Economista especialista em disparidade de gênero ganha Nobel de Economia
Claudia Goldin, que em 1990 se tornou a primeira mulher a ser titular do Departamento de Economia de Harvard, é apenas a terceira a ganhar o prêmio
A vencedora do Nobel de Economia examinou as raízes da desigualdade salarial entre gêneros em um livro publicado em 1990
A terceira mulher a receber o Prêmio Nobel de Economia estuda principalmente a participação das mulheres no mercado de trabalho e a equidade entre casais
Claudia Goldin se torna a terceira mulher a ganhar o prêmio, depois de Elinor Ostrom em 2009 e Esther Duflo em 2019 (© Reba Saldanha/Reuters)
A historiadora econômica norte-americana Claudia Goldin ganhou o prêmio Nobel de Economia de 2023 por seu trabalho que examina a desigualdade salarial entre homens e mulheres, informou a Academia Real de Ciências da Suécia na segunda-feira (9).
A professora de Harvard Claudia Goldin se tornou a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel de Economia sozinha – isto é, sem compartilhar o reconhecimento com outro colega da área. Ela ganhou o prêmio por estudar, durante décadas, os obstáculos que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho rumo à igualdade salarial.
Em 2022, aos 76 anos, Goldin foi reconhecida pela Forbes como uma das mulheres mais bem-sucedidas na maturidade, figurando na lista 50 Over 50.
O prestigioso prêmio Nobel, formalmente conhecido como Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, é o último da safra de prêmios deste ano e vale 11 milhões de coroas suecas, ou pouco menos de US$ 1 milhão.
“A laureada de 2023 em Ciências Econômicas, Claudia Goldin, forneceu o primeiro relato abrangente dos ganhos e da participação das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos séculos”, disse o órgão que concedeu o prêmio em um comunicado.
“Sua pesquisa revela as causas da mudança, bem como as principais fontes da disparidade de gênero remanescente.”
Nobel de Economia 2023 vai para Claudia Goldin, por seus estudos sobre mulheres no mercado de trabalho
Professora da Universidade Harvard é a terceira mulher a vencer o prêmio.
O Prêmio Nobel de Economia de 2023 foi concedido a Claudia Goldin, professora da Universidade Harvard, por seus trabalhos sobre mulheres no mercado de trabalho. Ela é a terceira mulher a vencer o prêmio desde sua primeira edição, em 1969.
Claudia Goldin tem 77 anos, nasceu em Nova York (Estados Unidos) e é PhD pela Universidade de Chicago. Ela é codiretora do Grupo de Estudos sobre Gêneros na Economia do National Bureau of Economic Research (NBER).
Os estudos da vencedora mostraram que, parte da explicação para que, ainda hoje, ocorra uma grande disparidade salarial e de oportunidades entre homens e mulheres (gender gap, em inglês) é a fase da vida em que mulheres precisam tomar decisões importantes para suas carreiras, ainda muito jovens, quando devem fazer escolhas sobre assuntos como a maternidade, por exemplo.
“Se as expectativas das mulheres jovens forem formadas pelas experiências das gerações anteriores — por exemplo, das suas mães, que não voltaram a trabalhar até os filhos crescerem — então o desenvolvimento será lento”, afirma a instituição responsável pela premiação, em nota.
A vencedora vai receber o prêmio de 11 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de US$ 999 mil.
A pesquisa de Claudia Goldin recorreu a mais de 200 anos de dados nos Estados Unidos sobre a participação feminina no mercado de trabalho. Diferente do que a pesquisadora imaginava, essa participação não ocorreu de uma maneira ascendente, mas em uma curva em formato de “U”.
Até o século XVIII, as mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho por conta da própria dinâmica social: elas trabalhavam dentro das propriedades da família em uma sociedade agrária.
No entanto, no início do século XIX, com a transição para uma sociedade industrial — que levou ao trabalho fora de casa —, o percentual de mulheres casadas no mercado teve uma redução drástica.
O cenário mudou novamente no começo do século XX, quando o setor de serviços ganhou força e chamou, mais uma vez, as mulheres ao mercado de trabalho. Também foi nesse período que o nível de educação das mulheres passou a aumentar, ultrapassando, inclusive, os níveis de escolaridade dos homens em países desenvolvidos.
Além disso, Claudia Goldin demonstrou que o acesso à pílula anticoncepcional teve um importante papel para a aceleração dessa participação, já que ofereceu uma maior possibilidade para planejamento de vida e de carreira.
Mesmo com o método contraceptivo oferecendo a oportunidade de planejamento familiar, a maternidade ainda tem o poder de reforçar o gender gap. Isso porque as dinâmicas ainda presentes no mercado de trabalho tendem a dificultar a ascensão profissional das mães.
“Historicamente, grande parte da disparidade salarial entre homens e mulheres poderia ser explicada por diferenças na educação e nas escolhas profissionais. Contudo, Goldin demonstrou que a maior parte desta diferença de rendimento ocorre agora entre mulheres que exercem a mesma profissão, mas que surgem em grande parte com o nascimento do primeiro filho”, destaca a nota.
