Foi um precursor, fundador da Cia. Teatro Novo nos anos 1960
Ronald Radde, dramaturgo e diretor que fez história no teatro gaúcho e nacional
O dramaturgo e diretor dirigiu peças de resistência à ditadura militar e também se dedicou ao público infantojuvenil
Veterano profissional do teatro que teve importante trabalho na formação de novas plateias e em entidades de classe, Radde foi o fundador do Teatro Novo, companhia de trajetória surpreendentemente longeva para os padrões nacionais, há 48 anos em atividade. Desde seu afastamento da direção do grupo, devido aos problemas de saúde, o comando foi assumido pela filha Karen Radde. Em 2015, foi lançada a biografia Ronald Radde – O Perseguidor de Sonhos (Edipucrs/Editora da Cidade), de Antônio Hohlfeldt, que registra sua trajetória e sua vasta obra, integrada por cerca de 60 peças escritas ou dirigidas por ele.
Desde a criação do Teatro Novo, em 1968, ano de endurecimento da ditadura militar, o dramaturgo e diretor se notabilizou ao levar ao palco espetáculos contundentes de resistência ao regime e de denúncia das injustiças e desigualdades socioeconômicas, como Transe (1970), Apaga a Luz e Faz de Conta que Estamos Bêbados (1972) e B… em Cadeira de Rodas (1975) – o ¿b¿ do título era referência ao Brasil. Na época, foi apadrinhado por Paschoal Carlos Magno, um dos grandes nomes do teatro brasileiro moderno. A partir de 1974, com Chapeuzinho Vermelho, a companhia passou a encenar, também, trabalhos voltados para o público infantojuvenil, segmento depois predominante no repertório. Por sua trajetória, Radde foi homenageado, em 2005, no 12º Porto Alegre Em Cena, festival que reconheceu novamente o trabalho da Cia. Teatro Novo em 2014. Foram algumas de suas muitas láureas.
CENSURA À PRIMEIRA PEÇA DE SUA AUTORIA
Radde nasceu em 9 de outubro de 1944, na Vila Ouro Verde, em Cambará do Sul, filho de uma família descendente de imigrantes alemães “de classe média bem baixa”, como ele mesmo descreveria, depois, na biografia de autoria de Hohlfeldt. Aos sete anos, mudou-se para Porto Alegre. Foi feirante, trabalhou com vendas, confecção de próteses dentárias, como auxiliar administrativo em uma agência bancária e virou funcionário da prefeitura – emprego que largou em 1978 para se dedicar integralmente ao teatro. A primeira peça de sua autoria, João e Maria nas Trevas, sobre a exploração de lavradores, deveria estrear em 14 de julho de 1968, mas foi censurada e ganhou sessões clandestinas.
Desde 2001, a companhia está sediada no Teatro Novo DC – Sala Carmen Silva, localizado no DC Shopping. O espaço climatizado, com capacidade para 490 espectadores, foi viabilizado com verba do próprio grupo e de apoiadores.
Radde atribuía parte fundamental da sustentação da companhia ao projeto A Escola Vai ao Teatro, criado em 1975 por Suzana Guterres, sua segunda esposa, morta em 2011. O projeto pedagógico, ainda em atividade, aproxima o teatro de alunos de escolas públicas e privadas da Capital e da Região Metropolitana.
Ronald Radde morreu em 26 de abril de 2016, aos 71 anos, no Hospital São José do Complexo Hospitalar Santa Casa, em Porto Alegre. Desde o final de 2015, ele sofria da Síndrome de Guillain-Barré, doença rara causada por uma reação autoimune do corpo a uma infecção.
(Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/gente/noticia/2016/04 – ENTRETENIMENTO – GENTE – NOTÍCIA – 2° CADERNO/ Por Francisco Dalcol – 26/04/2016 – Pág: 5)