Colecionador obsessivo
“Tanto a psicanálise quanto a arqueologia deveriam trazer à luz do dia, após seu longo sepultamento, as inestimáveis, ainda que mutiladas, relíquias da antiguidade.”, escreveu Freud.
Sigmund Freud (Příbor, 6 de maio de 1856 – Londres, 23 de setembro de 1939), considerado o pai da psicanálise. Médico vienense que estudou a base do conceito de psicanálise, a investigação profunda dos processos mentais e de seus distúrbios neuróticos.
Ao longo de cerca de quarenta anos, os neuróticos que se deitaram no mais célebre divã da História – o do doutor Freud – não conviveram ali apenas com as próprias misérias, desfiadas diante do silêncio clínico.
Hibernada em sua mudez milenar, entronizada por Freud no consultório para decorá-lo e também com as esperança de induzir os pacientes a soltar a língua, uma coleção de esculturas antigos abarrotava todos os cantos do ambiente.
Desde a Viena do fim do século XIX, quando comprou sua primeira obra de arte antiga, até pouco antes de morrer, Freud juntou mais de 2 000 peças, na maioria belas e autênticas.
Longe de esbanjar dinheiro, Sigmund Freud era colecionador parcimonioso, que não hesitava em pechinchar antes de pagar o que considerava justo pelos objetos, não era assim por pura sovinice.
Quando era médico remediado, pai de seis filhos em idade escolar, ainda sustentava o velho pai, Jacob. Foi justamente depois da morte de Jacob, em 1896, que Sigmund pode dedicar seus trocados à coleção de arte.
Freud e seus contemporâneos cresceram lendo as notícias arqueológicas estampadas debaixo de manchetes garrafais nos jornais vienenses.
O futuro médico nutria especial predileção pelo escavador e arqueológo alemão Heinrich Schliemann, que, vasculhando os territórios gregos cantados pelos poemas homéricos, descobriu túmulos recheados de tesouros em Tróia.
Em 1885, quando ainda cursava Medicina, Freud viajou para Paris. Lá, encantou-se particularmente com as obras de arte antiga do Museu do Louvre.
Na década de 30, quando o nazismo dominou a Europa, e os Freud se viram obrigados a pedir asilo à Inglaterra, Sigmund demonstrou seu pesar diante do risco de se perder sua coleção.
Temeroso de que os alemães confiscassem seu acervo, escolheu uma única obra para ser contrabandeada. Era a Atena de bronze, de 10 centímetros de altura, que ficava no centro de sua escrivaninha. Na mitologia grega, Atena representava a sabedoria e a guerra.
O suspense que os nazistas mantinham sobre a liberação da família Freud e de seu patrimônio terminaria em maio de 1938. Em seu novo endereço londrino em Hampstead, onde passou seu último ano de vida, o consultório de Freud foi remontado à semelhança dos aposentos vienenses.
Nessa altura da vida, já velho, doente e pessimista, Freud não podia mais fumar. Sofria de câncer na boca, que acabou por lhe extirpar parte da laringe. Seu único prazer era contemplar sua coleção. Além da filha e herdeira intelectual, Anna, tinha como única companhia suas estátuas e amuletos.
Freud morreu em casa, em 23 de setembro de 1939, de câncer, em Londres.
(Fonte: Veja, 10 de agosto de 1994 – ANO 27 – N° 32 – Edição 1352 – ARTE/ Por Ângela Pimenta e Virginie Leite – Pág; 124/125)
Morre em Londres, em 23 de setembro de 1939 Sigmund Freud, fundador da psicanálise aos 83 anos.
(Fonte: Zero Hora – ANO 50 – N° 17.516 – 23 de setembro de 2013 – Almanaque Gaúcho/ Por Ricardo Chaves – Pág; 38)