Rolf Stommelen, o eclético
Foi um dos mais versáteis, rápidos e ecléticos pilotos de seu tempo
Rolf Stommelen (Siegen, 11 de julho de 1943 – Riverside, 24 de abril de 1983), piloto que fez história no automobilismo por sua versatilidade e ecletismo.
Numa prova da IMSA realizada numa pista que nem existe mais (Riverside, na Califórnia), morria Rolf-Johann Stommelen, após um grave acidente a bordo de um Porsche 935 da equipe de John Fitzpatrick.
Nascido em 11 de julho de 1943, ele imediatamente se impôs como um dos principais pilotos da Porsche em provas de carros esporte. Em 1966, ele fez sua estreia na clássica prova 24 Horas de Le Mans ao lado de Günther Klass com o modelo 906, chegando em 7º lugar na geral e em primeiro na subcategoria Esporte até 2 litros. No ano seguinte, conheceu seu primeiro sucesso noutra corrida igualmente lendária: a Targa Florio, guiando um Porsche 910 dividido com Paul Hawkins.
Outra grande vitória para o currículo do alemão veio nas 24 Horas de Daytona em 1968, numa corrida amplamente dominada pelos protótipos germânicos. O 907 Langheck #54 foi guiado por ele e outras feras, como Jochen Neerspach, Vic Elford, Jo Siffert e Hans Herrmann. Os bons desempenhos tiveram sequência nas demais corridas do World Sportscar Championship: vitória nas 12 Horas de Sebring em parceria com Jo Siffert; 3º lugar nos 1000 km de Spa com Hans Herrmann e nas 24 Horas de Le Mans ao lado de Jochen Neerspach. E para fechar o ano, vitória nos 1000 km de Paris, novamente com o veterano Herrmann na parceria.
O quarto e último ano de contrato de Stommelen com a Porsche foi o menos produtivo, um contraponto com 1968: o único bom resultado foi o 3º lugar nas 12 Horas de Sebring, junto a Joe Buzzetta e Kurt Ahrens. O alemão também conquistou a pole position para as 24 Horas de Le Mans a bordo do novíssimo modelo 917 Langheck, mas um vazamento de óleo na embreagem alijou o piloto e seu parceiro Ahrens da disputa, após completarem 148 voltas.
Em 1970, Stommelen tomou outro rumo além das corridas de Endurance: a Fórmula 1 – eventualmente correndo também na Fórmula 2. Com o patrocínio da revista alemã Auto Motor und Sport e da fábrica de trailers Eiffelland, o piloto – então com 26 anos – assumiu a vaga que era de Jacky Ickx para guiar um Brabham BT33 ao lado do tricampeão mundial Jack Brabham, com quem Rolf teria muito o que aprender.
De fato, o alemão não desapontou. Embora tenha começado mal, com dois abandonos consecutivos, logo pontuou com um 5º lugar no GP da Bélgica e repetiu o resultado diante de seu público em Höckenheim e também em Monza, na Itália. O primeiro – e único pódio – veio no GP da Áustria, na veloz pista de Zeltweg. O saldo foi positivo: 10 pontos somados e o 11º lugar ao final do Campeonato Mundial de Pilotos em 1970.
No World Sportscar Championship, Stommelen assinou contrato com a Autodelta e passou aos protótipos Alfa Romeo T33/3. Estreou com um 9º lugar nas 12 Horas de Sebring, foi sétimo nos 1000 km de Monza e acabou desclassificado nas 24 Horas de Le Mans por ser empurrado ao largar. Em 1971, começou bem melhor: 3º nos 1000 km de Buenos Aires – marcados pela morte trágica do italiano Ignazio Giunti, 2º nas 12 Horas de Sebring e quarto nos 1000 km de Monza, terminando o campeonato com chave de ouro ao vencer as 6 Horas de Watkins Glen.
Embora tenha andado bem pela Brabham em seu ano de estreia na Fórmula 1, Stommelen foi preterido pelo novo proprietário Bernie Ecclestone, que reestruturou o time e contratou Graham Hill, já na curva descendente da carreira. O jeito foi alugar um cockpit no Team Surtees, contando com o valioso apoio de seus patrocinadores pessoais. Com o modelo TS9 e correndo ao lado de “Big” John Surtees, campeão mundial de 1964 e lenda do motociclismo, o segundo ano de Rolf foi menos produtivo, embora tenha andado bem em algumas corridas. Faltou consistência e o piloto fez apenas três pontos com o 5º lugar no GP da Inglaterra e um sexto nas ruas de Monte-Carlo.
