacou entre a trinca de ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 1978, anunciado em 17 de outubro pela Real Academia Sueca, em Estocolmo.

Kapitsa, de 82 anos, colecionou tantos sucessos em diversos campos da física, desde a década de 30, porque ele granjeou fama mundial devido à sua preocupação com questões morais, filosóficas e políticas. Defensor de maior liberdade de debates, não apenas no terreno científico, Kapitsa chegou a ser “congelado” pelas autoridades soviéticas em fins do governo de Stálin. Mesmo assim, jamais deixou de produzir inovações em física e de tecer francamente suas críticas a aspectos que considerava condenáveis no regime soviético.

Entre os vários estudos importantes que realizou, estão “suas descobertas e invenções no campo da física de baixa temperatura”. Esses estudos, para Kapitsa, começaram na Universidade de Cambridge, Inglaterra, onde estudou e lecionou de 1921 a 1934. Ali construiu uma máquina capaz de produzir grandes quantidades de hélio líquido. Na operação, esse elemento descia a temperaturas quase impossíveis, perto do chamado “zero absoluto” (273 graus centígrados negativos). Devido a tais descobertas, depois aperfeiçoadas, receberia em 1956 a Medalha de Ouro Internacional Niels Bohr, da Dinamarca, um prêmio também consagrador. E não demoraria muito para que fosse considerado internacionalmente como “o pai da física de baixa temperatura”. As aplicações práticas viriam pouco a pouco. Mais tarde, os processos descobertos por Kapitsa já entravam na fabricação de computadores e no resfriamento do aço produzido nas siderúrgicas.

UMA REVOLUÇÃO – Talvez mais retumbante, pela repercussão alcançada, tenha sido sua descoberta de 1973, ligada à questão da sonhada fusão nuclear. Ao contrário do processo da fissão, que tira energia da quebra dos núcleos atômicos – atualmente largamente utilizada nos reatores a urânio -, a fusão se dá pela junção de núcleos atômicos. É daí que nasce a energia do Sol e das outras estrelas. A fusão, no entanto, só acontece a altíssimas temperaturas, de cerca de 100 milhões de graus centígrados. Produzi-la sob controle, em laboratório, era o grande desafio aos cientistas que há décadas conheciam teoricamente o processo sem contudo encontrarem condições de executá-lo na prática.

Kapitsa deu um passo decisivo nesse sentido. Não conseguiu controlar a fusão nuclear, bem entendido. Mas chegou a manter sob controle a substância usada nessa reação – o plasma, nem gasoso nem líquido, constituído de hidrogênio, deutério e hélio. Por várias horas, Kapitsa conservou o plasma a 1 milhão de graus centígrados. Nada menos, tratava-se de uma revolução. Até então, conseguira-se apenas controlar o plasma por milésimos de segundos. Mais tarde, cientistas americanos atingiam a temperatura de 60 milhões de graus e avançaram outro passo na direção do controle da fusão nuclear. Ela finalmente foi controlada, nos inícios do século XXI, o homem têm à sua disposição uma importante fonte de energia, baseada no aproveitamento do hidrogênio, elemento inesgotável por ser abundante na água do mar. E o nome de Kapitsa está obrigatoriamente inscrito na história desse decisivo salto científico.

ESTUDANTES – A trajetória de Kapitsa como cidadão soviético conheceu altos e baixos. Formou-se em 1918 e, três anos mais tarde, obteve permissão para trabalhar na Inglaterra com o físico nuclear Ernest Rutherford (1871-1937). Em 1935, como fazia frequentemente, visitou a pátria. Mas, desta vez, não pode sair, proibido por Stálin, que o queria a serviço da União Soviética. Kapitsa ficou e começou a trabalhar imediatamente como diretor do Instituto de Problemas Físicos de Moscou, criado especialmente para ele. As honrarias se acumulavam. Recebeu o título de “Herói do Trabalho Socialista”; por duas vezes ganhou o Prêmio Stálin; e, finalmente, em 1946, recebeu a mais alta distinção soviética, a Ordem de Lênin.

Por sua independência de opinião, caiu porém em desgraça e viveu alguns anos em prisão domiciliar, até a morte de Stálin. Kruschev o reabilitou e lhe entregou novamente a chefia do Instituto de Problemas Físicos de Moscou. Nem por isso pararia com seus pronunciamentos que, na verdade, não se enquadram no típico modelo dos dissidentes soviéticos.

(Fonte: Veja, 25 de outubro de 1978 – Edição 529 – CIÊNCIA – Pág: 70)

 

 

 

 

 

 

 

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