Saul Bass, conhecido por seu trabalho de designer gráfico no cinema e abertura de filmes.

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O solitário do traço

Bass: valorizando os filmes

Saul Bass, com títulos de mestre e audácia visual, deixa uma obra única e sem herdeiros

SAUL BASS - O SOLITÁRIO DO TRAÇO (Foto: We Are Movie Geeks/Divulgação)

SAUL BASS – O SOLITÁRIO DO TRAÇO (Foto: We Are Movie Geeks/Divulgação)

Saul Bass (Bronx, Nova York, 8 de maio de 1920 – Los Angeles, 25 de abril de 1996), designer gráfico e cineasta, mais conhecido por seu trabalho de design gráfico no cinema e abertura de filmes, pelo qual é considerado por muitos como um paradigma dessa atividade.

Ele passou a maior parte da sua vida lutando contra o relógio e combatendo o desinteresse do público, que fica conversando fiado ou comendo pipoca enquanto o filme não começa. Raramente teve mais de escassos três minutos para anunciar nos letreiros dos filmes a ideia do que seria mostrado em seguida, fundindo criações visuais com os nomes das equipes técnicas.

Ele fundou uma arte, mas não deixou herdeiros. Os diretores de hoje, como os notáveis Steven Spielberg e Oliver Stone, acreditam até que os créditos são uma velharia herdada da literatura e devem ser jogados no fim dos filmes, quando a plateia já está indo embora. Para eles, não faz diferença. Para Saul Bass, era toda a diferença.

Quando ele desenhou os créditos de Carmen Jones, a pedido do diretor Otto Preminger, em 1954, esse ofício era praticamente coisa morta, limitando-se a mostrar letras douradas sob um fundo de veludo vermelho. Às vezes aparecia uma mão virando as páginas de um livro nas quais estavam escritos os nomes da equipe.

Pois a sintérica Carmen de Bass não era nem um pouco inferior à exuberante Carmen de Preminger. Mostrava uma rosa acariciada por uma chama e que acaba desaparecendo, devorada pelo fogo, assim como a Carmen de carne e osso morreria depois assassinada pelo amante.

“A embalagem é o produto”, ele dizia na época. “Mas meus filmes – eu os chamo assim – têm de se integrar nos filmes para os quais foram feitos. Não podem existir como acréscimos.” Começava ali uma nova arte de um artista único, em todos os sentidos, e Bass entrou em grande moda.

MINIMARAVILHAS – Se hoje se lembrar que nestas mais de quatro décadas apenas outro designer, Maurice Binder, fez nome e carreira (Charada, os primeiros filmes de James Bond) criando créditos para filmes, compreende-se a solidão em que Bass passou a maior parte de sua vida. Filho de judeus russos, ele frequentava as rodas artísticas mais exclusivas de Nova York, onde nasceu em maio de 1920, quando cometeu um ato de barbárie imperdoável para aquela gente chique e esnobe – mudou-se para o distrito mais famoso de Los Angeles, Hollywood, considerada a meca da cafonália artística. Foi porque lá havia dinheiro e principalmente filmes em penca, que abriam campos imensos para o desenvolvimento de novas técnicas visuais. Sempre achou que teve sorte ao encontrar as pessoas certas. “Preminger era um vienense de extremo bom gosto e muita cultura”, lembrou Bass sobre o diretor com o qual colaboraria outras doze vezes, algumas inesquecíveis, como Bom Dia, Tristeza (1957, uma pétala que se transforma numa lágrima no rosto de Jean Seberg, imitando inúmeras vezes) e Anatomia de um Crime (1959, um corpo desmembrado sob um fundo vermelho, imitado depois em Irmãos de Sangue, de Spike Lee).

O impressionante portfólio de Bass inclui, entre outros, O Pecado Mora ao Lado, West Side Story e A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (cujos créditos vinham no fim), sobre o qual um crítico escreveu, maldosamente: “Este admirável curta-metragem é precedido de um prólogo que dura três horas e nada acrescenta à compreensão da obra de Saul Bass”. Já famoso como criador de pequenas maravilhas superiores aos produtos principais, Bass teve suas experiências mais famosas – e mais polêmicas – com Alfred Hitchcock.