Terceira mulher a vencer o Nobel de Economia
Claudia Goldin é apenas a terceira mulher a ser laureada com o prêmio em 55 anos de existência.
A primeira mulher a vencer o prêmio foi a norte-americana Ellinor Ostrom, em 2009, por seus trabalhos que mostram que a empresa e as associações de usuários são às vezes mais eficazes que o mercado.
Só dez anos depois, em 2019, a segunda mulher foi laureada: a franco-americana Esther Duflo, que venceu o prêmio junto aos pesquisadores Abhijit Banerjee e Michael Kremer, por seus trabalhos no combate à pobreza. Ela também foi a pessoa mais jovem a receber o prêmio, com 46 anos.
Veja os vencedores dos últimos 10 anos do Nobel de Economia:
- 2022: Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig (Estados Unidos), por seus estudos sobre bancos e sua relação com as crises financeiras.
- 2021: David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens, por seus estudos para entender os efeitos de salário mínimo, imigração e educação no mercado de trabalho.
- 2020: Paul R. Milgrom e Robert B. Wilson (Estados Unidos), por seus trabalhos na melhoria da teoria e invenções de novos formatos de leilões.
- 2019: Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer (Estados Unidos), por seus seus trabalhos no combate à pobreza.
- 2018: William D. Nordhaus e Paul M. Romer (Estados Unidos), por seus estudos sobre economia sustentável e crescimento econômico a longo prazo.
- 2017: Richard Thaler (Estados Unidos), por sua pesquisa sobre as consequências dos mecanismos psicológicos e sociais nas decisões dos consumidores e dos investidores.
- 2016: Oliver Hart (Reino Unido/Estados Unidos) e Bengt Holmström (Finlândia), por suas contribuições à teoria dos contratos.
- 2015: Angus Deaton (Reino Unido/Estados Unidos) por seus estudos sobre “o consumo, a pobreza e o bem-estar”.
- 2014: Jean Tirole (França), por sua “análise do poder do mercado e de sua regulação”.
- 2013: Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre os mercados financeiros.
O prêmio
O prêmio de Economia, oficialmente chamado de “Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel”, foi criado em 1968 e concedido pela primeira vez em 1969.
A homenagem não fazia parte do grupo original de cinco prêmios estabelecidos pelo testamento do industrialista sueco Alfred Nobel, criador da dinamite. Os outros prêmios Nobel (Medicina, Física, Química, Literatura e Paz) foram entregues pela primeira vez em 1901.
O Nobel de Economia é o último concedido este ano. Os prêmios de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz já foram anunciados nos últimos dias.
Embora seja o prêmio de maior prestígio para um pesquisador em economia, o prêmio não adquiriu o mesmo status das disciplinas escolhidas por Alfred Nobel em seu testamento de fundação (Medicina, Física, Química, Paz e Literatura) – seus detratores zombam dele como um “falso Nobel” que representa economistas ortodoxos e liberais.
(Direitos autorais: https://forbes.com.br/forbes-mulher/2023/10 – FORBES MULHER/ por Reuters – 09/10/2023)
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5 descobertas que levaram Claudia Goldin a ganhar o Nobel de Economia
A terceira mulher a receber o Prêmio Nobel de Economia estuda principalmente a participação das mulheres no mercado de trabalho e a equidade entre casais
A economista norte-americana Claudia Goldin foi reconhecida com o Prêmio Nobel de Economia na segunda-feira (9) por suas contribuições na pesquisa sobre a mulher no mercado de trabalho – ela receberá quase US$ 1 milhão pela premiação.
Ela é professora da Universidade de Harvard – a primeira mulher a assumir o posto de professora titular da faculdade de economia em 1990 -, tem PhD em economia pela Universidade de Chicago e é formada na mesma área pela Universidade de Cornell, além de ser codiretora do Grupo de Estudos de Gênero na Economia do NBER (sigla em inglês de Bureau Nacional de Pesquisa Econômica National).
Na área da economia do trabalho, Goldin estuda dois temas principais: a participação feminina na força de trabalho e a economia do casal, com foco em como a organização do núcleo familiar influencia na desigualdade de gênero no trabalho. “A disparidade salarial entre gêneros diminuiu um pouco nas últimas duas décadas, mas não tanto quanto antes”, disse a economista em entrevista à Forbes sobre a equidade de gênero no mercado de trabalho.
Veja as cinco principais descobertas da economista ao longo de sua carreira que lhe renderam o Prêmio Nobel:
1. Disponibilidade incessante das mulheres para a família as prejudica no trabalho
O “greedy work” – trabalho ganancioso, em tradução livre –, que é um emprego que traz recompensas a funcionários sempre disponíveis, é um dos responsáveis pela desigualdade de gênero no contexto profissional. Ou seja, o funcionário que está disposto a trabalhar a qualquer hora – à noite, nos fins de semana, nas férias e fica de plantão no escritório – recebe as maiores recompensas.
