Richthofen, o Barão Vermelho
Barão Manfred von Richthofen (Breslávia, Polônia em 2 de maio de 1892 – Vaux-sur-Somme, França, em 21 de abril de 1918), apelidado de o Barão Vermelho, foi o mais famoso de uma dinastia de pilotos guerreiros alemães, foi o mais célebre ás de aviação de todos os tempos.
Apesar de ter abatido uma quantidade impressionante de aviadores inimigos, franceses, ingleses e canadenses, foi profundamente admirado e respeitado por seus adversários que o consideravam um adversário leal e generoso. Tanto assim que, quando encontraram seu corpo jogado nas proximidades do seu avião destruído, caído no campo em Cambrai onde estavam tropas australianas, seus inimigos deram-lhe exéquias de herói, sepultando-o com todas as honras de guerra que um valente merece.
A morte atrás de um “camelo”
“Se eu sair vivo desta guerra é porque eu tive mais sorte do que cérebro” – Manfred von Richthofen.
Richthofen, o Barão Vermelho, morreu devido ter infringido o seu próprio código de combate que dizia ser muito perigoso perseguir um avião inimigo quando ele se refugiava em seu próprio território. No dia 21 de abril de 1918, momento em que a guerra já se revelara impossível de ser vencida pela Alemanha Imperial, ele, sem apoio de um segundo piloto que lhe desse cobertura, decidiu perseguir um “Camelo”, isto é, um avião da marca Sopwith Camel, que retirou-se para os lados das linhas australianas no vale do Somme, na Cordilheira Morlancourt, perto de Corbie. Local onde ele se viu sobre duplo fogo, do ar e da terra, caindo em seguida.
Até hoje há controvérsia sobre quem de fato o abateu, podendo ter sido o seu fim determinado tanto por disparo de uma metralhada de um sargento, disferido do chão, como por uma rajada do capitão Brown, um piloto canadense. O seu corpo foi devidamente autopsiado no hangar do 3º esquadrão aéreo australiano, situado em Poulainville, onde, além de uma fratura no maxilar, constatou-se que uma bala fatal penetrara-lhe no lado direito do peito, na altura da nona costela. Com o desaparecimento dele, o seu jovem sobrinho Wolfram von Richthofen, companheiro e integrante do celebre esquadrão de caças alemão Jagdstaffel, ou Jasta 11, uma das mais temidas da aviação germânica, tentou inutilmente encontrá-lo. Somente dois meses mais tarde souberam do destino do herói, inteirando-se das cerimônias honrosas com que os seus inimigos o sepultaram.
Do cavalo ao Albatroz
Descendente de uma família da nobreza prussiana – dos famosos junkers da Prússia Oriental -, o Barão Manfred von Richthofen, nascido no Schweidnitz, em Breslau, em 1892, serviu como cadete no 1º Regimento dos Ulanos. Tratava-se de uma tropa de escola da elite guerreira alemã que prestava seus serviços à monarquia Guilhermina. Ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1914, ele foi enviado com o seu esquadrão de cavalaria para o fronte russo, mas, em pouco tempo, após ter sido transferido para o fronte ocidental, verificou que, dado o avanço espantoso das armas modernas, para um verdadeiro cavalheiro só sobrara um lugar para lutar a boa luta: os céus. Seguindo-o, o seu irmão mais novo Lothar Freiherr von Richthofen, o acompanhou na aventura.
As primeiras esquadrilhas da Fliegertruppe, a força aérea alemã, organizadas naqueles começos da Grande Guerra, tiveram muitos dos seus quadros preenchidos por pilotos oriundos da nobreza. Assim deu-se não só na Alemanha e na Áustria, como na Grã-Bretanha, Itália e França. Aos jovens aristocratas belicosos, metidos a super-homens nietzscheanos, repugnava terem que combater nas trincheiras embarradas, repletas de ratos e piolhos, ao lado do soldado comum. Pior ainda, era estarem destinados a morrerem como anônimos em meio aquela massa de cadáveres de gente desconhecida que cada batalha produzia, ou que o tifo dizimava. Portanto, trataram de conquistar um espaço no qual feitos espetaculares fossem bem visíveis e que a morte deles, quando ocorresse, fosse avistada pela plebe das trincheiras, como acontecia entre os guerreiros feudais que caíam à vista de todos. Em maio-junho de 1915, Manfred von Richthofen tratou então de aprender a voar, trocando definitivamente o cavalo por um avião: um biplano Albatroz D.II, da Fokker.
O caçador cavalheiro
O gosto pelas caçadas, costume comum entre os aristocratas, o ajudou deveras. Manfred sempre a praticara na propriedade da família, adquirindo então a técnica e o sangue frio suficiente para abater os inimigos nos enfrentamentos aéreos. Em geral, os pilotos, de ambos os lados da guerra, não apreciavam as tarefas rotineiras que o exército lhes determinava: reconhecimento aéreo e bombardeio das linhas inimigas. Acreditam que estavam vocacionados à proezas mais grandiosas, heroicas e sensacionais, como os duelos travados nos ares contra os aeroplanos adversários. Essas sim eram as façanhas que os atraíam.
