Raoul Dufy, é considerado um dos grandes popularizadores da arte moderna.

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Cores e bom humor; o pintor que celebrava a vida

 

Raoul Dufy (Havre, França, 3 de junho de 1877 – Forcalquier, 23 de março de 1953), pintor francês que celebrava a vida na Europa do início do século 20. Naquela época, a última que gerou verdadeiros gênios da pintura, no impressionismo reinavam nomes do quilate dos franceses Claude Monet e Auguste Renoir. Entre os expressionistas, estava o norueguês Edvard Munch. O espanhol Pablo Picasso e seu subversivo cubismo, mas também viveu o francês Raoul Dufy. A posteridade não lhe conferiu a mesma estatura de seus contemporâneos, argumentando que sua obra faz concessões ao ornamental e ao decorativo.

 

 

Raoul Dufy produziu um acervo estupendo de pinturas e aquarelas. Também criou gravuras e desenhou estampas para tecidos e ilustrações para livros. Principalmente por essas duas últimas atividades, é considerado um dos grandes popularizadores da arte moderna.

 

 

Raoul Dufy era dono de um senso de humor aguçado. Quando terminava um retrato, costumava dizer ao modelo: “Agora trate de se parecer com o quadro”. A maior parte de seu trabalho reflete essa alegria em cores vibrantes e cenas ligadas à vida ao ar livre e aos esportes. Seus temas prediletos eram as regatas, as corridas de cavalo, as marinas, os portos, as ruas das cidades, os salões de jogos e as recepçõees mundanas. Até mesmo suas naturezas-mortas, que em geral retratam vasos de flores, possuem uma exuberância de cores e formas que faz bem ao espírito do observador. As naturezas-mortas, por sinal, só despertaram seu interesse nos anos de maturidade. Antes disso, ele as desprezava com a seguinte ironia: “Ao contrário de Cézanne, não consigo entabular uma conversa longa e íntima com uma maçã ou com um bule de café”. Apesar de tiradas como essa, Dufy não era exatamente um iconoclasta. Ele aprendeu aplicadamente as lições dos grandes pintores da época, que transplantava para seus quadros sem disfarçar.

 

 

Raoul Dufy nasceu no Havre, o grande porto do norte da França, de família pobre. Na virada do século, conseguiu uma bolsa de estudos na Escola de Belas-Artes de Paris. Ao chegar à cidade, no entanto, a cartilha acadêmica lhe pareceu aborrecida diante do grande fenômeno que abalava a pintura: o impressionismo. A princípio, aderiu ao estilo. Em 1904, virou-lhe as costas e tornou-se um dos fundadores do fauvismo, movimento liderado por Henri Matisse. O fauvismo (do francês fauve, que significa “fera”) não durou muito, mas sacudiu o cenário das artes. Seus integrantes, radicalizando o caminho aberto pelo holandês Van Gogh e pelos franceses Paul Gauguin e Paul Cézanne, defendiam a supremacia das cores na pintura. Usavam pinceladas fortes, às vezes negligenciando o volume e o contorno das formas em favor da explosão colorida. Um choque para a época.

 

 

Ao aderir ao fauvismo, Dufy, que já não ganhava grande coisa com seus quadros, simplesmente viu as portas das galerias se fecharem e a freguesia sumir. Ninguém queria pendurar na sala aquelas telas de colorido agressivo e esquisito. O artista estava á beira da fome quando o poeta Guillaume Apollinaire lhe encomendou as ilustrações de seu livro Le Bestiaire. Elas foram recebidas com entusiasmo pelo público e lhe valeram um oportuno convite. Um industrial de Lyon, interessado em inovar o mundo da moda, confiou-lhe uma soma para que montasse um ateliê de estampas para tecidos e tapeçarias. Dufy contratou um químico especialista em anilina e corantes, um operário e pés mãos á obra. O empreendimento foi um grande sucesso. Durante quinze anos, as estampas de Dufy cobriram damas da sociedade europeia, e ele finalmente conseguiu independência financeira para criar suas telas e aquarelas sem se preocupar com a refeição do dia seguinte. Em 1925, abandonou os tecidos e retomou plenamente a carreira artística. Já liberto dos arroubos do fauvismo, criou o estilo que marca suas melhores obras. Nele, a cor é ainda marcante, mas envolve o espectador em vez de chocá-lo.

(Fonte: Veja, 11 de agosto de 1999 – ANO 32 – N° 32 – Edição 1610 – ARTE/ Por Okky de Souza – Pág: 144/145)

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