Savitri Devi, mística fascista que admirava Hitler e defendia raça ariana

0
Powered by Rock Convert

Savitri Devi, a mística fascista que admirava Hitler

 

Pensadora nasceu na França, mas fez ‘carreira’ na Índia; ela desprezava todas as formas de igualitarismo e defendia raça ariana.

 

 

Savitri Devi nasceu na França, mas fez ‘carreira’ na Índia (Foto: Savitri Devi Archive)

 

 

Savitri Devi (Lyon, 30 de setembro de 1905 – 22 de outubro de 1982), mística fascista que admirava Hitler

Encontra-se referências em fóruns neonazistas a seus livros. Entre os mais mencionados, estão O Raio e o Sol, no qual a autora argumenta que Hitler era a reencarnação do deus hindu Vishnu, e Ouro na Fornalha, que incita os verdadeiros fiéis a acreditar no ressurgimento do nacional-socialismo.

 

 

Savitri Devi no ano de 1980 (Foto: Savitri Devi Archive)

 

Atraída por Hitler

 

Apesar do sári e do nome, Savitri era europeia, filha de mãe inglesa e pai grego-italiano. Nasceu na cidade francesa de Lyon, em setembro de 1905, e foi batizada com o nome de Maximiani Portas.

 

Desde a infância, desprezava todas as formas de igualitarismo. “Uma menina bonita não pode ser igual a uma menina feia”, disse ela a um interlocutor de Ernst Zündel, conhecido por negar o Holocausto, em 1978.

Conquistada pelo nacionalismo grego, chegou a Atenas em 1923, juntamente com milhares de refugiados deslocados pela campanha militar desastrosa da Grécia na Ásia Menor no fim da Primeira Guerra Mundial.

 

 

Savitri Devi usava joias com a suástica, símbolo do nazismo (Foto: Savitri Devi Archive)

 

 

Savitri culpava os aliados ocidentais pela humilhação da Grécia e pelo que considerava “punições injustas” impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes (1919), que encerrou oficialmente a guerra.

Em sua opinião, tanto a Grécia quanto a Alemanha eram vítimas, às quais se havia negado a legítima aspiração de unir todo seu povo em um único território.

Isso, combinado com um forte antissemitismo que dizia ter aprendido na Bíblia, fizeram com que desde muito cedo fosse identificada como uma nacional socialista.

Hitler era líder da Alemanha, mas, para Savitri, a ânsia nazista de erradicar os judeus da Europa e devolver à “raça ariana” sua legítima posição de poder também faziam dele seu “Führer” – palavra que significa líder em alemão.

Como os pensadores antissemitas do século 18, Savitri culpava os judeus-cristãos por terem acabado com a glória da Grécia e a antiga utopia mítica dos arianos.

Em 1930, ela viajou para a Índia (à época ainda colônia do Reino Unido), em busca de uma versão viva do passado pagão da Europa. Estava convencida de que o sistema de castas mantinha a pureza da sociedade local – uma ideia partilhada por David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan, que também visitou Índia na década de 1970.

 

 

Nazismo e Hinduísmo

Adolf Hitler (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Uma mulher europeia viajando sozinha era tão atípico que as autoridades coloniais passaram a monitorá-la. Mas Savitri não mostrou interesse pelos britânicos na Índia até a Segunda Guerra Mundial, quando compartilhou informações sobre eles com o Japão.

 

Por outro lado, aprendeu várias línguas locais e casou-se um brâmane (casta sacerdotal hindu) – que ela considerava um ariano. Na Índia, escreveu uma elaborada síntese de mitos hindus e nazismo, na qual Hitler era apresentado como “um homem contra o tempo”, destinado a acabar com o Kali Yuga (período que aparece nas escrituras hindu associado à Idade das Trevas) e a começar uma nova era de supremacia ariana.

Em Calcutá, na década de 1930, Savitri trabalhou para a Missão Hindu – atualmente, um templo de bairro tranquilo, mas, naquela época, um centro de atividade missionária e nacionalismo hindu.

A politização das comunidades religiosas na Índia durante o domínio britânico ajudou a fomentar o movimento Hindutva, segundo o qual os hindus eram os verdadeiros herdeiros dos arianos e a Índia uma nação essencialmente hindu.

Savitri ofereceu seus serviços ao diretor da Missão, Swami Satyananda, que, assim como muitos indianos antes da independência, compartilhava sua admiração por Hitler, mesclando a propaganda nazista com o discurso nacionalista hindu.

 

 

Para Savitri, Hitler também era seu ‘Führer’ (líder, em alemão) (Foto: Associated Press)

 

 

Naquela ocasião, ela se dedicou a viajar por todo país realizando palestras em hindi e bengali. Pontuando suas lições sobre os valores arianos com trechos de Mein Kampf (Minha luta, livro escrito por Hitler).