Quando essas recompensas são desproporcionais ao tempo gasto – que pode até significar que, dobrando a jornada, os ganhos crescem na mesma proporção, ou até mais –, aqueles que não conseguem aumentar suas horas de trabalho ou estar disponíveis fora do horário comercial acabam prejudicados. Como mulheres são as mais responsáveis pelo trabalho doméstico e por responsabilidades familiares, segundo Goldin elas acabam recebendo menos de seus empregadores e tendo suas carreiras atrasadas.
2. A desigualdade no mercado de trabalho passa a afetar mais as mulheres alguns anos depois de terem o primeiro filho
O mais recente estudo de Claudia Goldin mostra que a diferença salarial entre homens e mulheres aumenta de forma mais significativa após o nascimento do primeiro filho, e que esse evento também muda como elas guiam suas carreiras. Quem é mãe geralmente reduz sua jornada de trabalho, tira licença após o nascimento dos filhos ou muda para empregos com menos demanda e maior flexibilidade. Isto é, elas investem em trajetórias e empregadores que prejudicam menos funcionários que decidem tirar licenças do trabalho. Essa relevante mudança de trajetória após terem um primeiro filho explica o por que das mulheres sofrem mais danos às suas carreiras por pelo menos uma década depois de darem à luz à primeira criança.
3. “O poder da pílula”: o anticoncepcional teve um importante papel para mulheres desenvolverem suas carreiras
Como uma historiadora da economia do trabalho, Goldin concluiu, em suas pesquisas, que a criação e oferta da pílula anticoncepcional foi fundamental para mulheres adquirirem formações cada vez mais avançadas e experiência profissional, deixando a criação de uma família para depois. Embora tenha sido aprovado para comercialização pela FDA (Food and Drug Administration, a Anvisa dos EUA) em 1960, a pílula só ficou amplamente disponível para as norte-americanas solteiras nos últimos anos desta década. Dados analisados no relatório de Goldin mostram que a parcela de mulheres na graduação aumentou de 10% em 1970 para para 36% em 1980, além das estudantes universitárias se casarem mais tarde – com menos de 30% nascidas em 1957 se casando antes dos 23, enquanto a porcentagem é de quase 50% para aquelas de 1950.
4. Desenvolvimento econômico não significou uma maior participação feminina na força de trabalho nos últimos 200 anos
A economista conclui, com uma das suas mais notórias descobertas que foi publicada no livro “Understanding the Gender Gap” (Entendendo a Desigualdade de Gênero, em tradução livre), que o desenvolvimento econômico global não levou a uma maior parcela feminina ocupando postos de trabalho remunerados e, muito menos, a uma diminuição de desigualdade salarial de gênero. Números que a proporção de mulheres que trabalham no século 18 é semelhante àquela do final do século 20, diminuindo no século 19 com a industrialização, que tornou mais difícil que as mulheres trabalhem de casa. Essa porcentagem só passou a crescer com a ampla oferta da pílula anticoncepcional no fim dos anos 1960, já que mulheres passaram a conseguir planejar suas formações com ter uma vida profissional e construir uma família.
Ao mesmo tempo, seguindo essa lógica, a pesquisa de Goldin também descobriu que a diferença salarial entre homens e mulheres era menor durante a revolução industrial (1820 e 1850), com uma alta demanda das fábricas por trabalhadores, do que entre 1930 e 1980, quando ter uma carreira que não interrompida por gravidez passou a ser mais valorizado pelo mercado. A pesquisadora ainda mostra, em 2010, que a redução da jornada de trabalho por causa da maternidade é um dos principais fatores da desigualdade salarial de gênero.
5. O trabalho flexível pode ser uma arma para a equidade de gênero no trabalho
Pela disponibilidade para o trabalho ser um dos principais elementos valorizados pelos empregadores, aqueles que têm tal flexibilidade são pagos desproporcionalmente mais do que quem não consegue trabalhar fora do horário comercial. Ou seja, a oferta de flexibilidade pelas empresas aos seus funcionários pode gerar menos penalidades às mulheres que precisam tirar tempo do trabalho para lidar com a família e estimular homens a também assumirem papéis de cuidado.
Entretanto, Goldin reconhece que as empresas têm que investir na cultura organizacional para oferecer flexibilidade aos seus funcionários – embora o desenvolvimento tecnológico e a transformação dos modelos de trabalho durante a pandemia tenham estimulado a flexibilidade – e muitas não estão dispostas a fazer isso.
“Se você consegue fazer uma reunião de negócios com um cliente de Tóquio ou Pequim sem pegar um avião, o trabalhador que precisa estar à noite em casa pode fazer isso – e a pessoa com essa necessidade é, na maioria das vezes, uma mulher”, disse a economista em entrevista para a Harvard Business Review. “O número de horas trabalhadas continua o mesmo, mas o funcionário tem mais controle sobre o seu tempo livre, como aqueles nos quais coloca o filho para dormir ou tem jantar com a família”.
(Direitos autorais: https://forbes.com.br/forbes-mulher/2023/10 – FORBES MULHER/ 5 descobertas que levaram Claudia Goldin a ganhar o Nobel de Economia/por Gabriela Guido – 10 de outubro de 2023)
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