EM GRANDE FORMA – As caprichadas e multicoloridas espirais que abrem Vertigo (Um Corpo que Cai, 1958) são unanimemente consideradas da estatura da obra-prima que o filme todo é. Em Psicose, dois anos depois, Bass foi mais longe. Desenhou plano por plano uma das mais famosas sequências da história do cinema, o do assassinato de Janet Leigh, esfaqueada debaixo de um chuveiro, com 74 posições de câmara em menos de um minuto. “Achei que era só um crimezinho bem feito, mas quando vi o filme em cinema, ao lado de outras pessoas, é que fiquei fascinado e apavorado com o seu feito”, contou Bass. Ele diz que, além de desenhar, dirigiu a sequência.

Hitchcock negou, afirmando que Bass sugeriu umas poucas cenas e elas não foram usadas. Bass invocou o testemunho de técnicos presentes à filmagem. Hitchcock insistiu. É difícil desempatar a disputa. Os dois agora estão mortos.

Bass, que também desenhou sequências para Spartacus e Grand Prix, criou a pintura de aviões, rótulos de alimentos e empresas (Warner, AT&T, Exxon) e copos de papel, entre muitos outros itens.

Em 1974, abandonou os letreiros, “Cansei de me ver em cada esquina”, disse ele sobre as imitações. Deve-se a Martin Scorsese o mérito de tê-lo feito mudar de ideia em O Cabo do Medo, Os Bons Companheiros, A Idade da Inocência e Cassino.

Neste, com sua arrasadora abertura de fogo, luzes, néon, a música do genial Georges Delerue e um corpo caindo em câmara lenta, Bass despede-se em grande forma.

Quando Saul Bass faleceu de câncer em Los Angeles, dia 25 de abril de 1996, foi como se tivesse perdido as duas batalhas. Ele fundou uma arte, mas não deixou herdeiros.

(Fonte: Veja, 8 de maio de 1996 – ANO 29 – Nº 19 – Edição n° 1.443 – ARTE/ Por Geraldo Mayrink – Pág; 152/153)
(Fonte: http://tecnologia.terra.com.br/internet – NOTÍCIAS – TECNOLOGIA – INTERNET – 08 de Maio de 2013)

Alguns designers parecem dominar o mundo silenciosamente. É o caso do saudoso norte-americano Saul Bass. Você pode não conhecê-lo, mas certamente conhece seu trabalho. Sua obra pode ser vista na televisão, DVDs, aeroportos, supermercados, revistas, esquinas, toda parte. Sua genialidade está impressa em pôsteres de cinema, créditos de filmes clássicos, logomarcas de empresas multinacionais e postos de gasolina. Fora os muitos imitadores de sua arte.

Saul Bass ficou conhecido primeiro pelos pôsteres de filmes. Em O Homem do Braço de Ouro (1955), de Otto Preminger. Como o filme trata de um personagem viciado em heroína, o cartaz foi um pouco chocante para a época, pois a figura do braço, associado à droga injetável, não disfarçava nem um pouco o tema da história.

No pôster do filme Um Corpo que Cai (1958), de Alfred Hitchcock, era freqüentemente apontado como um dos melhores cartazes de todos os tempos.

Outra outra-prima dos pôsteres de cinema: o cartaz do filme Anatomia de um Crime (1959), de Otto Preminger. Com trabalhos assim, Bass ajudou a criar a identidade visual dos anos 1950.

O pôster de Amor, Sublime Amor (1961), de Robert Wise. Os créditos de abertura do longa, que mostram a ilha de Manhattan vista de cima, também foram concebidos por Bass.

Saul Bass gostava dos ângulos e linhas retas (ou quase), mas também sabia usar as curvas, como no pôster, do filme Amigos São para Essas Coisas (1971), de Otto Preminger.

A fonte utilizada em muitos dos pôsteres de Bass, hoje chamada de Hitchcock, também é uma de suas marcas registradas, presente no cartaz de Bom Dia, Tristeza (1958), de Otto Preminger.

No pôster de Bass para O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, não é tão utilizado quanto o que mostra o rosto de Jack Nicholson, mas é igualmente marcante e menos óbvio. A parceria de Bass com Kubrick começou em Spartacus (1960), filme cuja seqüência dos créditos iniciais é assinada pelo designer.

