Morreu o histórico líder comunista espanhol Santiago Carrillo
Santiago Carrillo, secretário-geral do Partido Comunista de Espanha entre 1960 e 1982
O seu percurso político confunde-se com meio século de história espanhola e europeia. É uma longa viagem que começa na insurreição das Astúrias (1934) e na Guerra Civil (1936-39), se prolonga num estalinismo estrito e depois na rebelião contra Moscovo no fim dos anos 1960, culminando a vida com um papel central na transição democrática de 1976-78.
Líder das Juventudes Socialistas, é preso após o fracasso da revolução asturiana. Adere ao Partido Comunista em Novembro de 1936, quando as tropas franquistas chegam às portas de Madrid. Com 21 anos, é nomeado comissário da Ordem Pública da Junta de Defesa de Madrid, com a missão de eliminar a quinta coluna, ou seja, coordenar a repressão dos sediciosos. É nesta fase que ocorre um dos muitos crimes de guerra que marcaram o conflito. Ao longo de Novembro são executadas 2500 pessoas, na maioria militares presos, em Paracuellos de Jarama, arredores de Madrid. É a matanza de Paracuellos. Carrillo atribuiu a responsabilidade a grupos incontrolados. Nunca foi convincente.
Derrotada a República, exila-se. É protegido por Dolores Ibárruri, La Pasionaria, que dirige o PCE a partir de 1942. Sucede-lhe em 1960 como secretário-geral. Na tradição estalinista, marginaliza ou expulsa os críticos que ameaçam o seu poder. Mas, em 1968, desafia a URSS de Brejnev ao condenar a invasão da Checoslováquia. Associa-se ao italiano Enrico Berlinguer na liberalização ou aggiornamento do comunismo europeu, sob a etiqueta de eurocomunismo.
Franco morre em 1975 e Carrillo reentra clandestinamente em Espanha. Depois da nomeação de Adolfo Suárez como chefe do governo e o início do processo de transição, o líder comunista decide criar um fato consumado dando uma conferência de imprensa pública. Encontra-se depois com Suárez que, por sua vez, cria um outro fato consumado: a legalização do Partido Comunista no Sábado Santo de 1977, provocando a cólera dos meios militares. Carrillo vai desempenhar um papel fulcral, ao lado de Felipe González e Suárez, na reconciliação nacional, no reconhecimento da monarquia e na aceitação da bandeira espanhola.
Torna-se uma figura reconhecida na Espanha democrática. Mas o papel do PCE e de Carrillo depressa se esgota. Nas primeiras eleições democráticas, os socialistas do PSOE afirmam-se como força dominante da esquerda. Carrillo vê a sua liderança contestada. As eleições de 1982, em que o PSOE ganha a maioria absoluta e o PCE se vê reduzido a quatro deputados, marcam o seu fim.
É forçado a demitir-se da liderança. Mas não se resignou com a perda do poder. Será expulso do partido em 1985. Passou o resto da vida a escrever e a dar entrevistas: era uma testemunha da História.
(Fonte: http://www.publico.pt/Mundo – 18.09.2012 – – Por Jorge Almeida Fernandes)