Mas em 1945, arrasada pela queda do Terceiro Reich, Savitri retornou à Europa para trabalhar na reconstrução da Alemanha nazista. Sua chegada à Inglaterra é descrita em seu livro “Bigodes longos e a Deusa de duas pernas”, uma fábula infantil cuja heroína é uma nazista amante de gatos, como ela própria.

A heroína, Heliodora, “não tinha ‘sentimentos humanos’ no sentido ordinário da expressão”, escreveu. “Desde sua infância, ela se chocava com o comportamento dos homens em relação aos animais… mas não tinha a qualquer compaixão por pessoas sofrendo por serem judias”.

Camaradas nazistas

 

 

Savitri sempre deixou claro que preferia os animais aos humanos e, tal como Hitler, era vegetariana.

Em 1948, conseguiu entrar na Alemanha ocupada, onde distribuiu milhares de panfletos nos quais se lia: “Um dia nos reergueremos e voltaremos a triunfar! Tenham esperança! Heil Hitler!”.

Anos depois, Savitri declararia que ficou feliz em ser detida por autoridades de ocupação britânicas, já que a prisão possibilitou a ela se cercar de seus “camaradas” nazistas.

Durante a passagem pela prisão, reduzida graças à intervenção de seu marido junto ao governo indiano, ela se aproximou de uma ex-guarda do campo de concentração de Bergen-Belsen, condenada por crimes de guerra. “Uma mulher linda, uma ruiva mais ou menos da minha idade”, descreveu.

A sexualidade de Savitri sempre foi objeto de especulações. Seu casamento com Asit Mukherjee era supostamente celibatário, uma vez que não pertenciam à mesma casta.

Já a nazista Françoise Dior, sobrinha do famoso estilista, assegura ter sido sua amante.

Morte e ressurreição

 

Perto do fim da vida, Savitri Devi voltou à Índia, onde parecia se sentir em casa. No país, ela se dedicou a cuidar dos gatos de sua vizinhança, em Deli, alimentando os felinos todas as manhãs com pão e leite. Saía sempre com joias de ouro, tradicionalmente usadas por mulheres hindus casadas.

Savitri morreu, no entanto, na Inglaterra, na casa de uma amiga, em 1982. Dizem que suas cinzas foram enterradas, com honrarias fascistas, junto às do líder nazista americano George Lincoln Rockwell (1918-1967).

Françoise Dior fazendo a saudação depois de seu matrimônio em Coventry, na Inglaterra, em 1963 (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

E, embora na Índia seu nome tenha sido esquecido quase por completo, o nacionalismo hindu que ela abraçou e ajudou a promover está em alta, para preocupação de seu sobrinho, o jornalista veterano de esquerda Sumanta Banerjee.

“Em seu livro Uma advertência aos hindus , publicado em 1939, ela recomendava cultivar ‘um espírito de resistência organizada’. O alvo dessa resistência eram os muçulmanos, que Savitri via como uma ameaça aos hindus. E esse mesmo temor está vivo hoje”, explica Banerjee.

Além disso, a Hindutva também é a ideologia oficial do Bharatiya Janata, partido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que defende que muçulmanos e secularistas enfraqueceram a nação hindu.

Os porta-vozes do partido de Modi condenam a violência, mas os protestos que causaram a destruição da mesquita Babri, em Ayodhya, em 1992, e a atual onda de ataques, às vezes fatais, contra os muçulmanos e opositores contam uma história diferente.

Savitri Devi (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Já nos Estados Unidos, o racismo, o anticomunismo e a convicção dos cristãos fundamentalistas de que o apocalipse se aproxima também prepararam o terreno para o flerte da extrema direita com suas profecias ocultistas, que misturam hinduísmo e nazismo.

No país, como na Índia, o temor da maioria governista de perder o poder serviu como uma ferramenta efetiva de recrutamento.

“Desde meados do governo Obama, o fator mais importante na mente dos que se uniram ao Tea Party é a ideia de que os brancos estão perdendo privilégios”, diz o pesquisador e escritor Chip Berlet, para quem isso ajudou a engrossar as fileiras da extrema direita e grupos supremacistas brancos.

Narendra Modi (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

As obras de Savitri Devi já fazem parte da história tanto do nacionalismo hindu quanto da extrema direita europeia e americana, uma vez que seus textos excêntricos contêm – sem filtros e sem censura – todas suas ideias-chave.

Ideias como a de que os humanos podem ser divididos em “raças” que devem permanecer separadas e que alguns grupos são superiores a outros e têm mais direitos. Em seus textos, ela defendeu ainda que “grupos superiores” estão sob ameaça e que o período de trevas em que vivemos só chegará ao fim quando eles recuperarem o poder, voltando à mítica era dourada.

(Fonte:

(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/mundo – NOTÍCIAS – MUNDO – BBC / Por Maria Margaronis – 5 NOV 2017)

BBC BRASIL.com – Todos os direitos reservados.

Powered by Rock Convert
Share.