Em 1972, a Alfa Romeo jamais conseguiu ser competitiva e superior à Ferrari em termos de competitividade nas provas de Endurance. A marca do trevo de quatro folhas não teve as mesmas performances com o novo modelo T33/TT/3 e Stommelen pagou muito caro: o melhor resultado dele durante todo o ano foi um 3º lugar nos 1000 km BOAC em Brands Hatch. A compensação veio numa prova de Turismo em Nürburgring com uma BMW 2800 CS, que o piloto venceu brilhantemente.
Na Fórmula 1, o ano seria igualmente ruim: com o Eiffelland E21, um March modificado pelo aerodinamicista italiano Luigi Collani, que propunha o uso de um insólito retrovisor em posição central, além de uma frente remodelada e uma tomada de ar que dispensava o periscópio usado pelos demais monopostos da categoria, Stommelen nada pôde fazer: disputou apenas oito corridas de um total de 12 do calendário, completando duas (Mônaco e Inglaterra) num modesto 10º lugar.
Ainda cumpriu o contrato com a Autodelta para a temporada de 1973 e só regressaria à Fórmula 1 em virtude do acidente sofrido pelo amigo e companheiro de equipe no Endurance, Andrea de Adamich, que fraturou os dois tornozelos numa colisão provocada por Jody Scheckter na curva Woodcote, em Silverstone. Stommelen assumiu o terceiro Brabham BT42 Cosworth com as cores da Ceramica Pagnossin e conseguiu um 11º lugar no GP da Alemanha como melhor resultado no seu retorno.
No ano seguinte, encerrou seu vínculo com a Alfa Romeo conquistando como último grande resultado para a Autodelta um 3º lugar no Trofeo Filippo Caracciolo, os 1000 km de Monza, ao lado de Jacky Ickx. Voltou à Fórmula 1 através da equipe Embassy-Hill com um Lola T370 nas quatro últimas provas de 1974, novamente sem pontuar: foi 11º colocado no GP do Canadá e 12º no GP dos EUA. Também competiu no DRM – certame considerado um embrião do DTM – com um possante Porsche 911 Carrera RSR da equipe Gelo, de George Loos.
Para 1975, Stommelen assinou contrato com a Embassy-Hill e seria um dos pilotos titulares naquela temporada, a bordo do carro #23 no início do ano, passando depois ao #22. Foi aí que o alemão viu a morte muito de perto, num acidente sofrido no GP da Espanha, no Parc Montjuich, em Barcelona.
A pista de rua era perigosa, Emerson Fittipaldi já manifestara seu desagrado e se recusara a competir. Houve vários acidentes no início da disputa e Stommelen, nono no grid, liderava a corrida com o Embassy-Hill GH1 na altura da 25ª volta quando a asa traseira de seu carro soltou-se num trecho de alta velocidade. O bólido desgovernado matou cinco espectadores e Stommelen foi retirado dos destroços com fraturas numa perna, num pulso e em duas costelas. Dada a gravidade do acidente e o estado em que seu carro ficou, foi um milagre que ele tivesse sobrevivido.
Assim que se recuperou, Stommelen regressou ao seu posto na Embassy-Hill e fez mais duas corridas, nos GPs da Áustria e Itália, conseguindo um 16º lugar. Sem vaga fixa na Fórmula 1, o piloto assinou com a equipe Martini-Porsche para regressar às competições de Endurance. E com o modelo 935 enquadrado no Grupo 5, chegou em 4º lugar nas 24 Horas de Le Mans de 1976, conquistando também o primeiro lugar em sua categoria.
Mas por sua experiência em Nürburgring, acabou lembrado por Bernie Ecclestone para guiar uma terceira Brabham BT45 com motor Alfa Romeo no GP da Alemanha (trocando uma velha BT44B com a qual estava inscrito anteriormente) – e fez uma boa corrida, considerando as circunstâncias, pois foi nesse dia que Niki Lauda sofreu o seu terrível acidente que quase tirou a vida do austríaco. Stommelen largou de 15º e chegou em 6º lugar. Ainda seria convidado por Bubbles Horsley para guiar o ultrapassado Hesketh 308, com um 12º posto no GP da Holanda. E ainda largou em 11º com a Brabham para uma segunda e última corrida pela equipe em Monza, antes de abandonar com a injeção de gasolina engripada.
Em 1977, passou o ano longe da Fórmula 1, dedicando-se aos carros esportivos. Venceu uma prova do DRM em Norisring e disputou de novo as 24 Horas de Le Mans num Porsche 935/77, sempre com Manfred Schurti a bordo. Largaram em 6º e desistiram com motor quebrado. Mas o ano seguinte começou triunfante: a bordo de um carro alinhado pela lendária equipe Brumos e dividido com Peter Gregg e Toine Hezemans, Rolf Stommelen venceu as 24 Horas de Daytona. O que ele não podia prever é que, mesmo perto de completar 35 anos, ainda voltaria às provas de F-1.
