Se tornou uma das primeiras superestrelas negras do mundo na música clássica

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O pianista André Watts, foi uma das primeiras estrelas negras da música clássica

Intérprete virtuoso, Watts era também um músico de grande carisma

O pianista André Watts em sua casa em Manhattan em 1968. “Há algo de belo em ter um público inteiro pendurado em uma única nota”, disse ele certa vez. (Crédito da fotografia: Cortesia © Copyright Neal Boenzi/The New York Times/ REPRODUÇÃO/ DIREITOS RESERVADOS)

 

André Watts (Nuremberg, Alemanha, 20 de junho de 1946 – em Bloomington, Indiana, 12 de julho de 2023), foi um pianista com uma técnica impressionante e com um talento especial para cativar o público, para o emocionar,  o pianista afro-americano que tocou nas principais salas de concerto do mundo e que, graças ao seu virtuosismo técnico “inquestionável” e ao seu “charme magnético”, assim, se tornou uma das primeiras superestrelas negras do mundo na música clássica.
Ainda que não gostasse de falar sobre questões raciais, Watts não pode deixar de ser visto como um pioneiro neste universo exclusivo, abrindo as portas para outros intérpretes não-brancos que atingiram o estrelato depois dele.
Filho de um homem negro, militar no Exército americano, e de uma mulher branca, uma pianista húngara — algo pouco comum para quem nasceu em 1946 —, André Watts passou boa parte da sua infância na Europa, tendo começado a estudar Música aos quatro anos, pelo violino, instrumento que trocou definitivamente pelo piano, aos seis.
Dois anos mais tarde, o seu pai foi colocado nos Estados Unidos, país onde a família se radicou, passando a viver em Filadélfia. O casamento dos pais não duraria e, aos 13, Maria Alexandra Gusmits e Herman Watts divorciaram-se. O pai desapareceria da vida do jovem músico nas décadas seguintes, o que aumentou a influência da mãe, que, consciente do talento do filho, teve vários empregos para poder pagar as suas aulas de piano.
Naqueles primeiros anos, Maria Alexandra Gusmits era também a professora de Watts e a sua agente, impondo uma disciplina férrea.
O trabalho árduo acabou por compensar. Em 1963, com apenas 16 anos, ganhou um concurso cujo prémio era aparecer num programa televisivo com o maestro Leonard Bernstein e a Filarmónica de Nova Iorque. O mítico Bernstein ficou impressionado com a forma como um Watts ainda adolescente tocava Liszt.
Bernstein e aquela primeira aparição televisiva tinham feito dele um músico que importava acompanhar, facto que saiu reforçado quando o maestro o convidou, semanas depois, para substituir um pianista importante que deveria actuar com a Filarmónica – nada mais nada menos do que o grande Glenn Gould.
“A minha maior satisfação é tocar em concerto”, disse o músico ao mesmo diário norte-americano em 1971, quando tinha já 25 anos. “O ego faz parte desta satisfação, mas está longe de ser tudo. Atuar é a minha forma de fazer parte da humanidade — de partilhar.”
Foi também ao impulso de Leonard Bernstein que atribuiu o facto de ter sido bem aceite no meio da clássica, tradicionalmente um feudo de músicos brancos nascidos em famílias com dinheiro e posição social.
Apesar do ter tido visto o seu talento reconhecido quase que imediatamente, Watts continuou a trabalhar na sua formação, licenciando-se em 1972 na Universidade de Johns Hopkins, em Baltimore, onde estudou com o também pianista e maestro Leon Fleisher. Quando recebeu o seu diploma, era já um rosto conhecido no circuito internacional de concertos, onde atuava interpretando Liszt, o seu preferido, Chopin ou Saint-Saëns.
Nem todos os críticos apreciavam o seu estilo, que muitos consideravam demasiado exuberante, emocional, mas não havia quem não reconhecesse o seu talento para comunicar com as pessoas através do piano. Um talento “misterioso” que, escreveu Harold C. Schonberg no The New York Times em 1970, “não se ensina”.
As gravações não lhe corriam tão bem como os concertos – era o público que trazia ao de cima o melhor de si, dizia.
O seu desejo de ser cada vez melhor via-se a cada concerto, dizem os maestros que com ele trabalharam, mas também nas aulas que dava enquanto professor na Universidade do Indiana, a cujos quadros pertencia desde 2004. Também aí, o seu exemplo inspirava outros jovens negros que aspiravam chegar aonde ele tinha chegado.
“Sempre que estávamos juntos no palco, havia este reconhecimento tácito de que estávamos num mundo onde muitas pessoas achavam que não devíamos estar”, recorda agora o maestro Thomas Wilkins, que também é negro. “Era uma forma de marcar uma posição.”
André Watts faleceu na quarta-feira 12 de julho de 2023 na sua casa em Bloomington, Estados Unidos, aos 77 anos, devido a um cancro na próstata, revelou a sua mulher.
(Créditos autorais: https://www.publico.pt/2023/07/15/culturaipsilon/noticia – CULTURA ÍPSILON/ MÚSICA/ por PÚBLICO – 
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