Raíssa Maksimovna Titorenko (5 de janeiro de 1932 – 20 de setembro de 1999), ex-primeira-dama soviética, celebrada ao redor do mundo mas odiada em seu próprio país
Em 1986, durante visita do casal Gorbachev à Casa Branca, em Washington, a então primeira-dama da extinta União Soviética deixou boquiabertos os anfitriões. Trajando finas roupas de grife, deu uma aula sobre as obras de arte expostas na sede do governo americano, para assombro do casal Ronald e Nancy Reagan.
Dois anos depois, foi a vez do então presidente brasileiro José Sarney e sua esposa, Marli, ficarem impressionados, durante visita oficial ao museu de ícones russos, no Kremlin. “Raíssa deu uma explicação memorável sobre a pintura religiosa russa”, lembra Sarney. Culta e elegante, ex-professora de filosofia marxista-leninista, ela brilhava para as plateias internacionais ao mesmo tempo em que era odiada em terreno doméstico, por passar a impressão de que interferia demais em assuntos de Estado.
Nascida Raíssa Maksimovna Titorenko, em 5 de janeiro de 1932, filha de um ferroviário do sul da Sibéria, ela conheceu o marido enquanto ainda eram estudantes na Universidade Estatal de Moscou, ela de Filosofia e ele de Direito. Raíssa foi aos poucos criando espaço para si, até se tornar a primeira esposa presidencial a assumir papel público na União Soviética, cuja população estava acostumada a ter primeiras-damas invisíveis, tratadas como questão de segurança nacional.
Ambos comunistas militantes, casaram em 25 de setembro de 1953, mas só fizeram a festa em 7 de novembro, aniversário da revolução soviética. A devoção à causa operária, no entanto, não impediu que ela se tornasse uma mulher com gosto por jóias e roupas caras, o que provocou muito ressentimento entre os russos, condenados à pobreza. Tinha também uma queda pelo exagero, como o vestido vermelho com que visitou o papa João Paulo II, em dezembro de 1989.
Ela foi conselheira política do marido durante a perestroika (reconstrução) e a glasnost (transparência), iniciativas que levaram à fragmentação do império soviético e à queda do Muro de Berlim, selando o fim da Guerra Fria, em 1989. “Eu não poderia viver sem Raíssa”, Gorbachev chegou a admitir. Devotados um ao outro, eles celebrariam seu 46.º aniversário de casamento dentro de alguns dias.
Durante os dois meses em que esteve internada, sofrendo tratamento quimioterápico na clínica universitária de Muenster, ela esteve acompanhada pela única filha, Irina Virganskaya, e pelo marido. “Queria apertá-la em meus braços, mas não podia porque a exporia a infecções”, conta Gorbachev. “Só podia sorrir para ela.”
A morte de Raíssa dia 20 de setembro de 1999, no entanto, após dois meses de luta contra a leucemia, foi um choque dentro e fora da Rússia. “Essa perda é sentida hoje por milhões de russos e cidadãos de outros países onde ela era conhecida e respeitada”, disse o presidente russo, Boris Yeltsin. Feroz adversário de Mikhail Gorbachev, 68, a quem confinou em prisão domiciliar durante a tentativa de golpe de 1991, Yeltsin ordenou que um avião governamental voasse a Muenster, na Alemanha, para trazer o corpo da ex-primeira-dama.
Raíssa foi sepultada com honras de Estado em 23 de setembro, no cemitério do mosteiro de Novodevichy, que guarda vultos da história russa como o escritor Anton Chekhov e o ex-líder soviético Nikita Kruchev.
(Fonte: http://www.terra.com.br/istoegente/08/tributo – TRIBUTO – 27 de setembro de 1999)