Rubens Francisco Lucchetti, escritor mestre do horror
Lucchetti marcou terror brasileiro em livros, filmes e HQs
Pioneiro no gênero, autor deixou mais de 1.500 obras
Referência no estilo pulp fiction, Lucchetti trabalhou com José Mojica Marins para dar vida ao personagem Zé do Caixão.
Lucchetti à máquina de escrever para criar mais um texto — (Foto: Amanda Pioli/G1)
Rubens Francisco Lucchetti (nasceu na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, em São Paulo – faleceu em 4 de abril de 2024, em Ribeirão Preto), escritor e roteirista considerado referência no gênero de horror no Brasil, mais conhecido como R. F. Lucchetti, era uma das mentes mais prolíficas da literatura e cinema brasileiros. Primeiro escritor brasileiro assumidamente dedicado ao gênero, povoou com suas criaturas sobrenaturais e sua visão de mundo soturna mais de 1.500 livros e HQs, além de roteiros para filmes de Zé do Caixão e Ivan Cardoso.
Referência no estilo pulp fiction, Lucchetti dedicou 80 anos de vida a contos de terror ou eróticos e a textos fictícios de investigações policiais. Ele ganhou notoriedade nos anos 1960 graças à parceria com o cineasta José Mojica Marins, famoso no papel do personagem Zé do Caixão.
Junto com Mojica, que morreu em 2020, foram pelo menos 15 filmes produzidos, entre eles os sucessos ‘O Estranho Mundo do Zé do Caixão’ (1967), ‘Ritual dos Sádicos’ (1969) e ‘Inferno Carnal’ (1976).
A produção do escritor, considerado o papa da “pulp fiction” nacional, inclui desde ficção policial a romances eróticos, mas foi no horror que ele se destacou, sendo considerado o mestre desse gênero no Brasil.
Ficcionista, desenhista, articulista e roteirista de filmes, histórias em quadrinhos (HQs) e fotonovelas, filho de descendentes de italianos, Lucchetti nasceu na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, em São Paulo, e escreveu mais de 1.500 livros e dezenas de filmes ao longo de mais de sete décadas de carreira. Várias de suas obras foram publicadas sob pseudônimos como Vincent Lugosi, Brian Stockler e Isadora Highsmith.
Ele roteirizou filmes de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, incluindo clássicos como “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, “O Despertar da Besta”, “Finis Hominis” e “A Praga” “restaurado e relançado recentemente nos cinemas”, e de Ivan Cardoso, como “O Escorpião Escarlate” e “O Segredo da Múmia”, pelo qual ganhou um Kikito, prêmio máximo nacional concedido no Festival de Cinema de Gramado. Além disso, fez roteiros para gibis de nomes como Nico Rosso e Eugênio Colonnese.
Ele se aproximou do horror ainda criança ao ler as histórias do escritor americano Edgar Allan Poe. Ainda adolescente, começou a publicar contos, poemas e resenhas de livros em jornais locais.
Em Ribeirão Preto, para onde se mudou com a família nos anos 1950, Lucchetti escreveu roteiros de seriados para rádio e TV, fez publicações para revistas policiais como “X-9”, “Detective” e “Contos Magazine”.
Na cidade, ele ainda fez comentários para radionovelas e publicou histórias em jornais da época.
Nos anos 1960, ele decidiu se dedicar em tempo integral ao chamado pulp fiction, livros populares e baratos. “Escrever para mim é uma necessidade física”, disse Lucchetti em uma entrevista ao jornal The New York Times na qual refletiu sobre a velhice.
“O horror nasceu comigo, está no DNA. Eu não sei explicar porque escolhi o horror, que escrevo aliado ao suspense. É o que eu sei fazer. Eu adoro essa fantasia e, no fundo, é o que a gente cresce ouvindo. O que são os contos de fada? São histórias de terror em que a gente se apaixona pelas bruxas. E foi essa perspectiva que foi me moldando”, disse ao g1, em outubro de 2014.
Vida e obra
Lucchetti nasceu em Santa Rita do Passa Quatro (SP), em janeiro de 1930, mas se mudou com a família para São Paulo (SP), onde deu os primeiros passos na literatura. Aos 12 anos, conseguiu emplacar o primeiro texto da vida, chamado “A Última Testemunha”, em um jornalzinho de bairro.
Ele cresceu lendo as histórias policiais mais famosas entre as décadas de 1940 e 1960, inspiradas na literatura de Arthur Conan Doyle, criador do detetive Sherlock Holmes, e Agatha Christie, em ‘Assassinato no Expresso Oriente’ e ‘Convite Para Um Homicídio’.
Por volta de 1945, o escritor conseguiu que seus textos fossem lidos em um conhecido programa radiofônico, conduzido por Octavio Gabus Mendes. As produções chamaram tanto a atenção do apresentador pela originalidade, que, na época, ele teria afirmado que o jovem escritor “tinha uma imaginação muito fértil e que poderia ser aproveitado na televisão”, aparelho ainda inédito no Brasil.
Mais tarde, de volta a Ribeirão Preto, continuou produzindo. Em 2014, o escritor disse ao g1 que sua obra já somava 1.547 títulos publicados, 300 quadrinhos assinados, mais de 25 roteiros de filmes, três programas de televisão e centenas de artigos divulgados em revistas e jornais e produções para rádio.
Vampiros, fantasmas, zumbis, assassinos e policiais povoam títulos como ‘Noite Diabólica’ (1963), ‘Os Vampiros Não Fazem Sexo’ (1974) e ‘O Fantasma de Tio William’ (1992).
Em 2014, o escritor foi indicado na categoria ilustração ao Prêmio Jabuti, pelo livro ilustrado ‘Fantasmagorias’, do qual foi roteirista.
Parte da obra do mestre do horror chegou às livrarias assinada com pseudônimos como Vincent Lugosi, Brian Stockler e Myléne Damarest, para atrair público.
“Uma vida passa no espaço de um suspiro”
Lucchetti faleceu na madrugada de quinta-feira (4) aos 94 anos. A informação foi confirmada pelo filho do autor.
Atualmente, Lucchetti morava em Jardinópolis (SP) com o único filho, Marco Aurélio.
Ele ficou 15 dias internado em um hospital de Ribeirão Preto para tratar uma pneumonia, mas acabou não resistindo.
(Créditos autorais: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/em-cena/noticia/2024/04/05 – Globo Comunicação/ RIBEIRÃO E FRANCA/ EM CENA/ Por g1 Ribeirão e Franca –
(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – Folha de S.Paulo/NOTÍCIAS/ BRASIL/ (FOLHAPRESS)/ por Marcelo Miranda – SÃO PAULO, SP – 11.abr.2024)
Marcelo Miranda