Rock Hudson, galã de Hollywood nos anos 50 e 60, que ultimamente vinha atuando em seriados para a TV

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Rock Hudson (Winnetka, 17 de novembro de 1925 – Los Angeles, 2 de outubro de 1985), galã de Hollywood nos anos 50 e 60, que ultimamente vinha atuando em seriados para a televisão. Trabalhou em “Assim Caminha a Humanidade” (1956) e “Quando Setembro Vier” (1961).
(Fonte: Veja, 11 de novembro de 1981 – EDIÇÃO 688 – DATAS – Pág; 112)

O gigante abatido
Só dois filmes numa longa carreira
Em sua época áurea, nos anos 60, o ator americano Rock Hudson arrebatou milhares de corações em todo o mundo, graças a seu porte atlético, com 90 quilos de peso distribuídos numa altura de 1,90 metro.

Ao longo de 37 anos de carreira, Rock Hudson um dos mais populares de toda a história do cinema, atuou em 66 filmes e oito séries de televisão, tornando-se um dos atores mais populares da história do cinema. São muitos filmes e muita fama para apenas dois desempenhos verdadeiramente notáveis: os que realizou em “Assim Caminha a Humanidade” (Giant, de 1956) e “Confidências à Meia Noite (Pillow Talk, de 1959). Um papel é completamente diferente do outro, mas em ambos subsiste a característica mais marcante de Hudson – a interpretação naturalista, transparente e sem truques, que realçava seu jeitão simpático. Criatura da fase áurea dos grandes estúdios de Hollywood, Hudson pode não ter sido um grande ator, mas soube como poucos forjar a imagem do galã romântico e do americano sincero e tranquilo.

O ápice da carreira do ator aconteceu em “Assim Caminha a Humanidade”, o filme de George Stevens em que interpretou o papel do fazendeiro Bick Benedict, contracenando com Elizabeth Taylor e James Dean. Até hoje, a atuação de Hudson é obscurecida pela mística que se criou em torno do “jovem e rebelde” James Dean, que morreu pouco depois das filmagens. Ao se ver o filme hoje, no entanto, percebe-se que Dean é mais um tipo – eletrizante e magnético, é certo, mas sempre um tipo -, enquanto Hudson consegue dar uma dimensão de grandeza ao seu personagem. Hudson vai crescendo, ao longo do filme, e atinge seu melhor momento no final, quando o fazendeiro envelhecido briga numa lanchonete para defender mestiços mexicanos. Nesse instante, o ator transmite com perfeição a transfiguração de um homem que, ao perder uma briga pela primeira vez, reencontra sua humanidade. E a reencontra defendendo uma causa que, distante do Hudson de verdade na maior parte de sua vida, acabaria por conferir à sua agonia e à sua morte um toque de heroísmo – a luta contra os preconceitos.

PRIMEIROS SINTOMAS – No plano psicológico, Rock Hudson também passou por uma grande transformação ao saber, no início de 1983, que estava com AIDS – uma doença letal em 100% dos casos e que até agora fez a maioria de suas vítimas entre homossexuais, como o astro americano. Em 1981, Hudson havia sido submetido a uma severa cirurgia cardíaca, que alterou seu modo de vida. Com cinco ponte de safena no coração, ele deixou de beber e, pela primeira vez em muitos anos, ganhou um pouco de peso. No final de 1982, porém, o ator começou a padecer de diarréia crônica e suores noturnos, dois dos primeiros sintomas da AIDS. Pouco depois, um seu amigo de Nova York morreu da doença, e Rock Hudson ficou alarmado: começou a beber novamente, emagreceu e se tornou irritadiço. Em janeiro de 1983, seu médico particular recomendou que ele procurasse um especialista em doenças infecciosas.

Rock Hudson foi então ao doutor Michael Gottlieb, da Universidade da Califórnia, que o submeteu a uma bateria de exames. Três dias depois o médico, de posse dos resultados, foi à mansão de Beverly Hills e encontrou o ator tranquilo. Ele recebeu a notpicia sem entrar em pânico e conversou sobre as pesquisas que estavam sendo feitas sobre a AIDS. Naquela noite Hudson conversou com amigos. “Eu tenho certeza de que vou vencer a doença”, disse o ator a um amigo. Hudson só ficou perplexo com o fato de estar contagiado, pois antes da cirurgia, quando bebia muito, passou por um largo período de abstinência sexual.

Somente no final de 1983 Hudson começou a mudar psicologicamente. Como muitas das vítimas da AIDS, o ator passou então por um período de grande depressão e extrema suscetibilidade. Esses problemas provocaram um abalo em suas relações com seu agente e melhor amigo há muitos anos, Tom Clark, com quem se reconciliou meses depois. O ator, porém, continuava a trabalhar normalmente, e sua doença era um segredo trancado a sete chaves. Alguns de seus amigos mais íntimos, homossexuais como ele, sugeriram que o ator interpretasse o papel de paladino da cruzada contra o preconceito em relação aos gays e aos pacientes com AIDS. Hudson encarou a ideia com simpatia, mas continuou quieto. Entre os primeiros a saber da moléstia de Hudson estava a atriz Elizabeth Taylor, uma de suas melhores amigas.

No final de 1984, Hudson começou a emagrecer aceleradamente, ficando cada vez mais difícil esconder a moléstia. Aconselhado pelos médicos, o ator viajou em dezembro para Paris, com o objetivo de se tratar com o HPA-23, ou tungsto-antimoniato de sódio, um remédio descoberto em 1973 que estanca momentaneamente a multiplicação do vírus da AIDS no corpo do doente. Na época, era proibido o uso do HPA-23 nos Estados Unidos, e a única alternativa era Paris. A internação de Rock Hudson no Hospital Americano de Paris envolveu uma negociação entre os governos francês e americano. Isto porque os hospitais parisienses que usam a droga recebem pacientes com AIDS do mundo todo, e é comum haver uma demora de doze meses até que o atendimento se concretize.

Depois de impor três anos de agonia a Rock Hudson, a AIDS mata sua vítima mais célebre. Um homem cansado, de faces encovadas e cabelos embranquecidos, que aprentava ter bem mais do que seus 59 anos. Hudson faleceu na manhã de quarta-feira, dia 2 de outubro de 1985, na mansão de Beverly Hills, construída no estilo greco-romano, a elegante região de Los Angeles onde moram as estrelas e celebridades de Hollywood. Oficialmente, a causa da morte foi um câncer linfático. Terminava ali a agonia do ator americano Rock Hudson, um dos mais populares de toda a história do cinema, e a AIDS, a síndrome de imunodeficiência adquirida, fazia sua vítima mais famosa.

(Fonte: Veja, 9 de outubro de 1985 – EDIÇÃO 892 – ESPECIAL – Pág; 100/104)

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