Aquelas correrias e manobras nas alturas pareciam-lhes a revivência das grande justas medievais nas quais um cavaleiro, galopando na liça a toda velocidade, tentava derrubar da cela o antagonista num só golpe certeiro de lança, espada ou martelo, dado de frente. Para os generais, entrementes, aqueles desafios de zangões eram um desperdício. Os aviões, insistiam eles, eram muito mais producentes despejando bombas sobre as linhas inimigas, destruindo-lhes os paióis, incendiando-lhes os quartéis e desbaratando-lhes as concentrações de tropas, do que ficarem zanzando no ar entretidos em metralhas sem fim.
Nasce o Barão Vermelho
De certo modo, Richthofen foi, senão o fundador, o mais famoso entusiastas da aviação de caça nascente. Ele, imediatamente, percebeu os efeitos publicitários e psicológicos dos embates aéreos. A imprensa da época adorou narrar os desafios espetaculares dos pilotos de caça, situação onde indivíduos, sozinhos ou voando em pequenos grupos, procurando valentões para as refregas, expunham a sua coragem aos olhos de todos. Bem melhor do que os jornais dedicarem-se ao registro burocrático da movimentação das tropas ou a descrição de batalhas que demoravam meses, como as do Somme, de Verdum ou de Yprés, sem terem nenhum resultado imediato ou conclusivo a celebrar, como ocorria com os grandes enfrentamentos terrestres da Primeira Guerra Mundial.
Para dar um clima ainda mais sensacional as pelejas, Richthofen pintou seu avião de vermelho, a cor do seu regimento dos Ulanos. Era um Albatroz que fazia 103 km. p/hora, graças a um motor de 110 cavalos, facilmente visível nos dias claros, chamativo com o qual ele espantava ou atraia a atenção dos inimigos. Estes não demoraram em apelidá-lo de The Red Baron, “o Barão Vermelho”. Não tardou para que Richthofen se revelasse um caçador terrível (no ano de 1916 abateu 15 inimigos; em 1917, saltou para 46 e, no primeiro trimestre de 1918, derrubou mais 17, perfazendo quase 80 aviões destruídos), tendo os seus feitos ganho as páginas dos principais noticiários daquela época. Posição em que foi seguido pelo seu irmão Lothar, que, mesmo ferido três vezes com gravidade, igualmente revelou-se um implacável piloto de caça, atingindo 40 vitórias até 1918.
O código da cavalaria
Adorado pelo povo alemão, que acolheu-o como se ele fosse um herói mitológico, um Siegfried dotado de asas, ele, por vezes, via-se obrigado a deixar o fronte para ir participar de homenagens na retaguarda, inclusive sendo recebido pelo Kaiser Guilherme II, que pendurou no peito dele todos os tipos de condecorações que o IIº Reich possuía, como a “Pour le Mérite”. A fama e a popularidade dele espalhou-se inclusive entre os inimigos, fazendo com que em pouco tempo eles também produzissem e promovessem os seus ases, como o piloto inglês “Mick” Mannock (que abateu 61 alemães) e o francês René Paul Fonk (que vitimou 75 deles).
O notável é que Richthofen, obediente aos códigos da cavalaria, procurou preservar o tempo todo – em meio a barbárie crescente dos combates em terra – , o céu como uma espécie de liça especial. O azul dos amplos espaços era um lugar que ele pretendia manter afastado das impurezas da guerra de trincheiras, no qual as regras cavalheirescas ainda deviam ser seguidas à risca. Ele não admitia, por exemplo, depois do inimigo ter sido atingido, persegui-lo até matá-lo. Despojando-o do avião em chamas, neutralizado o inimigo, jamais atirava no piloto que saltasse de pára-quedas ou que, depois em terra, estivesse tentado escapar-lhe. Não foi, pois, sem razão que ele mantinha o posto de Rittmeister, isto é, capitão de cavalaria, visto que no imaginário dele a velha arena medieval ainda não sucumbira ao amoralismo e à total ausência à princípios éticos da moderna guerra total.
O herdeiro
Quem seguiu-lhe as pistas de herói e combatente extraordinário foi o seu sobrinho, o já citado Barão Wolfram von Richthofen. Jovem piloto do Jagdgeschwader I, a esquadrilha de caça, em 1918, ele conseguiu sobreviver a Primeira Guerra. Tornou-se, na época da República de Weimar (1918-1933), um piloto de acrobacias, entrando mais tarde para a Luftwaffe. Wolfram, fez uma carreira espetacular como comandante na Guerra Civil Espanhola, ganhando o apelido de “O Condor”, por liderar, como coronel, os esquadrões alemães que lutaram nos céus de Madri, entre 1936-39, ao lado do general Franco. Ocasião em que, na franca opinião dele, virtude da família, “lutamos do lado dos maus”.
No comando do Fligerkorps VIII, Wolfram, alcançando o posto de general, fez as campanhas da Polônia, da França e da Grã-Bretanha, sendo depois, em 1941, transferido para o fronte soviético, participando da dura luta no Don e no baixo Volga, em Stalingrado. Transferido para o fronte italiano em 1943, foi capturado pelos americanos no fim da guerra, falecendo em 1945 devido a um sério derrame cerebral. Com o desaparecimento dele foi-se o último integrante daquela autêntica dinastia de pilotos de guerra da Alemanha do século 20.
Richthofen morreu em combate em abril de 1918, aos 26 anos, no ano final da Iª Guerra Mundial,
(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/historia – EDUCAÇÃO – HISTÓRIA/ Por Voltaire Schilling – 8 JUN 2017)