Qorpo-Santo, foi comerciante, professor, vereador, delegado de polícia.

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José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo (Triunfo, 19 de abril de 1829 – Porto Alegre, 1º de maio de 1883), foi comerciante, professor, vereador, delegado de polícia.

Qorpo-Santo nasceu em Triunfo, Rio Grande do Sul, e percorreu várias localidades do interior antes de se estabelecer em Porto Alegre. Ele era o louco da vila. Suas maluquices incorporam-se ao folclore de Porto Alegre.

Consta, que ele não usava a porta da casa, preferindo entrar sempre pela janela. Também seus versos – “de pé quebrado” e “sem nexo” – foram motivo de chacota.

Nos anos 20, alguns críticos citaram esses poemas como precursores do modernismo. Mas, com o tempo, ideias como essa deixaram de ser piada e começaram a ser levadas a sério. Sua obra foi apontada como precursora do surrealismo do francês André Breton e do teatro do absurdo do romeno Eugène Ionesco.

Esses paralelos talvez sejam arbitrários ou abusivos, mas não há dúvida de que Qorpo-Santo foi um autor original, como constata-se em seu Teatro Completo.

Adotou o nome Qorpo-Santo por razões místicas que não explica muito bem – em seus escritos, compara-se a Jesus Cristo e afirma encontrar-se, pelo fenômeno da “transmigração das almas”, com o espírito de Napoleão III. A grafia de “Qorpo” obedece à ortografia criada pelo autor, que assim desejava simplificar a escrita em português.

A extensão e a natureza de seus problemas mentais não são claras. Os médicos que o examinaram no Rio de Janeiro, em 1868, declararam que estava apto para administrar negócios e família. Porém, de volta a Porto Alegre, no mesmo ano, foi interditado pela Justiça. Conseguiu montar uma gráfica, em 1877, para imprimir uma estranha série de livros intitulada Ensiqlopédia, ou Seis Mezes de huma Enfermidade.

As dezessete comédias (uma delas incompleta) reunidas em Teatro Completo são todas datadas de 1866 e levariam exatamente um século para ser encenadas.

A primeira montagem foi realizada por um grupo estudantil de Porto Alegre, em 1966. É um autor difícil, que exige ousadia da direção. Os personagens não apresentam uma identidade coerente, e suas ações são as mais desvairadas: ateiam fogo no cenário, soltam ratos no palco, bolinam e espancam uns aos outros.

Muitas peças têm uma pesada carga sexual. As Relações Naturais inclui cenas em um bordel e insinuações de incesto. A Separação de Dois Esposos encerra-se com um diálogo hilariante entre Tatu e Tamanduá, o primeiro casal gay da dramaturgia brasileira.

O curioso é que o dramaturgo era um conservador empedernido. Só quando escrevia, o monarquista José Joaquim de Campos Leão dava lugar ao anárquico Qorpo-Santo.

(Fonte: Veja, 9 de janeiro de 2002 – ANO 35 – N° 1 – Edição 1733 – LIVROS/ Por Jerônimo Teixeira – Pág: 103)

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