Ryuichi Sakamoto, lendário compositor de trilhas sonoras japonês que, entre seus prêmios, levou o Oscar pela música do filme “O Último Imperador”, de Bernardo Bertolucci

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Ryuichi Sakamoto, célebre compositor que levou o Oscar por ‘O Último Imperador’

Esta foto de arquivo de 15 de fevereiro de 2018 mostra o compositor japonês Ryuichi Sakamoto em Berlim © Stefanie LOOS

 

Ryuichi Sakamoto, lendário compositor de trilhas sonoras japonês que, entre seus prêmios, levou o Oscar pela música do filme “O Último Imperador”, de Bernardo Bertolucci.

O compositor japonês, pioneiro da música eletrônica e autor de várias trilhas sonoras de filmes, entre as quais a de O Último Imperador, é considerado avô da eletrônica e do hip hop por conta das experimentações que conduziu no começo da carreira. Em 1980, ele lançou dentro do segundo álbum, “B-2 Unit”, a faixa “Riot in Lagos”, que é considerada um dos primeiros exemplos de eletro-funk da história, e pioneiros do gênero como Afrika Bambaata e Kurtis Mantronik declararam nos anos seguintes terem o disco como referência.

 

A inventividade de suas composições o levaram ao cinema, onde não só trabalhou nas trilhas sonoras como até atuou. A estreia aconteceu em 1983, quando desempenhou as duas funções em “Furyo: Em Nome da Honra”, de Nagisa Oshima. No filme, ele vivia o antagonista, o capitão Yonoi, que buscava informações dos prisioneiros de guerra, entre eles um vivido por David Bowie, em uma prisão japonesa da Segunda Guerra Mundial.

Tanto na encenação quanto na música, o filme era dominado por uma atração sexual reprimida. Enquanto formava com Bowie uma relação entre a repulsa e a sedução, leva à tona pelo fetiche do militarismo, a trilha sonora de Sakamoto para o filme era baseada no teclado, com distorções de sintetizadores dando vazão ao tom frio e, paradoxalmente, pulsante da narrativa. O trabalho rendeu um Bafta ao artista no ano seguinte.

O sucesso de “Furyo” impulsionou a carreira do artista, que aumentou a produção durante os anos 1980 sem deixar de continuar experimentando na forma. A fama o aproximou de outros nomes celebrados da época, como David Byrne e Iggy Pop, que colaboraram em suas produções solo.

O compositor nessa época ainda explorou novos segmentos da música, incluindo o movimento futurista italiano, mas continuava mostrando interesse em estilos tradicionais. O álbum “Beauty”, de 1989, é prova disso, combinando elementos do pop japonês da época com canções tradicionais da região de Okinawa, enquanto contando com participações do porte de Brian Wilson, ex-integrante do Beach Boys.

Sakamoto entrou de vez para o imaginário do cinema com as colaborações com Bertolucci. Além da alardeada trilha sonora de “O Último Imperador”, em que voltou a trabalhar com Byrne, o artista ainda foi responsável pelas composições de “O Céu que nos Protege”, de 1990, e “O Pequeno Buda”, de 1993. Ele ainda fez parte do júri do Festival de Veneza de 2013, presidido por Bertolucci na época.

Ele se tornaria um nome muito solicitado na indústria durante a década de 1990. Entre outros trabalhos, Sakamoto foi responsável pela música de “De Salto Alto”, dirigido por Pedro Almodóvar em 1991; a adaptação de “O Morro dos Ventos Uivantes” de 1992, com Juliette Binoche e Ralph Fiennes; e de “Tabu”, de 1999, o último filme dirigido por Nagisa Oshima.

Brian De Palma foi outro diretor marcante na carreira de Sakamoto, que compôs para dois filmes do cineasta americano. Foram dois projetos, nos filmes “Olhos de Serpente”, de 1998, e “Femme Fatale”, de 2002. Embora tenham sido mal recebidos na época do lançamento, ambos são considerados produções cult atualmente.

Sakamoto teve três casamentos durante a vida, incluindo a pianista e vocalista Akiko Yano, com quem esteve relacionado oficialmente entre 1982 e 2006. Mas ele manteve um relacionamento amoroso com a agente, Norika Sora, desde 1990, e dois anos antes havia decidido viver separado de Yano, e conviveu com ela até a morte.

O artista tinha grande admiração pelo Brasil, em especial Tom Jobim. Ele veio ao país em 1995, quando fez um show com Caetano Veloso de homenagem ao fundador da bossa nova, repetindo a dose depois com Gilberto Gil.

Sakamoto ainda lançou em 2001 o disco “Casa”, feito com o casal de músicos Jaques e Paula Morelenbaum, gravado no antigo lar de Jobim e que celebrava a bossa nova. O álbum acabou na lista de melhores do ano do New York Times, com imensos elogios da crítica.

