Raul Castro, embaixador americano na Argentina, e governador do Arizona de 1975 a 1977.

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Raul Castro, embaixador americano na Argentina. Mexicano de Sonora, naturalizado americano e governador do Arizona de 1975 a 1977. Despediu-se de seu cargo em 9 de junho de 1980, oficialmente, Castro diz ter sido desmobilizado de seu cargo para ajudar o presidente Jimmy Carter em sua campanha pela reeleição. Castro de fato, poderá ser de alguma valia para Carter, pois goza de considerável prestígio político junto ao eleitorado de origem latina. Não se pode deixar de levar em conta, porém, que razões de outra ordem vinham aumentando sua incompatibilidade com o cargo de embaixador na Argentina – ou pelo menos com o que o governo americano esperava dele nessa função. Durante os trinta meses em que permaneceu no cargo, Castro, em nenhum momento, mostrou-se favorável à política de defesa dos direitos humanos, levada por Carter à Casa Branca, e executada por Patricia Derian, assessora do Departamento de Estado para o assunto.

“NÃO SOU POLICIAL” – Essa postura, considerada por Derian como “tolerante” para com o governo do presidente Jorge Rafael Videla, revelou-se particularmente insustentável depois que Cartes, em 1978, criticou abertamente o governo argentino como sendo o “campeão mundial” das violações dos direitos humanos. Desde então os atritos entre Castro e o Departamento de Estado se sucederam. O mais grave deles teve lugar em setembro de 1979 e coincidiu com a visita da Comissão de Direitos Humanos da OEA à Argentina. Naquela época um desastrado porta-voz do Departamento de Estado anunciou que o governo americano havia pedido a Castro que “investigasse” a existência, na Argentina, de “campos de concentração clandestina” onde estariam sendo mantidos presos políticos. Castro, indignado, respondeu publicamente: “Diplomata faz diplomacia, investigar é coisa da polícia. Eu sou um diplomata, não um policial.”

(Fonte: Veja, 18 de junho de 1980 – Edição n° 615 – ARGENTINA/ Pág; 40/41)

Estados Unidos omitiram informação sobre desaparecidos na Argentina

Algumas semanas depois que os cadáveres de sete mulheres que lideravam uma cruzada para libertar seus entes queridos apareceram em uma praia do sul da Argentina, em 1978, o governo dos EUA se inteirou de quem eram os culpados pelos assassinatos: a junta militar que governava o país. Mas ocultou esta informação. Foi o que admitiu um ex-diplomata americano.

Raúl Castro, na época embaixador dos EUA na Argentina, disse que ele considerava mais importante trabalhar nos bastidores para conseguir que o regime anticomunista de Buenos Aires melhorasse a situação dos direitos humanos do que criticá-lo publicamente.

“Estávamos tentando defender os direitos humanos, mas em silêncio”, disse Castro, um ex-governador do Arizona. Castro discutiu o episódio na semana passada logo após a publicação, pela instituição privada Arquivos de Segurança Nacional, de documentos previamente secretos nos quais se indicava que, de acordo com a informação do governo dos EUA, as mulheres haviam sido presas por funcionários da junta militar argentina. A responsabilidade da junta nesses assassinatos se confirmou só depois de sua queda, em 1983.

As sete mulheres estavam entre as “Mães da Praça de Maio”, que representavam familiares de milhares de “desaparecidos”, opositores do regime militar que foram seqüestrados e depois assassinados e enterrados em fossas comuns.

Doze dirigentes das “Mães” foram seqüestradas em dezembro de 1977. A junta acusou os rebeldes esquerdistas como responsáveis pelos seqüestros. Castro, porém, logo se inteirou, através de seus contatos na junta, de que as mulheres haviam sido seqüestradas pelo governo e que as “evidências” atribuindo a culpa aos rebeldes não passavam de invenção.

Em 20 de janeiro de 1978, em um telegrama enviado ao Departamento de Estado, disse que “nossas fontes concordam que a operação foi promovida por algum setor das forças de segurança, mas não ficou claro de que grupo se trata…”. E, referindo-se ao grupo rebelde dos Montoneros, Castro disse que “a suposta nota dos Montoneros assumindo a responsabilidade pelo seqüestro foi de modo geral desconsiderada…”.

