Roque Callage (Santa Maria, (RS), 13 de dezembro de 1886 – Porto Alegre, 23 de maio de 1931), jornalista e autor de seu Vocabulário Gaúcho, de 1926.
Roque Callage nasceu em Santa Maria, RS, em 13 de dezembro de 1886.
Filho de Maria Cândida Leal de Oliveira e do imigrante italiano Luis Callage, que chegara a Santa Maria em 1876, estabelecendo-se com salão de barbearia na Rua do Acampamento, e conhecendo a mãe de Roque.
A alma do menino Roque, assim como todos os de sua geração, seria marcada profundamente com a eclosão, em 1893, de um movimento armado que se estendeu a todo o Estado, com o objetivo de depor o governador Júlio de Castilhos
A Revolução, conhecida como “Federalista”, atingiria a então pequenina Santa Maria em março de 1894, sendo a cidade, após a luta, invadida por tropas revolucionárias que, a cavalo, cercaram-na por três dias.
O período rebelde duraria, até 1895, quando o Governo do Estado conseguiu debelar o últímo foco de resistência, com trucidamento do Almirante Carioca, convertido em Chefe Federalista, Saldanha da Gama.
A paz voltava ao Rio Grande. No entanto, em virtude desses acontecimentos extraordinários, aquela geração cresceria ávida de conhecimento sobre sua Terra, sua História, sua Gente, sobre si mesmo.
É nesse ambiente que começa a formação intelectual do escritor: carente de recursos próprios, Roque Callage não teve instrução acadêmica formal, sendo mesmo considerado um autodidata.
Com a abertura, em 1907, em Santa Maria, do “Colégio Ítalo-Brasileíro”, por Umberto Ancaram, agente consular da Itálía naquela cidade, foí convidado a ensinar língua portuguesa.
Em 1908, com 22 anos, estimulado pela convivência com Andrade Neves Neto, publica seu primeiro livro “Prosas de Ontem”. O livro é considerado fraco, inclusive pelo próprio autor. Pitorescamente, num gesto de autocrítica, procurou ao longo de sua vida, recolher todos os exemplares em circulação, existindo mesmo um que dedica à a si próprio “Pelas asneiras que escreveu”.
Mais amadurecido, transfere-se para São Gabriel, assumindo a função de jornalista nos periódicos “A Tribuna”, “0 Comércio”, “0 Diário da Tarde”. É bem recebido pela comunidade local, onde despontava o poderoso chefe político Fernando Abbot, e é em São Gabriel que casa com a senhora Anita Banali, filha de um casal de italianos originários do Tírol.
A boa repercussão de seus artigos no interior do Estado consolidou seu perfil de jornalista. Já a faceta de escritor regionalista, que surgiria com seu primeiro livro do gênero, “Terra Gaúcha” (1914), não foi resultado de uma tendência pessoal, mas antes, de um modismo da época. O Rio Grande, marginalizado do resto do País pela política de “Café com Leite” da República Velha, via no regionalismo uma espécie de auto-afirmação.
Após uma breve experiência como colaborador no jornal “A Noite”, fixa residência definitiva em Porto Alegre como jornalista no “Correio do Povo”, de Caldas Jr.
Os anos vinte chegaram com mudanças acentuadas à capital gaúcha. Com um aumento da massa migratória, inicia-se um processo de urbanização.
Mas tudo isso contrastava com o arcaico regime político da República Velha, especialmente no Rio Grande do Sul, isolado do resto da Nação pelo regime áustero, positivista e autoritário de Borges de medeiros, eterno Governador do Estado. Assim, a oposição ao “Chimango”, como era chamado Borges de Medeiros na época, começava a ganhar vulto.
Roque Callage, nessa altura, já reconhecido como jornalista e escritor regionalista, especialmente pelo lançamento de dois novos livros “Crônicas e Contos” (1920) e “Terra Natal” (1920), este editado pela Editora Globo, a maior editora de então, adere ao crescente movimento de contestação ao Governo Borges de Medeiros.
Em 1922, Borges resolve se candidatar mais uma vez ao Governo do Estado, contando, como sempre, com métodos fraudatórios de eleição.
Todavia, dessa feita, há um fato novo: forma-se uma aliança entre vários segmentos da sociedade gaúcha para estimular uma oposição organizada. É o veterano político, Assis Brasil, quem desafia Borges na disputa nas urnas.
Fraciona-se, assim, o Rio Grande, entre “Assisistas” e “Borgistas”. É nesse clima que o escritor é preso no café “A Barrosa”, reduto dos assisistas, vindo a ser solto logo depois, por nada ter sido provado contra ele. Mas esta experiência pessoal, certamente, viria a acirrar ainda mais a sua posição anti-governista.
Quando se anuncia o resultado nas urnas, a revolta é geral. Borges é declarado vencedor pela comissão apuradora de votos, que, a seu turno, é acusada de fraude eleitoral pela oposição.
A disputa nas urnas, transforma-se em disputa em armas. A oposição, liderada por Assis Brasil, adere à revolta armada para impedir a posse de Borges no Governo do Estado.
O escritor, que durante o período de rebelião acompanhou algumas forças revolucionárias pelo interior do Estado, reuniu episódios reais da campanha militar para enfeixá-los em um pequeno livro, “O Drama das Coxilhas” (1923), onde narra, em forma de crônicas, a história da fase revolucionária. (O livro seria editado em São Paulo por Monteiro Lobato em 1930).
A Revolução duraria onze meses, até a pacificação do Estado pelo Governo Federal.
Com a pacificação, retornou às suas atividades de jornalista, no agora recém criado (1925), “Diário de Notícias”, onde assinaria uma coluna chamada “A Cidade”, com sugestões e críticas sobre a urbanização de Porto Alegre; de escritor, com o lançamento de novos livros “Vocabulário Gaúcho” (1926), “Quero-Quero” (1927) e “No Fogão do Gaúcho” (1929), todos editados pela “Livraria do Globo”.
As discussões, antes políticas, agora seriam literárias. Com o surgimento do “Modernismo”, os escritores regionalistas sentiram-se no dever de reagir. É assim que vamos encontrar Roque Callage numa sátira aos Modernistas como “autores de versos sobre Bundas Rebolantes que Rebolam”.
Em 1930, finalmente uma Revolução, liderada pelo Rio Grande do Sul, viria derrubar o eixo Minas-São Paulo que constituía a República Velha.
É exatamente sobre esse acontecimento, que escreveria seu último livro “Episódios da Revolução” (Outubro de 1930).
Figura de sua época, Roque Callage coincidentemente, morreu com ela, em maio de 1931.
Não viu, assim, o novo papel que o Rio Grande do Sul assumiria no país, com a Revolução de 1930, sob o comando de Getúlio Vargas.
Roque Callage, jornalista e escritor, foi cronista do seu tempo, intérprete do Rio Grande da Chinoca, da Querência, do Galpão.
Assim como do Rio Grande do Caudilho, do Cavalo e da Revolução.
Livros de Roque Callage
Prosas de Ontem (1908)
Escombros (1910)
Terra Gaúcha (1914)
Terra Natal (1914)
Crônicas e Contos (1920)
Rincão (1921)
O Drama das Coxilhas (1923)
Vocabulário Gaúcho (1923)
Quero-Quero (1927)
No Fogão do Gaúcho (1929)
Episódios da Revolução de 1930 (1930)
(Fonte: http://www.paginadogaucho.com.br)