O artista seguiu equilibrando projetos solos com colaborações para o cinema nas últimas duas décadas de vida. Filmes alardeados como a refilmagem de “Hara-kiri”, de 2011, e “O Regresso”, de 2015, ganharam com composições minimalistas e cada vez mais tradicionais. Mesmo com o câncer, Sakamoto continuou produzindo —a dedicação rendeu um documentário sobre sua pessoa, “Coda”, em 2017.

No cinema, seus últimos trabalhos foram nos filmes “Love After Love”, de 2020, e “Beckett”, de 2021, além do inédito “Monster”, novo longa-metragem de Hirokazu Kore-eda.

Sakamoto lançou o último álbum, “12”, em janeiro deste ano. A obra, feitas apenas de faixas com títulos numéricos, foi elogiada por suas composições, que no uso experimental de sintetizadores mostram um artista consciente de seus últimos passos.

 

Vida e obra

Sakamoto nasceu em 1952, em Tóquio, e cresceu imerso na arte – seu pai era editor de alguns dos mais importantes romancistas japoneses.

Ele despontou no final dos anos 1970 como tecladista do grupo de música eletrônica Yellow Magic Orchestra. Suas inovações serviram como base para vários gêneros da música eletrônica contemporânea como o synth-pop, o house e o hip-hop.

O conhecimento por parte do grande público veio por sua aproximação com o cinema. O compositor ficou famoso pela trilha sonora feita para o filme Merry Christmas, Mr. Lawrence (1983), no qual também atuou ao lado de David Bowie. A consagração veio em 1988, quando ele ganhou o Oscar pela trilha sonora de O Último Imperador (1987), de Bernardo Bertolucci.

Sakamoto também trabalhou com Brian de Palma, em Olhos de Serpente (1998) e Femme Fatale (2002), e com Pedro Almodóvar – sua trilha para De Salto Alto lhe rendeu, em 1992, um Kikito no Festival de Cinema de Gramado. Mais recentemente, ele trabalhou com Alejandro Iñárritu e compôs a trilha de O Regresso (2015).

O artista colaborou ainda com músicos como Iggy Pop, Cesaria Evora, Caetano Veloso e Youssou N’Dour.

No Brasil

Sakamoto fez sua estreia em palco brasileiro em 2001. No ano seguinte, após ter transitado pelo tecnopop, música erudita e world music, ele lotou o Royal Albert Hall para apresentar um CD que gravou, com Jaques Morelenbaum e Paula Morelenbaum, na casa de Tom Jobim (1927-1994).

Em entrevista à BBC na época, ele contou o que o fascinou na música do brasileiro. “É uma música muito controlada. É calma, tem piano e a paixão está toda escondida. É como um oceano, quase sem ondas, mas com muita coisa acontecendo debaixo d´água. É como o canto de João Gilberto, você pode ouvir a paixão, mas ela está escondida dentro da música.”

Nesta mesma entrevista, ele revelou ainda que seu primeiro contato com a música de Tom Jobim foi quando ele tinha entre 11 e 12 anos e estava tendo lições de piano. “A música de Jobim era diferente de tudo que eu conhecia, como Bach, Beethoven e até os Beatles. Foi também nessa época que conheci Debussy e Ravel. Desde então eles dois e Jobim são parte de uma mesma família para mim.”

Ryuichi Sakamoto voltaria ao Brasil em outras ocasiões. Em 2012, ele se apresentou no Festival Sónar, em São Paulo, e em 2017 veio para a inauguração da Japan House.

Além da música, o artista se engajou em causas ambientais e fez parte do movimento antinuclear japonês, especialmente após o acidente na usina de Fukushima, em 2011. Ele chegou a organizar um espetáculo com apresentações do YMO e do grupo alemão Kraftwerk, para protestar contra o uso de energia nuclear. Ele também fundou a ONG More Trees.

Sakamoto faleceu na sexta-feira, 28, vítima de câncer, aos 71 anos.

Em 2014, o artista anunciou que havia sido diagnosticado com câncer na garganta. Ele se afastou do trabalho para fazer o tratamento, mas depois voltou a ser apresentar – no Brasil, inclusive.

A música esteve presente na vida de Sakamoto até o fim, disse a família no comunicado sobre sua morte. Recentemente, em 2020, no início da pandemia de covid-19, ele fez, online, um belo “concerto para os isolados”, disponível no YouTube.

(Crédito: https://www.msn.com/pt-br/musica/noticias – MÚSICA / NOTÍCIAS / por Estadão conteúdo / COM AFP – 1°/04/23)(Crédito: https://www.msn.com/pt-br/musica/noticias – Folha de S.Paulo/ MÚSICA / NOTÍCIAS/ por PEDRO STRAZZA – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – 1°/04/23)

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