Rose era uma das principais representantes do movimento feminista no Brasil
Rose Marie Muraro (Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1930 – Copacabana, Rio de Janeiro, 21 de junho de 2014), intelectual, escritora e editora, uma das principais representantes do movimento feminista no Brasil
A intelectual nasceu praticamente cega, mas conseguiu estudar – cursou Física – e escreveu 44 livros. Nas décadas de 1970 e 1980, foi pioneira ao liderar o movimento feminista no País. Rose também atuou como editora, tendo publicado mais de 1.600 livros nas editoras Vozes e Rosa dos Tempos. Trabalhou com Leonardo Boff durante 17 anos.
Rose Marie aprendeu desde cedo a lutar contra as dificuldades, físicas e sociais, com força. Nasceu praticamente cega, e somente aos 66 anos conseguiu recuperar parcialmente a visão com uma cirurgia. Estudou Física, foi escritora e editora de livros, assumindo a responsabilidade por publicações polêmicas e contestadoras.
Ao longo da vida, escreveu 44 livros — como “Os seis meses em que fui homem” (1993), “Por que nada satisfaz as mulheres e os homens não as entendem” (2003) — que venderam mais de 1 milhão de exemplares. Em 1999, ela contou sua história na autobiografia “Memórias de uma mulher impossível”.
Em longa carreira como editora, Rose Marie 1.600 livros na editora Vozes e, mais tarde, na Rosa dos Tempos (filiada à editora Record).
Amigo pessoal, o teólogo Leonardo Boff trabalhou ao lado de Rose Marie entre os anos 1970 e 1984, na editora Vozes, de onde foram afastados de seus cargos pelo Vaticano. Para Boff, Rose Marie estabeleceu inovações analíticas “sem precedentes” sobre o estudo da mulher. Parte significativa de seus estudos foram reunidos no livro “Sexualidade da mulher brasileira: corpo e classe social no Brasil” (1996), considerado um clássico.
— Ela introduziu a questão da classe social no estudo de gênero, ela foi a primeira mulher a estudar de forma sistemática a sexualidade da mulher brasileira a partir da situação ou classe social — diz Boff. — Ela inaugurou esse discurso, nem Freud ou qualquer analista europeu atingiram esse ponto. Tudo isso foi resultado de uma ampla e minuciosa pesquisa de campo.
Juntos, Rose Marie e Boff assinaram, em 2002, o livro “Masculino / Feminino”, onde investigaram juntos a relação entre os gêneros.
— A Rose elevou a questão do gênero a um novo patamar, pois não considerava o masculino e o feminino como realidades que se contrapõem, mas como instâncias fundamentais, onde cada um é completo em si mas voltado para o outro, numa relação de reciprocidade e construção conjunta — diz.
Em trecho do documentário “Memórias de uma mulher impossível”, lançado em 2009 por Marcia Derraik, Rose Marie explica: “O assunto mulher era um assunto sem importância para os militares e para a sociedade como um todo. O pessoal não sabia da existência do feminino. Ah, essa daí lida com mulher, essa daí não é perigosa, tem filhos pequenos, só tá na igreja, então essa daí não vamos perseguir. Já nos anos 60 eu dizia: eu também quero pôr fogo no mundo. Fui pôr fogo no mundo, fui ser editora. E eu vi que eram os livros que punham fogo no mundo”.
Rose Marie Muraro morreu em 21 de junho de 2014, aos 83 anos, no Hospital São Lucas, em Copacabana (zona sul do Rio). Rose tinha câncer na medula óssea havia mais de dez anos e, no dia 15, entrou em coma e desenvolveu uma infecção respiratória.
— Minha mãe lutou a vida toda por um mundo mais justo. E ela consegui fazer uma revolução por meio da literatura, o que é muito bonito. Foram muitas conquistas, e isso nos deixa muito orgulhosos — afirma uma de suas filhas, Tônia Gebara Muraro.
Segundo Tônia, graças aos esforços de sua mãe, será aberta em breve no Rio a primeira biblioteca especializada em estudos de gênero do Brasil. O espaço ficará dentro da sede do Instituto Cultural Rose Marie Muraro, que desde 2009 ocupa uma casa na Glória e é dirigido por Tônia.
A escritora e membro da Academia Brasileira de Letras Rosiska Darcy de Oliveira ressaltou sua perseverança em lutar pelo direito das mulheres:
— A Rose foi um grande nome de liderança na luta de todas nós mulheres. Foi, sem dúvida, uma das pessoas mais importantes do movimento feminista, mas levou o feminismo a um campo mais amplo, ao humanismo. A contribuição dela como intelectual e como militante foram enormes. Não é possível destacar uma obra apenas, mas sim o conjunto de sua produção. Além de uma intelectual, como pessoa era uma mulher de coragem, que enfrentou uma série de tabus e desafios — observa Rosiska.
— Ela enfrentava uma deficiência visual muito séria, enxergava pouco, mas isso nunca a impediu de fazer nada. Viajava pelo país inteiro para participar de seminários, debates, colóquios, onde sempre usou sua inteligência e poder de convencimento para mudar o modo como pensávamos as coisas. A Rose foi uma pioneira e teve seu reconhecimento como tal.
A presidente Dilma Rousseff lamentou a morte da militante, em comunicado divulgado via Twitter:
“Foi com tristeza que soube da morte de Rose Marie Muraro, ícone da luta pelos direitos das mulheres.”
Já o deputado federal Jean Wyllys enfatizou a busca da intelectual pela igualdade, em comunicado divulgado pelo Facebook:
“Rose definia sua luta como uma luta por um mundo solidário a tod@s, o que inspira todas as lutas por direitos humanos. Era clara em afirmar que não se trata de um conflito entre lados opostos, como os falastrões acusam para minimizar a questão.”
(Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2014/06/TRIBUTO – 21/06/2014)
(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/CULTURA – POR O GLOBO – 21/06/2014)