Roberto Terzini, o primeiro brasileiro a completar o desafio Everest + Lhotse

No topo do Everest (8.849m) e do Lhotse (8.516m), duas das montanhas mais altas do Planeta. Foto: Arquivo Pessoal.© Fornecido por Go Outside

 

 

 

Nos dias 17 e 18 de maio, o brasileiro Roberto Terzini fez história ao se tornar o primeiro montanhista do País a completar o Double Header, um extraordinário desafio que envolve escalar em sequência o Everest (8.849m) e o Lhotse (8.516m), duas das montanhas mais altas do Planeta.

Vários alpinistas brasileiros profissionais já haviam tentado o feito, mas foi o montanhista de 33 anos, que escala sem nenhum tipo de patrocínio, que conseguiu chegar ao topo da primeira e da quarta montanha mais alta do mundo na mesma tacada, ou seja, em um mesmo ciclo de cume.

Nascido em São Paulo, Roberto Terzini Perez concilia a paixão pelas grandes altitudes com o trabalho como gerente de novos negócios do Google, em Nova Iorque, nos EUA, onde reside atualmente.

Nos últimos anos, ele vem perseguindo o sonho de completar os 7 Cumes, projeto que consiste em escalar as montanhas mais altas de cada continente, e desde então já esteve no topo do Kilimanjaro, na Tanzânia, do Aconcágua, na Argentina, do Denali, no Alasca, e do Monte Vinson, na Antártica. Com o Everest na conta, faltam apenas a Pirâmide Carstensz, na Papua Nova Guiné, e o Monte Elbrus, na Rússia, para completar o desafio.

Apesar de ser um montanhista amador, ou “de fim de semana”, como ele mesmo se descreve, Roberto conhece bem os perigos de uma alta montanha e por isso trata de não romantizar o esporte. Assim, a preparação até o “Teto do Mundo” levou dez anos.

“A primeira memória que tenho sobre realmente sonhar com o Everest, apesar de ter lido o livro No ar rarefeito, do Jon Krakauer, ainda moleque e ter surtado com a história, foi no terceiro dia da expedição ao Kilimanjaro, quando me apaixonei completamente pelo esporte e percebi que tinha gosto não só pelo desafio da viagem, mas também por toda a preparação”, relata o brasileiro.

Para quem não tem patrocínio ou é guia de montanha, como no caso de Terzini, a empreitada do Everest pode custar muito dinheiro. Por isso foram precisos dez anos de poupança mensal com foco nesta expedição, e tudo feito sem pressa para tornar a missão mais assertiva possível.

“Eu sabia quais empresas eu confiava e em quais condições eu toparia tentar esse desafio. A escalada ao Everest custa pelo menos uns US$ 40 mil (R$ 190 mil) entre permissões, logística, comida, oxigênio, guia e sherpas. Sem contar os equipamentos”, conta o alpinista.

Além do planejamento financeiro, foi preciso investir na preparação física e mental. Nos meses que antecederam a viagem, a corrida teve um papel crucial nesta história e a Maratona de Nova Iorque serviu como um teste para o desgaste que poderia enfrentar na montanha.

“Junto com o treino específico de montanha, a maratona super traduziu para mim como poderia ser o Double Header”, relembra Terzini, que não pensava em fazer o Everest + Lhotse há alguns anos.

Antes, seu objetivo era escalar o Everest pelo lado norte, no Tibete, uma escalada considerada ainda mais desafiadora. No entanto, quando a China fechou as fronteiras por conta da pandemia, os planos mudaram para a rota do Nepal.

“Escalar o Everest já seria um sonho, e descobrir que poderia finalmente colocar o Brasil no topo do Everest e Lhotse na mesma temporada foi a cereja no bolo”, diz.

 

O grande dia

A escalada do Everest dura em média dois meses, entre ciclos de aclimatação e espera pela janela de tempo ideal. “Tudo em um ambiente hostil, com uma quantidade enorme de variáveis fora do controle pessoal”, destaca o montanhista.

Por isso, Beto também precisou estabelecer uma base psicológica e emocional sólida, que forneceu resiliência para encarar os imprevistos da viagem. “É um erro comum no Everest. Pessoas que ignoram esse lado acabam voltando mais cedo por não terem se preparado mentalmente para o tranco dos dois meses”, conta.

Foram ao todo 50 dias de aclimatação, em uma das temporadas mais caóticas e mortais de todos os tempos no Monte Everest. No dia do cume, Terzini enfrentou temperaturas de -20ºC a -40ºC e sensações térmicas que beiraram -50ºC, testemunhando muitos alpinistas sofrerem de congelamento.

Mais do que um momento leve e feliz, o cume do Everest representou pra ele a importância de manter-se calmo em situações de risco, controlar a respiração e focar no que importa. “Chegando no acampamento 4, desabei com a consciência de tudo que tinha rolado aquela noite”, destacou o montanhista.”

 

Por conta de uma noite bem mais fria do que o normal, o brasileiro, que durante a ascensão teve a companhia do guia Pasang Tendi Sherpa, teve sua máscara congelada e as últimas horas do ataque ao cume ao Everest foram praticamente sem oxigênio.

“A minha máscara e do Pasang pararam de funcionar no Cume Sul e a última 1h30 de escalada foi a mais difícil da minha vida – foco no controle do medo, respiração e no terreno mais técnico dos últimos trechos do Everest pra chegar ao topo e pegar máscaras reservas”, conta.

Mais do que um momento leve e feliz, o cume do Everest representou pra ele a importância de manter-se calmo em situações de risco, controlar a respiração e focar no que importa. “Chegando no acampamento 4, desabei com a consciência de tudo que tinha rolado aquela noite”, destacou o montanhista.

Ainda assim, ele teve fôlego para escalar o Lhotse. Após o cume, foram pouco mais de três horas de descanso até partir para mais um dia de subida, em uma missão que durou entre 14 e 16 horas. “O objetivo era subir o Lhotse e descer para o Camp 2 do Everest no mesmo dia. A escalada foi incrível, sem muitos sustos, fora uma rocha que descolou da parede e atingiu a face de um escalador que estava conosco”, relata.

Voltando à rotina, depois de levar os limites físicos e mentais ao limite, Roberto já se prepara para voltar a rotina de trabalho em Nova Iorque e também planejar a próxima empreitada, mas antes disso dá um recado para quem sonha em se tornar um montanhista.

“Em uma época em que vivemos conectados o tempo todo, com a sensação de que o mundo acelera cada vez mais, eu realmente acredito que o montanhismo tem muito a ensinar para todos nós. O planejamento, a jornada ser mais importante que o cume, a conexão direta com a natureza e a importância de preservar esses sistemas; a relação com o nosso corpo através do preparo físico, se conectar com o presente, viver só com aquilo que se carrega na mochila. Seja através do trekking, da escalada em rocha ou de ir acampar no fim de semana”, finaliza o montanhista.

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/viagem/noticias – Go Outside/ VIAGEM/ NOTÍCIAS/ por Alexandre – 12 de junho de 2023)