Fora do grupo
Rufino Tamayo (Oaxaca, 1899 – Cidade do México, 1991), artista mexicano, grande muralista político. Nascido em 1899 de pais índios, em Oaxaca, interior do México, Tamayo se manteve à margem do grupo e do ideário dos muralistas, mas obteve um renome comparável. Ativo trabalhador que não acredita em inspiração, um amador de canto, que chegou a obter certo prestígio com canções populares da revolução, e muitas vezes tido como “reacionário” pela inteligentsia de seu próprio país.
De reacionário a gênio, vários adjetivos tem sido usados para tentar classificar sua figura controvertida e indomável. Único sobrevivente de uma geração que projetou internacionalmente a arte mexicana do século 20, Rufino Tamayo expôs com sucesso em todo o mundo. Com o mesmo ânimo, investe contra os ilustres representantes da escola muralista mexicana: José Clemente Orozco (1883-1949), David Alfaro Siqueiros (1898-1974) e Diego de Rivera (1886-1957). E até mesmo se recusou a ser considerado como um deles. Sua posição inquestionada de figura mais importante do mundo artístico do país autorizou esses excessos. E tornou, ao mesmo tempo, de inevitável interesse a observação de sua produção. Rufino Tamayo foi um dos primeiros artistas latino-americanos, juntamente com representantes do “Grupo dos Três” famoso (Rivera, Siqueiros e Orozco), atingiu um alívio e uma difusão genuinamente internacional.
A serviço do povo Fiçho de pais de origem zapoteca, Tamayo nasceu em Oaxaca em 1899. Órfão desde os 8 anos, foi recolhido por uma tia com quem se mudou para a Cidade do México. Na adolescência, vendia frutas no mercado, fazia estudos de comércio e frequentava, às escondidas, a Academia de Belas-Artes. Logo o academismo o irritou, e ele preferiu aprender, por conta própria, as lições dos movimentos de vanguarda da época: o pós-impressionismo, o cubismo, o expressionismo. Em 1921, tornou-se chefe da seção de desenho etnográfico do Museu de Antropologia do México, num decisivo golpe de sorte. Trabalhava sobre material das civilizações pré-colombianas, entrando assim em contato direto com as raízes culturais de seu país.
Data de 1933 seu primeiro mural, no Conservatório de Música do México. Já nessa época, a arte do mural se transformara na forma de expressão por excelência dos grandes artistas da nação. Influenciados por ideias esquerdistas, resolveram colocar sua arte a serviço do povo, falando de suas epopeias, de seus sofrimentos, de sua revolução. Ao mesmo tempo, recusavam a pintura de cavalete, o consumo de telas únicas por parte de colecionadores. Seu desejo, como escreveria mais tarde Siqueiros, era uma arte pública por natureza, destinada a chegar às multidões. Com ela encheram prédios e mais prédios públicos em todo o país. Além disso, tornaram-se famosos por suas atitudes pessoais. Siqueiros, por exemplo, participou de um atentado contra Trótski, na década de 30, e até pouco tempo antes de sua morte esteve preso por sua participação em movimentos operários.
Nada disso interessava, no fundo, a Rufino Tamayo. Formado nos Estados Unidos e na Europa, dividindo o tempo entre Nova York e o México, consagrado em 1950 na Bienal de Veneza, ele preferiu acrescentar às fontes mexicanas certas influências cosmopolitas, sobretudo do cubismo e de Picasso. Mas não abandonou, de todo, as reminiscências do folclore mexicano e a crítica costumava destacar seu colorido, original, vivo, às vezes brutal.
(Fonte: Veja, 28 de abril de 1976 Edição n° 399 – ARTE Pág; 122)
(Fonte: Veja, 5 de outubro de 1977 Edição n° 474 – ARTE Pág; 115/116/117)