O então embaixador americano, que conhecia pessoalmente algumas das sete desaparecidas, fez de início fortes pressões pela sua libertação. Mas em um telegrama enviado mais tarde, disse que novos protestos seriam infrutíferos e só causariam “reticência, se a junta estiver retendo informações de modo deliberado…”.

Em 20 de março de 1978, Castro enviou outro telegrama a seus chefes no governo do presidente Jimmy Carter, indicando que vários cadáveres “haviam chegado à praia” no sul da Argentina “devido a ventos muito fortes”. No total, eram sete cadáveres, incluindo os de duas freiras francesas. O comunicado também citava que um funcionário argentino havia confirmado a prisão das sete vítimas, com base em um decreto geral contra terroristas e subversivos.

O fato levou Castro a enviar uma nota de enérgico protesto ao líder da junta, o general Jorge Rafael Videla. Em seus comunicados posteriores, o diplomata americano disse que o governo francês havia cessado de protestar pelo assassinato das freiras, para que o comércio da França com a Argentina não fosse prejudicado.

Castro não quis relatar o que havia descoberto às famílias dos desaparecidos, dizendo em outro telegrama que “isso seria infrutífero e poderia desviar-nos das oportunidades que temos na atual situação”. E pediu a Washington para “evitar todo tipo de linguagem capaz de estigmatizar o governo e se concentrar, pelo contrário, nas perspectivas para melhor do respeito aos direitos humanos na Argentina”.

Ao iniciarem seus protestos diante do Palácio do Governo em Buenos Aires, as “Mães” atraíram centenas de pessoas e a atenção internacional. Após cada manifestação, dirigentes do grupo se reuniam com Castro na embaixada e informavam sobre os novos desaparecimentos. “Eu não tinha uma linha direta com a junta, e fazia perguntas”, disse ele, na entrevista. Os informantes de Castro na junta disseram, no entanto, que dois dos dirigentes que assistiam às reuniões semanais eram infiltrados pelo governo – mas o embaixador americano manteve esta informação em segredo.

Uma transcrição de um informe apresentado em maio de 1978 a um subsecretário de Estado por um outro diplomata, Ted Harris, indica que os funcionários americanos preferiam ignorar denúncias sobre atividades repressivas da junta embora “nossos arquivos” – acrescentou Harris – “estejam repletos de informações sobre dirigentes estudantis, psicólogos, psiquiatras, membros de grupos de discussão socialistas e outros, que haviam desaparecido”.

Harris citou declarações de um informante da polícia que explicou o que ocorria com os “desaparecidos”.

“Dizemos a essas pessoas que elas vão ser transferidas… e que devem tomar um injeção antes de partir, por razões médicas. As pessoas se submetem de boa vontade a essa injeção, que contém um derivado do veneno usado pelos indígenas do Amazonas (curare). Evidentemente, isso tem o efeito de contrair os músculos”.

“Em seguida, elas sobem em aviões… e são jogadas na foz do rio, onde são rapidamente devoradas pelos peixes”.

No caso das sete mulheres, elas foram encontradas perto da costa de Mar del Plata, uma praia turística 400 km ao sul de Buenos Aires. Dos outros 5, do total de 12 ativistas, incluindo as mulheres que haviam desaparecido em dezembro de 1977, desconhece-se o destino de quatro. Um quinto, “Gustavo Niño”, está vivo – e foi identificado mais tarde como o tenente da Marinha Alfredo Astiz, acusado de assassinatos durante a ditadura militar.

Meses após os assassinatos, o governo de Carter autorizou a venda de equipamentos militares para a junta, no valor de US$ 120 milhões, além de autorizar mais 30 postos de treinamento para oficiais argentinos em instalações militares americanas.

A relação entre os militares americanos e os argentinos “era muito afável”, disse Castro na entrevista. Os militares argentinos “tinham acesso a Washington e ao Pentágono”.

Estima-se que entre 9.000 e 30.000 pessoas tenham desaparecido na Argentina durante o regime que tomou o poder em 1976 e o abandonou em 1983, após a humilhante derrota sofrida diante dos britânicos na Guerra das Malvinas.
(Fonte: www.estadao.com.br/arquivo/mundo/2002 – CIDADES – Geral – 16 de Dezembro de 2002)

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