A Arrows, nova equipe formada por dissidentes da Shadow, perdera Gunnar Nilsson, fulminado por um câncer de testículos que o tiraria definitivamente das pistas. Com um acordo costurado com a cervejaria alemã Warsteiner, a saída natural foi tirar Stommelen da semi-aposentadoria e lhe entregar o segundo carro do time, dividindo a equipe com o jovem italiano Riccardo Patrese. Foi uma covardia: Rolf jamais andou no ritmo do seu companheiro e só largou em nove corridas, chegando duas vezes em 9º lugar. O GP dos EUA-Oeste foi seu último na categoria máxima, num total de 52 participações.
Nesse meio tempo, Stommelen continuou nas provas de longa duração e de carros esporte, com os quais lidaria até o fim da vida. Guiou o brutal Toyota Celica LB Turbo no DRM e o não menos impressionante Porsche 935/78 apelidado “Moby Dick”, por sua cauda longa e aerodinâmica refinada, capaz de fazer o modelo Grupo 5 superar 380 km/h de velocidade máxima no retão Les Hunaudiéres em Le Mans. No entanto, com problemas mecânicos, Stommelen e Manfred Schurti terminaram aquela corrida apenas em 8º lugar.
Mesmo fora da equipe Martini Porsche, Stommelen ainda foi capaz de façanhas. Com um velho 935/77A, chegou em 4º lugar nas 12 Horas de Sebring e em sexto na pista de Riverside. E ainda foi 2º nas 24 Horas de Le Mans, em que dividiu o carro com Paul Newman e Dick Barbour, com o detalhe que poderiam ter vencido a disputa, não fosse uma falha que deixou o carro na garagem por 23 minutos. O alemão ainda chegou em 2º (com os mesmos parceiros de Sarthe) nas 6 Horas de Watkins Glen.
As vitórias ainda viriam nos anos seguintes e uma das mais significativas aconteceu nas 24 Horas de Daytona de 1980, ao lado da lenda Reinhold Joest e Volkert Merl, num Porsche 935 J. Em 1981, foram três triunfos na série IMSA, nos circuitos de Mosport, Road America e Mid-Ohio. No ano seguinte, ao lado de John Paul e John Paul Jr., venceu novamente as 24 Horas de Daytona e foi 2º colocado nos 1000 km de Monza num Porsche da Kremer, ao lado de Ted Field. Ele ainda brilhou nos 1000 km de Nürburgring a bordo de um Rondeau M382C, levando o carro ao 2º lugar ao lado de Henri Pescarolo. A última de um total de 13 participações nas 24 Horas de Le Mans aconteceu em 1982, num protótipo Lancia Martini partilhado com Michele Alboreto e Teo Fabi.
Em 1983, Stommelen permaneceu radicado nos EUA para disputar corridas da série IMSA, a bordo de um Porsche “Moby Dick” inteiramente modificado pela Joest para a equipe John Fitzpatrick Racing. Nas 6 Horas de Riverside, a 5ª etapa do campeonato, Rolf correria ao lado de Derek Bell. A dupla largou em 2º lugar e Bell guiou no primeiro turno, entregando o volante do carro #12 ao alemão. Na segunda volta a bordo do Porsche, após voltar do pit stop, a asa traseira soltou-se a mais de 300 km/h e Stommelen virou passageiro de um bólido incontrolável. O Porsche bateu violentamente numa barreira de concreto, capotou e incendiou-se.
Não havia nada que os bombeiros e os paramédicos pudessem fazer. Com sérias lesões na cabeça, Rolf Stommelen estava morto. Aos 39 anos, desaparecia um dos mais versáteis, rápidos e ecléticos pilotos de seu tempo.
(Fonte: http://rodrigomattar.grandepremio.uol.com.br/2015/04/outsiders- GRANDE PRÊMIO/ Por Rodrigo Mattar – OUTSIDERS – 25 DE ABRIL DE 2015)
GP acaba com quatro mortos
O piloto alemão Rolf Stommelen liderava o Grande Prêmio da Espanha quando se desprendeu um pedaço de aerofólio do seu carro, que atravessou a frágil grade e atropelou espectadores. Quatro deles morreram e outros 13 ficaram feridos.
(Fonte: Zero Hora – ANO 51 – N° 18.094 – HÁ 40 ANOS EM ZH – 28 de abril de 1975/2015 – Pág: 36)