O cineasta Otto Preminger gostou tanto do pôster que Saul Bass fez para seu filme O Homem do Braço de Ouro (1955) que o convidou para desenhar também os créditos iniciais do longa. O trabalho é simples, elegante e provocador – as linhas brancas penetram a tela preta como agulhas, uma referência ao vício em heroína do personagem principal.

O diretor Otto Preminger foi um dos mais frequentes parceiros profissionais de Saul Bass. As imagens dos créditos de Anatomia de um Crime (1959), inconfundíveis, feitos por Bass.

A cena inicial de créditos criada por Saul Bass para o filme Intriga Internacional (1959), de Alfred Hitchcock, mostra uma série de linhas paralelas, que depois se revelam desenhadas a partir da fachada de um edifício moderno, espelhado, que reflete os carros de uma rua com tráfego intenso.

Antes de Saul Bass, quase ninguém prestava atenção aos créditos iniciais de um filme. Em muitos cinemas norte-americanos, as cortinas só se abriam para revelar a tela depois que os créditos já tivessem sido exibidos. Saul Bass mudou isso com sua genialidade. Ele fez dessa cena inicial uma possibilidade de expressão estética e uma introdução relevante à história, criando climas ou transmitindo idéias. É o caso da abertura que ele fez para Um Corpo que Cai (1958), filme de Alfred Hitchcock, dramática, cheia de suspense e com referências à vertigem de que sofre o personagem principal.

Os créditos que Saul Bass fez para Quanto Mais Quente Melhor (1955), de Billy Wilder, transmitem, logo de cara, a leveza do filme que se inicia.

Nos créditos iniciais de O Segundo Rosto (1966), de John Frankenheimer, Saul Bass mostra closes de orelhas, olhos e outros detalhes de um rosto, em referência a um dos temas do filme, a cirurgia plástica, e também para mostrar que, de muito perto, o ser humano é feio. A distorção das imagens pretende refletir a distorção da mente de quem pensa em alterar completamente sua fisionomia.

Saul Bass inovou em A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956), de Michael Anderson. Para esse filme, ele criou uma seqüência de créditos para ser exibida no final, tão graficamente rica que ninguém conseguia ir embora do cinema antes que os créditos tivessem sido exibidos. O recurso era inédito e é copiado até hoje por muitos cineastas. Essa seqüência de Bass resume o filme inteiro apenas com desenhos, que chegam até a esclarecer algumas situações.

Os créditos iniciais de Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, são indissociáveis da música tema do filme, composta por Bernard Hermann. Toda a movimentação na tela é casada com a música.

A participação de Saul Bass em Psicose foi muito além da cena dos créditos. O designer simplesmente concebeu a maneira como foi filmada a clássica cena do chuveiro, desenhando-a inteira em storyboard antes das filmagens. Bass chegou até a divulgar por aí que foi o verdadeiro diretor da cena, informação menosprezada por Hitchcock e questionada pela atriz Janet Leigh.

Saul Bass também se notabilizou pela criação de logomarcas que se tornaram célebres. Acima, você vê algumas delas: 1 – Quaker (1971); 2 – Kleenex; 3 – United Airlines (1973); 4 – Warner Communications (1972); 5 – Bell (1969); 6 – AT&T (1984); 7 – Continental Airlines (1968); 8 – Avery International (1990); 9 – Minolta (1978); 10 – United Way (1972).

Saul Bass também é o responsável pelo design dos postos de gasolina Esso/Exxon, onipresentes no mundo inteiro.

TRABALHOS INSPIRADOS NA OBRA DE SAUL BASS:
O design de Saul Bass não apenas fez história, mas também continua sendo admirado e imitado em toda parte. Abaixo, seguem apenas alguns exemplos mais famosos de peças de design assumidamente inspiradas no mestre:

Confeccionou o pôster do filme Irmãos de Sangue (1995), de Spike Lee

Pôster do filme Nó na Garganta (1997), de Neil Jordan.

Pôster do filme Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1999), de Guy Ritchie

Pôster do filme Queime Depois de Ler (2008), dos irmãos Joel e Ethan Cohen

Site de The Key to Reserva, maravilhoso comercial do vinho Freixenet dirigido por Martin Scorsese.

Abertura da telenovela A Favorita (2008), de João Emanuel Carneiro.

(Fonte: http://freakshowbusiness.com/2008/11/20/portfolio-saul-bass-1920-1996 – FreakShowBusiness – por Alexandre Santos – novembro 20, 2008)

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